Crítica

Hilary Swank é uma atriz que nunca me convenceu. Seus dois Oscars – Meninos não Choram (1999) e Menina da Ouro (2004) – me parecem mais obra do acaso e das circunstâncias do que verdadeiro merecimento. Fora disso, tudo o que faz soa forçado e não natural. É só vê-la como namoradinha de comédia romântica em P.S. Eu te amo (2007), assustada no terror sobrenatural A Colheita Maldita (2007), dama de época em O Enigma do Colar (2001), femme fatale em Dália Negra (2006), heroína da aventura apocalíptica O Núcleo (2003) ou em personagens históricos como Amelia (2009) ou Escritores da Liberdade (2007). Em todos aparece sempre um tom acima, no limite do exagero, como se ao forçar os contornos de cada personagem conseguisse deixá-los mais vívidos e intensos. Quando que, na verdade, na maioria dos casos é justamente o contrário. Assim como neste A Condenação, um filme que poderia ser muito mais, mas acaba ficando pelo caminho.

Dessa vez ela aparece como Betty Anne Waters, uma mulher tão impossível que só na vida real poderia existir. Abandonados pela mãe irresponsável e sem ter a quem recorrer, Betty e o irmão, Kenny (Sam Rockwell, muito mais apropriado), são criados separados por famílias adotivas, até se reunirem quando adultos. Mas essa união não será duradoura, pois anos depois ele é acusado de um brutal assassinato e, sem ter como bancar um advogado experiente para defendê-lo, acaba sendo condenado à prisão perpétua, mesmo sem provas fortes o suficiente que comprovassem sua culpa. A irmã, nesse momento, toma uma decisão que irá mudar a vida dos dois: entrar na faculdade de direito para que ela mesmo possa salvá-lo daquele destino infeliz. E atrás desse objetivo permanece, arrastando marido, filhos e amigos consigo, por mais de dezesseis anos.

O grande problema de A Condenação é que se a protagonista é tão certa da inocência do irmão, o mesmo não pode ser dito da plateia, pois essa carece de argumentos e explicações que indiquem quem está, de fato, certo. Se ele é culpado – o que não se sabe, pois não há testemunhas, não se vê em cena o crime e ele nunca alega ser inocente – então ela é uma louca que jogou a vida fora em nome de uma crença vã. Agora, caso ele seja mesmo uma vítima do sistema, então a conjunção dos fatores é muito fraca, e a resolução final não só é óbvia como esperada. Claro que tudo pende para a segunda explicação – ainda mais por se tratar de um filme baseado numa história verídica. Mas faltou um roteirista mais experiente e um diretor tarimbado que conseguisse transformar esse episódio em algo mais do que um mero relato dos acontecimentos.

Tony Goldwin, o diretor, é mais conhecido por ter aparecido como o melhor amigo – e depois vilão – do casal Patrick Swayze e Demi Moore em Ghost – Do Outro Lado da Vida. Como realizador, no entanto, ele pouco tem a acrescentar no currículo. Já Swank parece ter apostado várias fichas nesse projeto – o qual assina também como produtora – em busca de algo que ressaltasse suas qualidades dramáticas. Todo esse esforço até teve algum resultado – conseguiu ser indicada ao prêmio do Sindicato dos Atores dos EUA como Melhor Atriz e quase entrou na lista final do Oscar – mas quem brilha mesmo são seus colegas de elenco, como as também indicadas Minnie Driver (Gênio Indomável, 1997), Juliette Lewis (Cabo do Medo, 1991) e a premiada Melissa Leo (O Vencedor, 2010), além de Rockwell.

Mais de uma vez já foi dito que “a ficção precisa ser verossímil, mas a realidade não”. Ou seja, na vida real coisas absurdas e inacreditáveis até podem acontecer – e elas acontecem, como bem sabemos! – mas ao transportá-las para o universo ficcional é preciso fazer uso de elementos de apoio que tornem determinado enredo mais palatável, crível e de melhor aceitação. Pois é justamente isso que faz falta em A Condenação: um trabalho mais cuidadoso de adaptação que torne uma história incrível em um filme digno de atenção. Do jeito que se apresenta, no entanto, tudo o que temos é um amontoado de clichês que não justifica nenhum dos talentos envolvidos ou qualquer mera curiosidade.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *