Há cerca de seis meses ninguém havia ouvido falar de Jesuíta Barbosa. Hoje, no entanto, ele está sendo aclamado como a grande revelação do cinema nacional em 2013. Em cartaz em duas das mais elogiadas produções nacionais do ano – Serra Pelada, de Heitor Dhalia, e Tatuagem, de Hilton Lacerda – marcou de vez seu nome ao conquistar o prêmio de Melhor Ator por este último filme no Festival do Rio. E o rapaz não para: para o próximo ano ele tem engatilhado dois novos projetos já filmados – Jonas e a Baleia, em que irá aparecer ao lado de Laura Neiva, e Praia do Futuro, de Karim Ainouz. Pra completar, foi selecionado para o seu primeiro trabalho internacional, Trash, que está sendo filmado no Rio de Janeiro sob a direção de Stephen Daldry, cineasta inglês indicado ao Oscar por Billy Elliot (2000), As Horas (2002) e O Leitor (2008). Nascido na pequena cidade de Salgueiro, no interior de Pernambuco, Jesuíta Barbosa está pronto para conquistar o mundo. E foi sobre todos esses trabalhos que o ator conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!

 

Como surgiu o convite para participar de Tatuagem? Você teve que passar por algum tipo de teste? Como foi esse processo?
Fiz testes em Fortaleza e em Olinda. Esse segundo período ocorreu durante duas semanas com a presença do diretor e dos outros atores. Isso foi fundamental para o preparo físico-postural e para que eu tivesse um maior entendimento do que seria o filme. Depois disso, me chamaram com o convite. Foi realmente uma grande surpresa!

Como Fininha, ao lado de Irandhir Santos, em Tatuagem

O que mais lhe atraiu no personagem de Fininha?
Me atrai a delicadeza da fala e a atração por um mundo libertário, apesar do regime dentro do quartel e do contexto político. Fininha é o espelho da defesa pela liberdade do corpo, talvez por isso um reflexo muitas vezes incômodo.

 

Este tem sido um ano especial para você, com vários trabalhos marcantes aparecendo quase que simultaneamente. Era algo que você já esperava?
Os trabalhos vem acontecendo em um tempo maravilhoso de descoberta pessoal. Tento aproveitar cada projeto ao máximo, e cuido em admirar o que é mais peculiar das pessoas com quem contraceno. Espero sempre por um processo criativo e intenso.

Como a travesti Navalhada, em Serra Pelada

Nos seus dois filmes em cartaz, Tatuagem e Serra Pelada, você interpreta personagens homossexuais. Como você vê a abordagem da questão gay no cinema nacional?
Ainda tem um outro personagem que fiz nessa mesma linha, no curta O Melhor Amigo (2013), sobre uma relação platônica de amor. O gay tem o viés do que é proibido, do que não pode ser falado, talvez por isso sempre tão em voga. Mas acho que ainda temos alguns muros e paredes pra quebrar e desmitificar.

 

Seu desempenho em Tatuagem lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator no Festival do Rio. Foi uma surpresa? Ou era algo que já esperava?
Espero sempre o melhor pra mim e pra todos os meus, sem nenhuma modéstia. Espero que qualquer prêmio ganho faça jus ao esforço de toda a equipe e o resultado final. Surpresa boa esse regalo, fiquei muito extasiado.

Ao lado do diretor Karim Ainouz e do colega de elenco Wagner Moura em Praia do Futuro

Como surgiu o convite para trabalhar em Trash, sob o comando do diretor inglês Stephen Daldry e ao lado de atores como Rooney Mara e Martin Sheen?
Stephen havia visto alguns testes que fiz para outros trabalhos e se interessou. Nos encontramos no Rio de Janeiro para alguns ensaios junto dos outros atores. Fiz uma cena bem violenta na Central do Brasil com meninos incríveis e a coordenação precisa e gentil do diretor – a atenção que ele dá aos atores é muito admirável.

 

O que você pode adiantar sobre seus próximos projetos, Praia do Futuro e Jonas e a Baleia?
Praia do Futuro é quase um filme de ação: história de amor fraterno banhada de brigas e motos. Filme de amor de macho. Já Jonas e a Baleia foi filmado em Vila Madalena e se passa todo em São Paulo. Ainda que digam que ali na grande cidade de todos não exista carnaval, essa é a história de um carnaval possível. A convivência entre um garoto apaixonado pela menina que ele mesmo sequestrou e cativou dentro de uma baleia – um carro alegórico. Ambos devem chegar aos cinemas no ano que vem.

Ao ser premiado como Melhor Ator por Tatuagem no Festival do Rio

Tatuagem é um filme que tem sido muito bem recebido por onde é exibido. Durante as filmagens vocês já esperavam esse tipo de retorno?
Tatuagem se destaca pelo potencial anárquico. Quebra os tabus em tantos sentidos que acaba sendo uma experiência de renovação libertária do corpo, da alma – o filme é bem essa poesia. O retorno acontecia ainda na preparação, foi muito prazeroso todo o processo e agora está sendo incrível ouvir dos outros as impressões do filme.

(Entrevista feita por email direto do Ceará em Novembro de 2013)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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