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Final de ano é época não apenas de se preparar para o novo período que está para começar, mas também para olhar para tudo que ocorreu de melhor nos últimos doze meses. E se listas com os melhores do ano se tornaram comum quando o assunto são os longas-metragens – nós mesmos já publicamos os melhores nacionais e também os melhores de todas as nacionalidades – qual a razão deixar de lado os curtas-metragens? É claro que sempre se pode argumentar que o acesso a eles é mais complicado – afinal, curtas geralmente são exibidos apenas em mostras e festivais, e são raros os que ganham uma chance no circuito comercial. No entanto, o Papo de Cinema marcou presença em 2016 nos maiores eventos cinematográficos do país, mostrando um fôlego de causar inveja nessa nossa concorrida agenda cinéfila! É por isso que, ao invés de um ranking, vamos aproveitar esse momento para lembrarmos dos melhores de cada um destes encontros, não apenas como reconhecimento, mas também como dicas de grandes obras feitas aqui no Brasil e que, se ainda não foram vistas, tá mais do que na hora de irmos atrás! Confira!

 

19° MOSTRA DE TIRADENTES (22 a 30 de janeiro)

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A Noite Escura de São Nunca, de Samuel Lobo
A ideia de “conflito” é a matéria por trás deste que é o segundo curta-metragem de Samuel Lobo (Dias Vadios, 2014). Apresentado como trabalho de conclusão de Lobo na Escola de Comunicação da UFRJ, o filme parte de uma vila no subúrbio carioca e seus pequenos casos cotidianos – como um rato na cozinha e a notícia de uma epidemia sanitária no Leblon – para se alçar a diagnóstico da violência no Brasil. O ponto central é a personagem marcada pela perda da irmã, levada a um centro de tortura durante a Ditadura Militar. O fato histórico se aglutina a outros, como o registro em super-8 da invasão de terras indígenas, indicando o panorama de um cenário composto não por exceções, mas por regras. A violência brasileira é física e, consequentemente, psicológica. Habita no ambiente da nossa sociedade. Para as injustiças, fica a certeza de não haver qualquer intervenção, mesmo de ordem religiosa, como sugere o título, possível de atingir o milagre de reverter as inúmeras noites eternas que mancham a história do país. Lobo, que assina também roteiro e montagem, trabalha o curta através de um registro psicológico. As passagens bem conduzidas entre real e subjetivo dão tom uniforme à narrativa, de modo a contrastar a tensão crescente do enredo com o ritmo fluido da montagem, resultando na apresentação de camadas complexas de maneira una e impactante. Premiado na Mostra de Tiradentes como o melhor curta-metragem segundo o Júri da Crítica. – por Willian Silveira

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Madrepérola, de Deise Hauenstein
Madrepérola é um cântico de jovens mulheres afirmando a independência dos próprios corpos. Documentário dirigido por Deise Hauestein, o curta traz uma série de relatos de jovens que em algum momento sofreram com os padrões imposto pelo mundo da beleza e amplamente divulgados pela mídia. As guerras íntimas são as mais difíceis, por isso a importância do filme em denunciar o preconceito ocasionado pela “gordofobia”, termo responsável por alavancar uma luta ingrata em busca de uma identidade que é sempre externa – não quero ser aquilo que sou mas aquilo que querem que eu seja. Conduzido de maneira empática, sensível e bem-humorada, o filme unifica uma sequência de casos tristes vividos pelas depoentes a fim de traçar a evolução em direção a um caminho melhor e possível: a aceitação do próprio corpo. O ato de afirmação ressignifica as personagens em tela e se posiciona de forma a encoraja outras meninas a tomarem atitude semelhante. O tom inicial, lúgubre e melancólico, se converte em um final vibrante, em parte pelo belo trabalho  de Leo Bracht na montagem, mas especialmente em função da nova perspectiva criada a partir dos depoimentos finais. Tal qual um cataclisma, consegue rearranjar de maneira positiva a ordem das coisas. Premiado na Mostra de Tiradentes como melhor curta-metragem pelo Júri Popular. – por Willian Silveira

 

21° É TUDO VERDADE (08 a 17 de abril)

