O carioca Rodrigo Santoro é o mais internacional dos astros brasileiros. Além de uma consolidada carreira no cinema e na televisão nacional, já atuou em inglês e em espanhol. No seu mais recente trabalho, Meu País, de André Ristum, ele se arrisca também no italiano. Depois de uma série de aparições em novelas e minisséries, teve seu primeiro grande papel na tela grande em Bicho de Sete Cabeças (2001), pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Brasília. Desde então trabalhou com cineastas como Walter Salles, Hector Babenco, Daniel Filho, Walter Lima Jr, David Mamet, Zack Snyder, Pablo Trapero, Steve Soderbergh e Roland Joffé, além de ter atuado ao lado de nomes de destaque como Lázaro Ramos, Wagner Moura, Caio Blat, Demi Moore, Cameron Diaz, Helen Mirren, Emma Thompson, Laura Linney, Gerard Butler, Selton Mello, Benicio Del Toro, Jim Carrey e Ewan McGregor. Seus próximos trabalhos serão Heleno, sobre o famoso jogador de futebol brasileiro Heleno de Freitas e com José Henrique Fonseca na direção, What to expect when you’re expecting, em que faz par com Jennifer Lopez, The Blind Bastard Club, ao lado de Mickey Rourke e Lenny Kravitz, e o aguardado Last Stand, que irá marcar a volta do ex-governador Arnold Schwarzenegger aos cinemas! Antes disso tudo, no entanto, ele conversou com a imprensa em São Paulo sobre Meu País, um filme delicado e bastante sensível que promete fazer bonito junto ao público tanto no Brasil quando no exterior.

 

O teu personagem aparece sempre muito tenso, com grandes responsabilidades. Como foi esse trabalho de interpretação? Foi difícil, cansativo?

Boa pergunta! Eu não sei se “cansativo” seria a palavra certa para descrever o que senti, mas posso afirmar que foi uma espécie de ‘exercício zen’. Eu, como pessoa, sou de gesticular muito, me mexer, falar alto. Ou seja, sou muito diferente deste personagem. Então, o grande esforço foi mesmo em me conter. O cansaço foi mais mental, em me instruir num novo tipo de comportamento, de atitude, numa nova forma de me expressar. O Marcos é um cara muito centrado, eu não sou assim (risos).

 

Como foram as filmagens de Meu País?

Muito boas. Eu e o Cauã ensaiamos bastante, isso colaborou bastante para estabelecer a dinâmica entre os nossos personagens. Depois veio a Debora, que chegou meio em cima da hora, da mesma forma que aconteceria entre nós na história. E tivemos uma ajuda muito importante da Laís Correa, que foi a preparadora de elenco do filme. Ela foi definitiva no processo, nos ajudou bastante.

 

Como foi o preparo para as cenas na Itália?

O italiano foi um grande desafio, e uma das coisas que muito me interessou nessa história: a possibilidade de explorar a cultura italiana. Afinal, sou filho de italianos, meu pai nasceu na Itália, veio para o Brasil pequeno. Não cresci falando em italiano, a única referência que tinha era dos meus avós, que quando discutiam era na língua natal deles, justamente pra gente não entender (risos). Enfim, a língua já me era familiar, de alguma forma. Chego a compreender bastante, mas falar era outra história. Para o filme, especificamente, foram duas semanas de trabalho intenso, tive um professor de italiano, mas isso para treinar as falas, os diálogos que estavam no roteiro. E o André, o diretor, que é mezzo brasileiro, mezzo italiano, me ajudou bastante, assim como a atriz que interpreta a minha esposa, a Anita Caprioli, que é italiana. Eu estava bem cercado. Não cheguei a aprender a falar em italiano, obviamente, mas foi um mergulho maravilhoso nas minhas próprias raízes.

 

E foi confortável atuar em italiano?

Nunca é confortável, nem em português (risos). Nunca me sinto confortável, e acho que é um aspecto positivo. A partir do momento em que achamos que o jogo está ganho, a gente perde. Foi um trabalho constante, um desafio e um obstáculo a ser vencido. Estava sempre atento, e contando com o André ao meu lado, que escutava tudo o que eu dizia e impediu erros maiores. Mas era fundamental, este é um elemento muito interessante para o personagem, pois traz toda essa questão de alguém que mora fora, no exterior, tem todo um outro comportamento, ajudando a compor o que precisava ser transmitido.

 

O que Meu País significa para a tua carreira?

Isso é algo difícil de mesurar. Melhor falar em termos de experiência. A gente espera que o filme seja muito visto, mas só o processo de ter participado disso tudo já foi muito importante para mim. O convite veio do Fabiano Gullane, que é um parceiro antigo – com ele fiz Bicho de Sete Cabeças, meu primeiro longa-metragem de verdade, e também o Carandiru. Um dia o Fabiano me ligou dizendo que queria me mandar um roteiro, respondi que estava saindo de férias e ele disse que mandaria assim mesmo. Resultado? Passei a noite em claro lendo o material e as férias foram adiadas. Isso pra mim é um bom termômetro, gosto de ler antes de dormir. Se é interessante o suficiente para me manter acordado, então é um bom sinal de que devo aceitar. E foi o que aconteceu. Fiquei uma semana com aquilo na cabeça, sem saber o que fazer. Havia no texto elementos que me pegaram, como família, relacionamentos, afeto. Acho que estamos em um momento no mundo em que temas assim estão cada vez mais relevantes. Internet, globalização, as pessoas cada vez com mais acesso às notícias e cada vez mais voltadas a si mesmas. Achei que era importante discutir isso, de tratar das coisas mais simples e fundamentais da vida de um ser humano. A experiência foi incrível pelo italiano, por voltar às raízes, por trabalhar com um elenco maravilhoso, o Cauã, a Debora – que tinha um personagem super difícil para fazer. Sempre é mais complicado se desligar da tua imagem quando se é muito conhecido para criar algo novo, que era o que ela fez nesse filme. Tinha também o Paulo José, foi uma honra estar ao lado dele nessa participação especial, quase como um padrinho, abençoando nosso trabalho. Foi muito bom, e o que significou para a minha carreira foi um grande aprendizado.

 

Como foi atuar ao lado da atriz Anita Caprioli, que ao contrário dos demais do elenco era uma estranha a todos?

A Anita foi uma gentileza, uma pessoa muito doce e muito bacana. Ela veio pra cá umas duas semanas antes do começo das filmagens, foi suficiente para nos aproximarmos e nos conhecermos melhor. Ela foi muito paciente com o meu italiano (risos). Afinal, uma coisa é trabalhar com o texto, outra é se arriscar a falar. O que me atrapalhou muito é que já tive que atuar em espanhol (no filme Leonera, de Pablo Trapero), e dessa vez sempre que precisava me expressar em italiano acabava me confundindo. Mas ela foi muito generosa, sempre do meu lado, me escutando e me auxiliando. Foi uma grande parceira.

 

Qual tua opinião sobre o atual cenário do cinema brasileiro?

De algum tempo para cá o cinema brasileiro vem buscando e encontrando a sua identidade. Mais do que nunca o cinema nacional tem conseguido refletir a pluralidade da nossa cultura. Numa hora estão filmando Guimarães Rosa, logo surge outro com uma pegada mais emocional, como o Meu País. A diversidade tem sido mais explorada e a gente tem conseguido ver essa expressão. E este é um país muito plural, a nossa cultura é incrível. Na Bahia é uma coisa, no Rio Grande do Sul é outra completamente diferente. E as duas são fantásticas. Conseguir refletir essa pluralidade é muito importante, e estamos conseguindo fazer isso.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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