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O olhar afável e profundo de Jonas Bloch permite um pequeno vislumbre do que este grande ator brasileiro aprendeu e apreendeu em mais de meio século de um ofício que lhe é muito caro. Fosse nos palcos, televisão ou telas de cinema, este mineiro de Belo Horizonte provou que a arte pode ser maior que a vida, e o fez e continua fazendo de forma memorável. Desta forma, nada mais justa a distinção que o 20º Cine PE lhe agraciou durante sua programação de abertura, num emocional momento em que sua filha, a atriz Débora Bloch, surgiu da plateia para lhe surpreender e entregar o merecido troféu. Durante sua estada em Recife, o ator concedeu uma entrevista exclusiva ao Papo de Cinema, na qual falou sobre prêmios, seus próximos trabalhos no cinema e o que os 50 anos de carreira lhe ensinaram de mais precioso. Confira a seguir!

 

Qual a sensação em ser homenageado no Cine PE, ainda mais neste momento em que o festival completa 20 anos?
Para mim foi uma surpresa, fiquei muito honrado e orgulhoso, ainda mais por ser neste festival de tamanha importância. Eu fiz mais de 40 filmes, entre pequenas, médias e grandes participações, e por essa trajetória eu recebo essa homenagem com muita felicidade e emoção.

 

Como foi receber o troféu das mãos de sua filha, Débora Bloch, que seguiu seus passos profissionais e artísticos?
Eles me esconderam que minha filha, que está gravando uma série por aqui, seria a pessoa que me entregaria o prêmio. Eu sou muito emocional, mas eis que ela surgiu e entrou no palco, então não aguentei. Foi muito lindo, esse festival é mesmo muito lindo. Ela seguiu minha carreira, mas foi mais longe, como atriz, como empreendedora. É o que todo pai deseja que um filho alcance. Ela é motivo de muito orgulho.

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O que o senhor tem achado da estada em Recife? Pretende permanecer por aqui mais alguns dias?
Sim, tenho apreciado muito! Tenho um filme que será exibido como hors concours, Vidas Partidas (2016), que fala sobre a violência doméstica contra a mulher e a Lei Maria da Penha. Faço o advogado de acusação nesta produção.

 

O senhor ainda atua em algumas outras produções que foram ou serão lançadas este ano, certo?
Sim, estou em quatro filmes. Um deles é O Escaravelho do Diabo (2016), do Carlo Milani, que está em cartaz e é um filme bem elogiado, as plateias gostam muito. Será lançado em breve O Outro Lado do Paraíso (2015), do André Ristum, que filmamos em Brasília e estreia dia 2 de junho. Fiz uma participação em Doidas e Santas (2016), de Paulo Thiago, baseado no livro homônimo de Martha Medeiros, como um personagem que entra em algumas cenas, e também neste Vidas Partidas, de Marcos Schechtman.

 

E há algum trabalho para o cinema em andamento, que pode nos revelar?
Eu acabo de filmar uma produção que considero um dos melhores filmes que já participei. O título dele é O Rastro, que deve estrear no que vem, e tem direção do pernambucano João Caetano Feyer. O filme tem no elenco a Leandra Leal, Cláudia Abreu, Rafael Cardoso e Felipe Camargo, atores que admiro muito. É um filme com um roteiro (de Beatriz Manella e André Pereira) já premiado fora do país e que foi realizado de uma maneira muito bonita, muito cuidadosa. Estou muito feliz em ter feito parte deste projeto!

 

Quando está longe das telas do cinema e da televisão, o senhor está no teatro, certo?
Sim, atualmente estou nos palcos com uma peça de teatro, que ainda pretendo trazer para Pernambuco, com textos de Manoel de Barros. O título é O Delírio do Verbo, apresento sozinho estes textos e felizmente o espetáculo tem sido muito bem recebido.

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Quanto a essa transição entre cinema, teatro e televisão; o senhor versa muito bem por todas elas. Como se explica esta versatilidade para diferentes plataformas artísticas e qual é a sua favorita?
Eu fui formado numa época em que o ator era empostado, heroico, tinha uma postura acima da média que para o cinema não serve muito. Então sempre trabalhei para transformar essas características antigas, porque o cinema trabalha com o mínimo possível de interpretação e nuances, a tela grande revela qualquer coisa que o ator faça. Então, para mim, é motivo de muito orgulho ser convidado para tantos filmes, porque é uma resposta para o que eu buscava, de perder aquelas características antigas. Eu me dou muito bem com o teatro e com o cinema, mas com a televisão mantenho uma relação mais complicada.

 

E qual é sua relação atual com a televisão?
Agora mesmo acabo de encerrar um contrato de nove anos com a Record, que tentou renovar, mas eu não quis, porque esse período me afastou do cinema e teatro. O ritmo e a situação de gravações inesperadas não ajudam muito. Eu adoro fazer teatro porque você tem uma relação direta com o público, que é muito emocionante, e é necessária uma preparação muito grande. O teatro é a arte do ator, a televisão é a arte dos executivos e produtores e o cinema é a arte do diretor. Mas tenho encontrado diretores que trabalham mais próximos dos atores e se preocupam com a interpretação, isso é muito gratificante, o resultado do trabalho é melhor. O diretor que se preocupa apenas com o enquadramento, com a luz, está perdendo algo essencial, que é quem conta a emoção de sua história. A televisão me incomoda muito quando o texto não é bom e pelo ritmo que ela mantém. Às vezes, os atores, pelo volume de cenas e pela carga enorme de trabalho, vão perdendo o cuidado com os detalhes. Mesmo assim, nós somos malabaristas; eles mandam quatro ou cinco bolinhas, a gente dá conta e ainda sorri para a plateia.

 

Dentre os filmes dos quais participou, tem algum trabalho que lhe é mais caro e especial?
Você passa por transformações na vida, como ser humano e como ator. Então tem horas que você vê um trabalho antigo e pensa que, se fosse hoje, você faria de outra maneira. Este meu último trabalho, O Rastro, tenho a impressão que vai ser bem interessante e gratificante. Fiz um filme que atualmente está bloqueado com o Carlos Reichenbach, chamado O Paraíso Proibido (1981), que foi muito bom, assim como O Dia da Caça (2000) e Cabra Cega (2005). Fui indicado pelo Amarelo Manga (2002) ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, mas não recebi; sou o campeão de indicações a prêmios que não recebo (risos), mas isso não quer dizer nada. Já ser indicado é o suficiente, é um destaque ótimo, e sempre depende muito do gosto do júri e tudo mais. E o que seria da música brega se todo mundo só gostasse de Mozart?

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Qual foi a lição mais importante que estes mais de 50 anos de carreira lhe ensinaram?
Existe uma frase do Guimarães Rosa que eu gosto muito, que diz que a realidade não está na partida ou na chegada, mas na travessia. Então o que me interessa é o durante, em que as coisas acontecem, a vida se manifesta. Temos que estar sempre alertas, colocando a vida para cima!

(Entrevista feita ao vivo em Recife durante o Cine PE 2016)

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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