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Abissal, de Arthur Leite
Dirigido em tom íntimo, e muitas vezes confessional, pelo jovem cineasta cearense Arthur Leite, este curta-metragem surgiu como desdobramento de uma ideia inicialmente diferente. Em princípio, a intenção do realizador era pesquisar a vida do avô que nunca conheceu pessoalmente, do qual só se aproximara pelas histórias contadas. A principal das testemunhas é exatamente sua avó, Dona Rosa, uma mulher que guarda segredos e fatos nunca antes revelados. Na frente da câmera, em conversas íntimas com seu neto, essa mulher abre o baú das memórias, tratando de ressignificar a imagem do passado familiar. Quanto mais se aproxima dela, mais Arthur se distancia do avô como centro gravitacional de seu filme. A produção aponta para uma das tendências entre os realizadores brasileiros da nova geração, que é fazer do cinema uma via de construção identitária – seja ela coletiva ou extremamente pessoal – em meio a reflexões acerca da própria maneira como utilizam o cinema. Durante os papos com a Dona Rosa, Arthur examina os dispositivos dos quais lança mão, propondo reflexões que se desprendem do nível doméstico, se espraiando, assim, pelas zonas cinzentas da criação. Premiado como Melhor Curta-Metragem no festival É Tudo Verdade, o filme emociona pela proximidade parental e faz pensar pelos questionamentos formais levantados. – por Marcelo Müller

 

20° CINE PE (02 a 08 de maio)

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Redemunho, de Marcélia Cartaxo
Em seu terceiro trabalho atrás das câmeras, Marcélia Cartaxo apresenta este curta-metragem, produção paraibana que foi a mais premiada durante a competição de curtas do Cine PE 2016, laureada como Melhor Filme, Melhor Roteiro (para ela e para Virgínia de Oliveira), Melhor Ator (Daniel Porpino) e com o Prêmio Canal Brasil. Marcélia, eterna Macabéa de A Hora da Estrela (1985) e inesquecível em tantos outros papeis como atriz, tem um domínio memorável na condução de uma história trágica e complexa em suas pretensões. Baseado em conto de Ronaldo Correia de Brito, o filme acompanha a decadência de uma família outrora gloriosa, que vive num sertão esquecido e se esquiva de dilemas que impulsionaram sua ruína. A mãe, muito bem interpretada pela atriz Eleonora Montenegro, sofre para convencer seu filho de que seu irmão mais velho faleceu e que sua esposa o deixou e fugiu com um grupo de ciganos e andarilhos. Inconformado, ele acredita que a história da mãe não é verdadeira, mas acaba criando um conflito familiar irreparável. É um trabalho linear e inventivo em sua diminuta narrativa, complementado por bons valores de produção e assinado por uma realizadora que já se mostra relevante e promissora. – por Conrado Heoli

 

5° OLHAR DE CINEMA (08 a 16 de junho)

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A Casa Cinza e as Montanhas Verdes, de Deborah Viegas
Impressiona o que a diretora Deborah Viegas realiza neste curta-metragem de pouco mais de 15 minutos de duração, laureado com o prêmio Olhares Brasil no 5º Olhar de Cinema, em Curitiba. Com a câmera em um plano bastante aberto, completamente parada, focando uma ponte movimentada, a diretora captura os carros e caminhões que vão e vem naquele local. As montanhas verdes estão ao fundo, assim como a casa do título. Tudo parece trivial, cotidiano, irretocável. Até que um sujeito aparece e realiza um ato aparentemente definitivo. Não são todos os curta-metragistas que utilizam-se do formato para conceber histórias interessantes. É exatamente isso que Viegas faz aqui. Em um média ou longa-metragem, essa trama não poderia ser contada da mesma forma – sem alienar mais de metade da plateia, ao menos. Trabalhando muito bem o som e conduzindo a ação de forma cuidadosa – a aparição final nos trilhos que passam por debaixo da ponte é sensacional – a cineasta mostra controle pleno da linguagem cinematográfica, cativando com um filme que abre diversas possibilidade de olhar para o espectador. Além disso, toca em um assunto sensível de forma corajosa, um tipo de curta que fica na memória por um bom tempo. – por Rodrigo de Oliveira

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A Moça que Dançou com o Diabo, de João Paulo Miranda Maria
Enquanto todos os olhos estavam voltados para a performance do longa-metragem Aquarius (2016) na croisette, esta produção brasileira, um tanto abaixo do radar, acabou surpreendendo ao levar o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes. Méritos o curta-metragem tem de sobra. Adaptando uma antiga lenda do interior paulista, do envolvimento de uma menina católica com o demônio, o diretor João Paulo Miranda Maia faz uma interessante parábola, colocando religião, comportamento, sexualidade e preconceito em uma mesma história. Na trama, uma menina de família religiosa, com direito a pregações em praça pública, decide mudar de vida. E o encontro com uma amiga libertária mudará os rumos de sua vida. Pode parecer um tanto vago, mas é importante não entrar em detalhes para evitar estragar algumas surpresas. Apostando nas cores e na luz para contar sua história, Maia concebe um curta-metragem visualmente arrojado, que dá pistas dos caminhos da trama através da paleta de cores. Um bom exemplo disso é a cena com um pisca-pisca vermelho, mais para o final do filme, e a escuridão do local que fecha a história. Além de Cannes, foi exibido ainda em diversos festivais, dentre eles o 5º Olhar de Cinema, em Curitiba, de onde saiu com o prêmio do Público. – por Rodrigo de Oliveira

