Paul Willian Scott Anderson (não confundir com Paul Thomas Anderson, diretor dos oscarizáveis Boogie Nights, 1997, Magnólia, 1999, e Sangue Negro, 2007) é inglês, tendo nascido no dia 04 de março de 1965, em Newcastle, Inglaterra. Ao contrário do xará, sua carreira tem se focado em grandes espetáculos visuais, repletos de efeitos especiais e de muita ação. Após estrear com o thriller Shopping (1994), que tinha à frente do elenco um jovem Jude Law, causou barulho de fato nas bilheterias ao adaptar para a tela grande o videogame Mortal Kombat (1995), que arrecadou nas bilheterias de todo o mundo mais do que 10 vezes o seu orçamento original! Depois vieram o espacial O Enigma do Horizonte (1997), o aguardado encontro Alien vs. Predador (2004), a aventura Corrida Mortal (2008) e até o capa-e-espada Os Três Mosqueteiros (2011).

Mas seu coração sempre bateu mais forte pela franquia Resident Evil, também baseada num videogame e que contava com a atriz Milla Jovovich como protagonista. Neste trabalho os dois se conheceram, e hoje são casados, pais de uma criança. Anderson dirigiu o longa que deu início à tudo (O Hóspede Maldito, 2002), e depois de produzir o segundo e o terceiro episódio, voltou ao comando em 2010, com Resident Evil 4: Recomeço. Este foi – até o momento – o longa de maior sucesso da série, tendo faturado quase US$ 300 milhões. E esse resultado excelente o animou para uma nova sequência, que chega agora aos cinemas: Resident Evil 5: Retribuição.

Essa conversa, inédita no Brasil e exclusiva para o Papo de Cinema, aconteceu durante as filmagens deste quinto episódio, em Toronto, no Canadá, em dezembro de 2011. Nela, o cineasta comenta como foi voltar para esse universo, sobre as novidades deste filme e também sobre algumas surpresas que retornam para felicidade dos fãs. Confira!

 

O que o motivou a fazer um quinto episódio da série Resident Evil?

O roteiro é intrigante, um pouco sinuoso e cheio de reviravoltas; o que é legal e deixará muitas pessoas surpresas. Acho que o primeiro filme tinha uma estrutura muito complexa, e os seguintes se tornaram mais simples e lineares em termos de como a história foi traçada. Queria voltar para a estrutura original. Resident Evil: O Hóspede Maldito (2002) foi concebido numa escala mais modesta, e neste temos a intricada estrutura do primeiro filme com um alcance muito maior. Espero que tenhamos o melhor dos dois universos…

Paul W. S. Anderson e Milla Jovovich no set de Resident Evil 5

Como foi voltar a trabalhar com sua esposa, Milla Jovovich?

Alice sempre foi a líder da franquia em minha mente, e neste sentido o papel de Milla nunca mudou. Ela, obviamente, está cada vez mais envolvida nas histórias e nos processos de pré-produção e produção dos filmes. Esta não é uma franquia em que alguém tem que ser arrastado em brasas para retornar ao mesmo papel de sempre, porque nós realmente gostamos de fazer e acho que demonstramos isso. Acredito que uma das razões para esse sucesso é que há muita paixão e energia fluindo na sua realização.

 

Há um novo personagem bastante importante em Resident Evil 5

Senti que Alice, o personagem – conforme se desenvolveu – precisava de um pouco mais de emoção e base como ser humano. E foi isso que pensei que essa garotinha traria. Então, tornamos tudo muito real. Crianças em filmes, se são bem feitos, podem tornar tudo muito assustador. E frequentemente os jogos tiveram crianças pequenas neles também. Alice tinha que crescer, e seu relacionamento com essa menina foi uma forma interessante de provocar isso. E agora que Milla é mãe, também pensei que, como atriz, ela teria habilidades que há 5 ou 10 anos atrás não possuía para articular essa relação.

 

Como foi a volta de Michelle Rodriguez ao universo de Resident Evil?

