Estávamos voltando para casa e no rádio do carro uma música de Amy Winehouse soava ao fundo da conversa entre a minha filha e minha sobrinha. A segunda dizia: não gosto desta música. Como a canção estava no final, voltei ao começo, dizendo: mas é tão linda. Ao ouvir o começo da mesma música, minha sobrinha se apressou em dizer: esta eu gosto, é linda. A minha filha retrucou, espantada: mas, é a mesma música, Carol!

De fato, ouvíamos no mesmo CD, já em outra esfera, Amy Winehouse entoando a mesma faixa de um dos seus poucos discos. Mas por que uma das meninas de pouca idade não conseguiu perceber que estava ouvindo a mesma melodia?

Por que achou que ao reclamar já teria seu desejo atendido e não precisaria mais ouvir aquele som e a música seria trocada? Porque hoje todos eles têm pressa.

Pressa de trocar de música, pressa em trocar de amigos, pressa em postar novas fotos no facebook e pressa em contar a todos imediatamente o que estão fazendo.

Estamos vendo bem de perto uma geração que não tem mais tempo para o que é perene. Tudo é rápido e volátil, mesmo que eles ainda não saibam exatamente o que isto signifique.

Fico pensando se fôssemos assim também na década de 80 o que seria da música Faroeste Caboclo, da banda Legião Urbana? Teríamos paciência de ouvir até ao final uma música com mais de 9 minutos? Saberíamos de cor e salteado a letra desta música? E, algum dia, imaginaríamos que ela viraria um filme?

O fato é que na minha juventude as coisas eram diferentes. O que mais tínhamos era tempo. Tempo de curtir a vida, tempo de correr atrás de uma bola no meio da rua, tempo de esperar a amiga lavar e secar toda a louça do almoço e só então rumar ao clube para tomar banho de piscina. Tempo para planejar o que fazer sem o celular tocar e mudar o rumo do final de semana. E, tempo, muito tempo para ouvir músicas.

Eu sabia toda a letra de Faroeste Caboclo. E parte desta história era a minha própria vida sendo costurada em cada estrofe.

Em 1987, quando Renato Russo cantou a história de João de Santo Cristo, eu ainda não tinha 18 anos completos. E o que ele sussurrava parecia parte de um poema ao pé do meu ouvido.

….Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar
Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão….

Ainda não assisti ao filme, mas diferente dos jovens de hoje, terei paciência e tempo. Tempo para apreciar cada cena como se a vida fosse rebobinada e como passe de mágica eu estive em 1987 novamente.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é Relações Públicas formada pela Universidade Do Vale do Rio dos Sinos. Tem 43 anos e é mãe de Clara, uma menina ruiva, hoje com dez anos. Descobriu a paixão pelas palavras quase sem querer: foi um convite do editor de um jornal que a fez escrever seu primeiro texto. Surpreendida pelo retorno de amigos e leitores elogiando a forma leve e descontraída da escritora, decidiu investir nessa história! É autora do livro Metade de Mim, lançado pela Editora Buqui em 2013.
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