 

26° CINE CEARÁ (16 a 22 de junho)

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O Teto Sobre Nós, de Bruno Carboni
Vencedor do prêmio de Melhor Curta-metragem da 26ª edição do Cine Ceará, além de ter rodado o mundo, inclusive ganhando algumas estatuetas, este filme do gaúcho Bruno Carboni (seu primeiro solo) se utiliza das chaves ficcional e documental para refletir sobre a demarcação perversa dos espaços de acordo com uma lógica sem privilégios ao humano. Mais precisamente, aborda a situação de abandono à qual o Estado relega os que sobrevivem à margem de um crescimento urbano marcado por interesses imobiliários. A trama, filmada parcialmente numa ocupação factual de um bem localizado edifício público de Porto Alegre, chamada de Ocupação Saraí, dá conta de uma série de pessoas que se encontram em situação de extremo desconforto, não apenas físico e logístico, em virtude da precariedade das instalações do prédio até então abandonado, mas, sobretudo, psicológico, uma vez que todos vivem a expectativa lancinante de uma liminar favorável ao governo, autorizando a polícia a despejá-los, jogando-os provavelmente na rua, transformando-os novamente em estatística. A câmera de Carboni passeia pelos cômodos improvisados, registrando a inquietação daquela gente resistente de verdade, se valendo de personagens ficcionais para potencializar o viés poético dessa reflexão social com ares de denúncia, sem a necessidade de brandir panfletos. – por Marcelo Müller

 

44° FESTIVAL DE GRAMADO (26 de agosto a 03 de setembro)

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Rosinha, de Gui Campos
Gui Campos é um dos talentos revelados pelo cinema nacional em 2016. E tudo por causa do seu trabalho de estreia, esse simpático curta-metragem que aborda um tema não muito comum na tela grande: relacionamentos amorosos e sexuais na terceira idade. Com um trio de protagonistas iluminados, encabeçados por uma grande Maria Alice Vergueiro – como a personagem-título – ao lado de João Antônio (Uma Vida em Segredo, 2001) e Andrade Júnior (No Coração dos Deuses, 1999), o diretor ilustra com delicadeza e simpatia uma situação inusitada: ao ficar sabendo que tem poucos dias de vida, Assis, o marido, decide se aproximar o melhor amigo do casal, Brandão, visando um arranjo entre o vizinho e a própria mulher para quando ele faltar. Mas o que fazer se um dos dois partir antes dele? Reorganizações familiares e novos arranjos afetivos estão em pauta dessa trama cheia de bom humor e verdades, que não foge de uma realidade supostamente incômoda, mas que precisa ser lidada. Uma abordagem sincera, surpreendente e cheia de respeito, que mereceu não só o prêmio máximo no Festival de Gramado, mas também reconhecimentos no Festival de Brasília e em tantos outros por onde foi exibido. – por Robledo Milani

 

49° FESTIVAL DE BRASÍLIA (20 a 27 de setembro)

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Quando os Dias eram Eternos, de Marcus Vinícius Vasconcelos
De uns tempos para cá, é recorrente a vitória de filmes animados nas categorias principais de eventos cinematográficos nacionais. Isso é uma prova de como o Brasil está se tornando referência no quesito animação. Esta produção, dirigida por Marcus Vinicius Vasconcelos, foi eleita a melhor entre curtas e médias-metragens no prestigiado Festival de Brasília deste ano. Além da belíssima técnica, que se vale de rabiscos para delinear personagens, bem como suas emoções, e da importância do desenho sonoro – cujo ruído oriundo do contato do lápis com o papel evoca a metalinguagem –, a trama é bastante emocionante. Prescindindo de diálogos e apostando visualmente no antagonismo entre o branco e o preto, Marcus Vinicius Vasconcelos cria uma história tão dolorosa quanto bonita. O protagonista transita da infância à vida adulta na qual precisa cuidar da mãe enferma. A doença é deflagrada pela calvície, algo associado diretamente a câncer. O balanço quebradiço oferece a ponte entre a meninice e a maturidade. Da primeira fase, fica a memória dos momentos de lazer e de contato íntimo com a mãe. Na segunda, vemos a genitora debilitada, recebendo do filho a retribuição de um cuidado incondicional. – por Marcelo Müller

 

17° FESTIVAL DO RIO (06 a 16 de outubro)

