Adaptar HQs focadas em super-heróis não é novidade para Hollywood; propriedades da Marvel e da DC Comics têm sido rotineiramente transportadas às telas desde a década de 50. Hoje, entretanto, vivemos uma espécie de Era de Ouro dos filmes de herói, já que eles dominam completamente as bilheterias, ganham inúmeras sequências e incentivam os estúdios a planejar cada vez mais adaptações. Do Homem-Aranha (2002) de Sam Raimi ao nascimento e a consolidação do Universo Cinematográfico Marvel (que já entra em sua terceira fase, com 14 filmes lançados e mais nove no forno), o termo “super-herói” virou sinônimo de blockbuster para os grandes estúdios norte-americanos.

Entretanto, é curioso notar que esses lançamentos colossais, que já deixaram de ser direcionados a pequenos nichos de fãs de quadrinhos para apelar a um maior número possível de espectadores, sejam protagonizados quase inteiramente por homens. Ora, mulheres representam a maior parte do público dos cinemas consistentemente desde 2010, segundo estudos da MPAA (Motion Picture Association of America), e a noção de que blockbusters não funcionam com protagonistas femininas tem sido desafiada, ano após ano – vide Mad Max: Estrada da Fúria, Star Wars: O Despertar da Força e a franquia Jogos Vorazes. A falta de representatividade feminina nos universos Marvel/DC não é só um problema político. Faz, também, pouco sentido economicamente. Como é possível, então, que o péssimo Elektra (2005) tenha sido o último exemplo de uma super-heroína à frente de sua narrativa no cinema?

Fãs têm pedido um longa focado apenas na Viúva Negra (Scarlett Johansson) desde a primeira aparição da personagem, em Homem de Ferro 2 (2010), mas até agora a Marvel não confirmou qualquer plano de realizá-lo. Kevin Feige, presidente do estúdio, já demonstrou interesse num filme solo da heroína, em diversas entrevistas, pontuando em 2016 que a empresa está comprometida com o desenvolvimento de uma história envolvendo a personagem. Entretanto, embora quase todos os outros membros dos Vingadores (Gavião Arqueiro é uma exceção) tenham seus próprios longas, geralmente com uma ou duas sequências, não há nem sinal de um projeto relacionado à Viúva Negra nos planos da Marvel, pelo menos até 2019, ano em que o estúdio finalmente lançará sua primeira produção protagonizada por uma mulher (Capitã Marvel).

Na concorrência, a situação também não está muito melhor. Embora a Mulher-Maravilha seja uma das propriedades mais famosas e antigas da DC Comics, a personagem chegará pela primeira vez aos cinemas ainda neste ano. Em contrapartida, seus companheiros de Liga da Justiça, Batman e Superman, já ganharam incontáveis encarnações nas telonas ao longo do século XX, independentemente do sucesso ou fracasso de cada uma. Só nesta nova leva, Superman já teve sua aventura solo em 2013, O Homem de Aço, e um novo Batman está nos planos da Warner, seguindo o futuro Liga da Justiça e o recente Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016).

Se faltam oportunidades para as mulheres na frente das câmeras, o problema se repete também atrás delas. De todos os filmes de herói lançados desde 2000, apenas um foi dirigido por uma mulher: O Justiceiro: Em Zona de Guerra (2008), de Lexi Alexander. Mesmo os longas focados em mulheres, como o universalmente odiado Mulher-Gato (2004) e Elektra, foram realizados por homens e até criticados em virtude de abordagens que podem ser consideradas misóginas. A escolha de Patty Jenkins para assumir o comando da primeira encarnação cinematográfica de Mulher-Maravilha pode até soar como uma boa notícia, mas não parece indicar, necessariamente, melhoria no panorama geral. Projetos futuros da DC, como Gotham City Sirens (spin-off dedicado a Harley Quinn e outras mulheres do Universo DC) e Batgirl já têm diretores anunciados, e (surpresa!) são dois homens: David Ayer, de Esquadrão Suicida (2016), e Joss Whedon, de Os Vingadores (2012). Ainda não existem nomes atrelados à direção de Capitã Marvel.  Infelizmente, a regra em Hollywood parece ser aquela velha máxima: “um passo para frente e dois para trás”. Assim fica difícil sair do lugar.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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