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Sinopse

Uma estranha nave passa a orbitar a Terra. No comando estão “os outros”, uma espécie alienígena disposta a dizimar a humanidade para tomar o planeta para si. Seu ataque, porém, vem em ondas. Retiram a energia elétrica, conduzem eventos cataclísmicos e promovem uma invasão de corpos para aniquilar o restante da população. Depois de quatro ondas de ataques, os sobreviventes se preparam para a quinta e derradeira investida. É nesse cenário que Cassie vai se aliar ao Coronel Vosch para achar o irmão mais novo em meio ao pandemônio.

Crítica

Exatos quinze após Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001) chegar às telas com incrível sucesso, uma nova franquia tenta se firmar no cenário hollywoodiano inspirada em um sucesso literário para adolescentes. A 5ª Onda, no entanto, foge do universo mágico do garoto que se descobre bruxo e evita desenhar um futuro distópico como Jogos Vorazes, Maze Runner ou Divergente, por exemplo. O tema da vez é uma invasão alienígena e o possível extermínio da raça humana, mais ou menos na linha de seriados como V: A Batalha Final (1983-1985) ou sucessos como Independence Day (1996) – sem, no entanto, conseguir a eficiência de um ou a destreza técnica de outro. Assim, reciclando argumentos desgastados e investindo em propostas inverossímeis, o longa assinado pelo desconhecido J Blakeson (cujo único crédito anterior é o inédito por aqui The Disappearance of Alice Creed, 2009) resulta em um anacronismo irritante e repetitivo, sem acrescentar nada de válido ao tema.

Insistindo na tecla cada vez mais recorrente – e puramente mercadológica – de que o umbigo do universo são os jovens de até 20 anos (protagonistas de todas as franquias similares), mais uma vez a escolhida para representar a última esperança da humanidade é uma garota que leva a vida entre flertes estudantis e ensaios como animadora de torcida, ainda antes de seguir para a faculdade. A trama começa com a chegada de naves extraterrestres que estacionam sob as principais cidades do mundo, porém sem estabelecer qualquer tipo de contato. A partir do suspense gerado por suas presenças, quatro “ondas” se sucedem, com resultados fatais: primeiro é o corte de toda fonte de energia, seguido por enchentes e tsunamis pelas regiões costeiras, depois uma epidemia de gripe aviária sendo transmitida por aves e pássaros e, por fim, a esperada invasão. Só que essa, quando acontece, se dá de modo dissimulado, com os invasores disfarçados de humanos, sem revelar sua verdadeira face. Em quem confiar, esse parece ser o verdadeiro problema.

Mas não demora muito para o espectador responder esta questão. Afinal, logo fica claro que a única pessoa em quem não se deve confiar é no diretor, responsável por levar às telas tantos absurdos. Qualquer um que fique um pouco mais antenado começará a perceber uma quantidade tão gigantesca de eventos sem sentido se repetindo em cena que a única saída digna será abandonar qualquer tentativa de raciocínio e simplesmente buscar por alguma diversão – o que, infelizmente, acaba não acontecendo. Chlöe Grace Moretz surgiu em Hollywood como uma criança talentosa – títulos como Kick-Ass: Quebrando Tudo (2010) deixaram isso claro. Mas à medida que os anos iam passando e seu status de estrela juvenil crescendo, suas escolhas foram se revelando cada vez mais desastrosas. Para cada Acima das Nuvens (2014) – no qual aparece apenas como uma coadjuvante de luxo – há diversos Carrie: A Estranha (2013) ou Se Eu Ficar (2014), entre outros deslizes. E A 5ª Onda é mais um desses passos em falso – e talvez o maior deles.

Os planos dos alienígenas nunca chegam a ser surpreendentes, personagens importantes (os pais da protagonista, por exemplo) são descartados sem muita cerimônia, e ninguém duvida por muito tempo das reais intenções do general interpretado por Liev Schreiber (o único ator de peso do elenco). Os dois pretensos galãs – um sonolento Nick Robinson e um insípido Alex Roe (O Chamado 3, 2017) – despertam empatia zero na plateia – o segundo é até obrigado a aparecer desnudo em uma constrangedora cena de “banho no rio” para tentar provocar alguma reação nas meninas e meninos na audiência – e a decisão de focar a narrativa em uma garota perdida na floresta enquanto alienígenas estão atacando o mundo é tão equivocada quanto ilógica. E o que dizer de Maria Bello, atriz de talento reconhecido, aparecendo em uma ponta descartável e sem nenhum destaque? O que uma pessoa não é capaz de fazer quando está com contas em atraso...

Quanto ao final, que se recusa a aparecer – afinal, este é apenas o primeiro capítulo, e por isso deixa sua conclusão em aberto – quando enfim surge, desperta uma ausência total de interesse pelo que vem depois. E se isso é tudo que se pode dizer de algo envolto em tamanha ambição, melhor seria enterrá-lo ao lado de outras vergonhas como Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos (2013), Dezesseis Luas (2013), A Hospedeira (2013) e Eu Sou o Número Quatro (2011) – pretensas franquias que possuem em comum uma ruindade crônica que as impediu de ir além do longa de estreia – e torcer para que não se repita o mesmo verificado na exceção que comprova a regra: a vergonhosa saga Crepúsculo. Afinal, esse aqui é ruim. Mas só pensar que pode ficar muito pior, este, sim, é o verdadeiro medo que provoca.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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