É realmente excitante poder trabalhar com atores que tínhamos matado, especialmente Michelle Rodriguez, que é um estouro! Nunca tinha visto uma mulher segurar melhor uma metralhadora! E isso inclui Milla, quero dizer… Tem uma tomada ótima de Michelle com esta enorme arma lançadora de foguetes em que você até imagina que ela é membro da marinha americana. Ela é tão talentosa! Mas existem outros desafios para ela neste novo filme! Por exemplo, não acredito que a tenham visto usando vestido e salto alto em outros filmes! A atriz achou aquilo mais desafiador do que empunhar uma metralhadora pesada ou todas as outras cenas de ação. Então, existe este aspecto que as pessoas nunca viram, de como ela é a personagem durona dos outros filmes e ao mesmo tempo lutando contra isso – o que foi algo realmente excitante tanto para ela quanto para nós.

Milla Jovovich e Paul W. S. Anderson na première de Resident Evil 5

Não é muito comum em Hollywood uma franquia tão repleta de efeitos especiais que tenha uma atriz como protagonista. Como foi lidar com esse diferencial?

O que faz com que você acredite que as criaturas que está vendo sejam horripilantes tem a ver com a reação dos atores à elas. Acho que a força da franquia Alien desde o princípio foi Sigourney Weaver, porque você viu como ela ficou aterrorizada com o monstro, e Milla é muito parecida neste aspecto. Ela te dá 150% de comprometimento e faz com que você acredite no que está vendo – o que é algo que, infelizmente, parece ser raro em filmes deste gênero, com os atores às vezes subestimando o valor destas reações e achando que tudo é uma questão de efeitos visuais e filmagem. Mas tudo se resume na crença deles no que estão fazendo, porque se não acreditam naquilo é impossível convencer o público. É por isso que Milla é a pedra angular da franquia Resident Evil, porque é muito comprometida. Temos muita sorte em tê-la e confiamos muito nela.

 

Como foi o processo de criar as histórias dos filmes dentro de um universo já visitado pelos videogames?

Tiramos movimentos de luta diretamente de uma cena da Ada Wong no jogo Resident Evil 4: Recomeço (2010), por exemplo, e em Resident Evil 5: Retribuição existe uma perseguição de carros no deserto em que nossos heróis estão dirigindo um Hummer blindado com uma metralhadora atrás e que recriamos com um Rolls Royce Phantom na Praça Vermelha. Eles estão sendo seguidos por estas pessoas infectadas pelo parasita ‘Las Plagas’ que, não apenas foram ligeiramente modificadas geneticamente, mas também podem andar de motocicletas e atirar. Uma das razões para que os games Resident Evil permaneçam atuais é porque as criaturas, os desafios e o terror mudam. Acho que o mesmo é verdadeiro sobre a franquia cinematográfica. Os mortos-vivos eram mais lentos e inspirados nos criados por George Romero no primeiro filme. Existem mais zumbis neste novo filme do que em toda a franquia. Tenho uma verba maior que antes e pude gastá-la em um monte de coisas divertidas…

 

Como é filmar em Toronto?

Estamos agora no Toronto’s Cinespace, num estúdio onde a segunda unidade está trabalhando na caçada na Praça Vermelha de Moscou. Ambas as unidades trabalham estritamente conectadas, e uma vez mais Toronto se mostra o lugar ideal para filmar. Parece uma segunda casa a este ponto. Nós fizemos o final do primeiro filme aqui, e depois voltamos para o segundo e quarto filmes. Trabalhamos bastante em Toronto e temos de volta uma equipe em que podemos confiar, o que torna tudo mais fácil para mim como cineasta.

Este parece ser o mais ambicioso filme da franquia Resident Evil até hoje. É isso mesmo?

Uma das razões para esta franquia crescer é porque nunca descansamos sobre os louros do passado. É sempre uma pressão que encaramos de frente. O último filme foi um sucesso tão grande que queria ir além neste aqui. Filmamos na Praça Vermelha em Moscou, em Shibuya, em Tóquio, em Washington e na Times Square. Até nossa neve e gelo são realmente do Alasca! Estamos tentando fazer o primeiro filme de zumbis realmente épico com Resident Evil 5: Retribuição. E a partir do material que estamos filmando hoje você pode ver que há este sentimento de uma grande graphic novel, há um olhar nítido e real que é muito diferente. É uma conquista fazer o quinto filme de uma franquia, e ser capaz de dizer que ele não se parece em nada com o que já fizemos antes é o melhor de tudo.

 

(Entrevista editada e adaptada com exclusividade no Brasil)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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