Ingra Liberato está, mais uma vez, em evidência. Em cartaz por todo o país em Valsa para Bruno Stein (2008), voltou a ser notícia também com o relançamento da novela Pantanal, pelo SBT. Gosto de pensar nela como uma querida amiga. A conheço desde 2005, quando ela protagonizou As Vidas de Maria (2005), de Renato Barbieri. Apesar dela estar morando, na ocasião, há um tempo em Porto Alegre (devido ao casamento com o músico Duca Leindecker, da banda Cidadão Quem), foi somente no lançamento deste filme que conversamos pela primeira vez. E desde então, sempre que nos encontramos, é com um sorriso nos lábios que sou recebido.

Ingra, uma baiana nascida em Salvador em 1966, estreou na televisão em 1989, numa pequena participação na novela Tieta, da Rede Globo. Mas foi somente na extinta Rede Manchete que ela conheceu o estrelato, nas novelas Pantanal (1990) e A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990). Depois voltou a trabalhar na Globo (A Indomada, em 1997, e O Clone, em 2001) e na Record (Louca Paixão, em 1999, e Essas Mulheres, em 2005). Mas é no cinema onde afirma se sentir realizada. Estreou na tela grande com apenas 7 anos de idade, no curta Ementário, de 1973, dirigido pelo pai Chico Liberato e roteiro da própria mãe, Alba Liberato. Um dos seus melhores trabalhos, entretanto, viria somente décadas depois, com Dois Córregos, de 1999, um desempenho premiado nos festivais de Cuiabá e de Santa Maria da Feira, em Portugal.

Apesar de estar há anos radicada no Sul do Brasil, somente no ano passado participou do seu primeiro longa-metragem produzido na região: Valsa para Bruno Stein (2007), de Paulo Nascimento. E foi este filme, que chegou há pouco nos cinemas de todo o país, que rendeu a Ingra seu prêmio mais importante: o cobiçado kikito de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Gramado, um dos mais importantes do país. E foi sobre essa conquista, esse novo trabalho e outros desafios que conversamos.

Qual foi tua primeira reação ao ler o roteiro de Valsa para Bruno Stein?
De que seria uma história difícil de ser contada por sua ausência de ação externa. Os personagens agem externamente de forma sutil, mas internamente estão em guerra.

Atuar ao lado do Walmor Chagas, ser dirigida pelo Paulo Nascimento, trabalhar num longa no RS… qual foi o maior desafio deste projeto?
O maior desafio foi fazer uma personagem com um mundo interior tão intenso, com pouquíssimas palavras e ações contidas. A comunicação não verbal é extremamente difícil; é preciso ser mais verdadeiro do que nunca pra comunicar com o pensamento. E o Walmor embarcou nessa experiência desde o primeiro encontro, desenvolvendo comigo uma cumplicidade no olhar. É um colega muito interessado no processo criativo e muito intenso em cena. Uma delícia. O Paulo já é um amigo queridíssimo de outros trabalhos e sempre me faz convites desafiadores. Acabei de filmar com ele um longa infantil onde atuo como ninguem nunca viu no cinema: comédia pura. Até agora só tinha feito no teatro. E trabalhar no Sul signifca uma oportunidade de dar o meu melhor pra representar esse estado que me acolheu com tanto carinho. Como cenário é especial, já que é um Brasil pouco conhecido dos brasileiros; mas como local de trabalho, não muda muito já que quando estou filmando, me concentro totalmente no universo da história a ser contada.

Qual a melhor lembrança que tu tem do período das filmagens?
Foi um trabalho muito tranquilo por vários motivos: as pessoas do lugar nos apoiaram e participaram com muito respeito do nosso dia-a-dia, foram especiais. O Paulo e sua equipe, como já disse, desenvolveram comigo um entrosamento que só ajuda, e os colegas também estavam muito inspirados pra esse trabalho. Nesse ponto, o astral do lugar contribuiu muito.

Qual tu acredita ser a principal sensação que o público tem ao assistir Valsa para Bruno Stein?
O que eu sinto é que uma família isolada do mundo, com uma vida aparentemente pacata, vai revelando aos poucos todo o conflito presente na alma dos seus personagens. Me passa uma sensação forte de “vida real”.

Como foi a passagem pelo Festival de Gramado e a conquista do kikito de Melhor Atriz?
O filme foi exibido no primeiro dia, e eu, que não tinha assistido, fiquei feliz com o resultado e com a reação do público. Isso pra mim já era tudo o que podia esperar. Como sempre o festival foi concorrido e trouxe longas de muita qualidade, seguindo o plano dos curadores e melhorar o nível da seleção. Quando, no final daquela semana de reações positivas com relação ao meu trabalho, eu ainda ganhei o prêmio, foi fechar com chave de ouro um caminho que começou modestamente, com uma entrega de corpo e alma, meses antes, quando desci naquela região de Caçapava do Sul.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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