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Sinopse

Victor é um carreteiro que passa a horas vagas imaginando uma vida melhor. Esse rapaz trabalhador recebe uma proposta indecorosa: carregar sete caixas, de conteúdo desconhecido, e ganhar uma nota rasgada de cem dólares.

Crítica

Um celular com câmera é o que Victor (Celso Franco) mais quer. Ser reconhecido e ter uma fama nem se sabe pelo quê parece motivar o jovem entregador a levar sete caixas com um conteúdo desconhecido para conseguir cem dólares e, assim, adquirir o cobiçado aparelho. Ambientado no Mercado 4, na região central de Assunção, no Paraguai, 7 Caixas pode ser lido como crítica ao sonho de ascensão econômico e à sociedade de consumo, mas também é uma grande diversão feita nos moldes hollywoodianos. Ou seja, agrada gregos e troianos. Ponto para os diretores Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori, que transformaram o filme na maior bilheteria de todos os tempos do país.

Para seguir seu trajeto, é óbvio que Victor vai enfrentar percalços e, pelo seu caminho, cruzam todos os personagens clichês do gênero : do policial mulherengo e de ética duvidosa ao bandido que usa desculpas esfarrapadas para conseguir o suposto dinheiro que está nas caixas, passando pela melhor amiga e interesse romântico ao chefão soturno que atua por trás dos bastidores. Todos estão lá, porém, subvertidos e adaptados ao contexto sócio econômico do Paraguai. Em uma determinada cena, o que poderia ser uma fuga de automóveis em alta velocidade ao melhor estilo Guy Ritchie transforma-se numa corrida de carrinhos de mão. E este é apenas um dos pontos geniais do ótimo roteiro elaborado pela dupla de cineastas com Tito Chamorro.

Na corrida de 7 Caixas, o humor negro corre solto. Em uma determinada cena, um dos supostos donos da caixa e seu cozinheiro são assaltados enquanto esperam a entrega e seus celulares são levados. Quando Victor liga para saber onde eles estão, o ladrão atende e informa, educadamente, o local em que ficou a dupla. Isso que, a seguir, situações mais trágicas acontecerão, mas nem por isso menos engraçadas. Com isto, Victor parece um Hercules e sua Odisseia enfrentando vários percalços para chegar ao seu objetivo. E, spoiler quase subliminar: ele consegue, mesmo que não seja da forma que imaginou. Afinal, vale tudo pela fama. Ou não?

E o que há nas caixas? Ora, é quase um McGuffin: não é relevante para a história. Ainda que haja brincadeiras sobre se há dinheiro mesmo, pedaços de um corpo ou tomates, o que realmente importa são as situações em que os personagens se encontram ao longo deste dia repleto de maquinações e reviravoltas.  7 Caixas não atingiu o público e o reconhecimento de crítica à toa. Suas qualidades são muitas, do roteiro esperto às atuações beirando ao tragicômico chegando aos enquadramentos feitos com câmera na mão ou steady. Um marco na história do Paraguai e também para o mundo, que pode conhecer mais da filmografia deste país com um belo exemplar como esta produção.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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