Acontece no final de outubro, de 18 a 21, uma iniciativa inédita: o CineSerra – Festival do Audiovisual da Serra Gaúcha. Trata-se de uma mostra regional de cinema realizada em Caxias do Sul, a segunda maior cidade do Rio Grande do Sul que, curiosamente, não possuía seu festival cinematográfico até então. Com a mudança dessa realidade, jovens realizadores da região encontrarão neste evento espaço confirmado para a exibição e consagração, tanto de público quanto da crítica, sobre seus mais recentes trabalhos. Esta seleção de obras audiovisuais produzidos no Noroeste do estado compreenderá, num primeiro momento, três categorias competitivas: curta-metragem de ficção, curta-metragem documentário e videoclipe. Além da premiação dos melhores de cada categoria, serão realizados workshops de capacitação com profissionais de destaque nacional.

O CineSerra possui três lugares de exibição: Auditório da Faculdade da Serra Gaúcha, Sala de Cinema Ulysses Geremia – Centro Municipal de Cultura Ordovás, e Cinépolis San Pelegrino. Os títulos selecionados em cada categoria são os seguintes:

 

FICÇÃO

Não Antes das Eleições, de Fernando Menegatti (Bento Gonçalves)
Armada, de Filipe Ferreira (Caxias do Sul)
Proibido Falar Italiano, de Robinson Cabral (Caxias do Sul)
Todo o Vazio, de Filipe Traslatti de Mello (Caxias do Sul)
Al Cinema, de Lissandro Stallivieri (Caxias do Sul)
Amigas, de Joel Vianna (Caxias do Sul)
As Últimas Palavras, de Marcelo Andriguetti (Caxias do Sul)
O Corpo, de Pedro Nora (Caxias do Sul)
Amargor, de Daniel Ongaratto (Garibaldi/Carlos Barbosa)

Armada, de Filipe Ferreira

Nesta categoria, o óbvio destaque é Armada, pois foi premiado na Mostra Assembleia Legislativa de Cinema Gaúcho durante o 41° Festival de Gramado como Melhor Roteiro. Mas há outros títulos interessantes, como Proibido Falar Italiano, sobre um personagem ficcional envolvido com o fato verídico de que, após a Segunda Guerra Mundial, o Governo Brasileiro proibia que imigrantes dos países do eixo – como a Itália, por exemplo – falassem o idioma natal. Todo o Vazio e O Corpo são bons exemplos de curtas, com tramas diretas e soluções satisfatórias, donos de um visual que trabalha bem os elementos cinematográficos. Se Al Cinema parece estar na categoria errada – afinal, trata-se de uma ficção ou de um documentário? – e As Últimas Palavras carece de mais emoção, apesar das boas intenções, o mesmo não pode ser dito dos demais. Não Antes das Eleições e Amargor são confusos e frustram pela complexidade de suas histórias, enquanto que Amigas chega a ser inacreditável, despontando como o ponto negativo desta mostra.

 

DOCUMENTÁRIO

Un Baccio su Cristo, Il Santo su Pozzo, de Fernando Menegatti (Bento Gonçalves)
Profissão: Músico, de Daniel Ignácio Vargas (Caxias do Sul)
Zarabatana, de Robinson Cabral (Caxias do Sul)
Bicolores: Entre o Real e o Imaginário, de Douglas Barreto (Caxias do Sul)
De Outros Tempos, de Éverton Rigatti (Caxias do Sul)
Ponto Final, de Fernando Roveda (Caxias do Sul)
Tcheco, de Boca Migotto (Bento Gonçalves)
O Primeiro Raio de Sol, de Lissandro Stallivieri (Caxias do Sul)
Bruno Segalla, de Samuel Bovo (Caxias do Sul)
Gigante de Ferro, de Matheus Butzke Piccoli (Bento Gonçalves)
Eu sou mais eu, de José Martim Estefanon (Bento Gonçalves)

Tcheco, de Boca Migotto

Os documentários selecionados tratam de questões caras aos moradores dessa região gaúcha. Mas não se restringem somente ao local, estabelecendo um bom diálogo com o mundo. O melhor exemplo disso é Profissão: Músico, sobre as realidades dos profissionais dessa área no Brasil e também no exterior. Também artista foi Ana Mazzotti, cuja trajetória é resgatada em Eu Sou Mais Eu, dono de uma boa pesquisa, porém prejudicada pela falta de habilidade do realizador. O fervilhão cultural do bar Zarabatana é resgatado no doc homônimo, cuja proposta estética é seu maior mérito – mas também um elemento complicador, visto o uso desmedido da cor estourada. O Primeiro Raio de Sol é bonito, resgatando a história de uma família no distrito de Galópolis, próximo a Caxias, porém soa demais como um audiovisual institucional, sem maiores ambições artísticas. A estética é importante também em Bruno Segalla, que também se propõe a resgatar a história de um homem que fez diferença política e artística na cidade. Algo semelhante ao que pode ser visto em Tcheco, que nos remete à participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Gigante de Ferro, sobre o surgimento da estrada ferroviária no estado, possui um ótimo argumento e impressionante competência técnica, mas desperdiça a trama pela falta de foco no discurso. Os demais, por fim, podem ser válidos enquanto registro, mas se situam aquém de seus concorrentes.

 

VIDEOCLIPE

Milonga para los Perros (Projeto Ccoma), de Robinson Cabral (Caxias do Sul)
Faz-me (Grandfúria), de Filipe Traslatt de Mello (Caxias do Sul)
Sem Razão (Hábitos Groove), de Elias Carpeggiani (Flores da Cunha)
Inner Pain (Hecatombe), de Dêivis Horbach (Caxias do Sul)
Motivo (The Blues Beers), de Alex Milesi (Caxias do Sul)
Blood Red Sky (Joe Lynn Turner), de Ruy Fritsch (Caxias do Sul)

Milonga para los Perros, Projeto Ccoma

Dos seis vídeos musicais apresentados, o mais entusiasmante é o roqueiro Inner Pain, que trabalha os elementos visuais a favor da música, num ótimo diálogo com a trama narrada na canção. É o mais completo e criativo. Milonga para los Perros, do Projeto Ccoma, é bonito e elegante, porém carece de ‘algo a mais’ que o diferencie de tudo que já foi visto no gênero. Grandfúria e Hábitos Groove apresentam trabalhos interessantes, mas não muito envolventes. E por fim temos os vídeos de Joe Lynn Turner – músico americano, ex-guitarrista do Deep Purple, envolvido com a cena audiovisual gaúcha graças a um contato do seu produtor – e da banda The Blues Beers, ambos competentes, porém donos de um visual por demais tradicional. Para estes, faltou ousadia.

 

Convidada Especial

Um dos destaques da programação deste primeiro CineSerra é a participação da cineasta carioca Juliana Reis, que virá apresentar seu longa-metragem Disparos (2012), exibido como hors concours antes da cerimônia de premiação. Reconhecido no Festival do Rio do ano passado com os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante (Caco Ciocler), Fotografia e Montagem, teve passagem também pelo Festival de Cannes (Mercado do Filme). Inspirado num fato real, traz no elenco ainda Gustavo Machado, Dedina Bernardelli, Igor Rickli, Silvio Guindane e Gilberto Gawronski.

Confira a crítica de Disparos, por Robledo Milani

Confira uma entrevista exclusiva com a diretora Juliana Reis, que fala sobre esse seu primeiro trabalho como realizadora em longa-metragem

 

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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