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O Estacionamento, de William Biagioli
A dificuldade de comunicação é apenas um dos diversos problemas enfrentados por Jean (Daniel Felice), imigrante haitiano radicado no Brasil, mais precisamente na capital paranaense. O protagonista deste curta-metragem dirigido por William Biagioli simboliza os inúmeros conterrâneos que na vida real se exilaram em nosso país em busca de oportunidades, de uma vida minimamente melhor. O que chama a atenção aqui é a potência da metáfora construída num itinerário sonoro-imagético bastante rico. Jean vai trabalhar num estacionamento, local que toma também por moradia, num quartinho improvisado nos fundos. Já na sua noite inaugural como guardião do bem alheio ele sofre, primeiro, com o incômodo de um proprietário que reclama o direito de pegar seu carro de madrugada, e, segundo, com os próprios veículos, cujo barulho ensurdecedor dos alarmes em disparada não o deixam dormir. É como se os automóveis, não por acaso recorrentemente utilizados como símbolos da perversidade das grandes cidades, ganhassem vida momentaneamente para expulsar o imigrante do lugar que ele recém-assumiu. Escolhido como melhor curta-metragem do Festival do Rio pelo júri oficial, o filme de Biagioli faz alusão, de maneira inventiva e instigante, a uma situação infelizmente cotidiana e cruel. – por Marcelo Müller

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Demônia: Melodrama em Três Atos, de Fernanda Chicollet e Cainan Baladez
Vencedor do prêmio de montagem no Festival de Brasília e ainda de dois troféus Redentores no Festival do Rio, como melhor curta-metragem pelo voto popular e com uma menção honrosa do júri oficial, temos aqui uma ótima realização pop e bem-humorada que vai de encontro com a quebra da moralidade. Fernanda Chicolet, que co-dirige ao lado de Cainan Baladez, ainda atua no curta. A interpretação não cai em muitas obviedades do suburbano, apesar de fazer uso delas. Chicolet é enérgica e brilhante como uma crente jovem suburbana que leva um baque ao descobrir um segredo de seu primo, interpretado por Vinicius de Oliveira. A revelação irá tornar não somente a vida dela, mas também a de todos ao seu redor ao avesso. Em seus três atos, apresenta formatos diferentes para o gênero cinematográfico. O mistério em torno da trama é necessário para manter seu impacto, mas o que pode se revelado é que a produção, além de hilária, é trabalho excepcionalmente bem executado que estimula a reflexão crítica em cima da sociedade, sensacionalismo e mídia através de um timing cômico perfeito. – por Renato Cabral

 

24° ANIMA MUNDI (25 a 30 de outubro – 02 a 06 de novembro)

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O Projeto do meu Pai, de Rosaria
Este curta-metragem capixaba fez a limpa no prestigiado Anima Mundi, levando para casa os prêmios de Melhor Curta do Festival, Melhor Curta Brasileiro e ainda o Aquisição Canal Brasil – ou seja, de quebra garantiu ampla veiculação mais adiante. Além disso, o filme da diretora Rosária ganhou as estatuetas de Melhor Curta de Animação e Melhor Curta do Festival de Três Passos, no Rio Grande do Sul. Isso, só para citar dois eventos cinematográficos em que a tão bela quanto sucinta animação recebeu merecido reconhecimento. Rosária se vale de dolorosas reminiscências de sua infância, mais precisamente da relação conturbada que sempre teve com o pai, de quem viu a mãe divorciada quando era muito jovem. Utilizando personagens desenhados de maneira simples, a cineasta alude à sua infância, exatamente porque mostra como retratava-os na mais tenra idade. As eventuais mágoas são, assim, filtradas e potencializadas por esse olhar infantil, que Rosaria resgata e explicita por meio do traço, atributo que evolui gradativamente nos pouco mais de cinco minutos de duração do filme, deflagrando liricamente seu próprio amadurecimento, não somente o artístico, mas também o pessoal. Um belíssimo trabalho, que se vale da criatividade e, sobretudo, da sensibilidade para provocar um nó na garganta do espectador. – por Marcelo Müller

 

24° MIX BRASIL (09 a 20 de novembro)

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Os Cuidados que se tem com o Cuidado que os Outros devem ter Consigo Mesmos, de Gustavo Vinagre
Vencedor do prêmio de melhor curta-metragem nacional no Mix Brasil de 2016, além de ter sido selecionado para festivais como Vitória e Brasília, este filme de Gustavo Vinagre trata de um momento transitório da vida de Tan (Caetano Gotardo) e seus colegas de apartamento. Enquanto uma manifestação ocorre nas ruas, eles estão concentrados no apartamento em que dividem e trocam pequenos gestos e reflexões sobre a individualidade e o coletivo. A amplitude da sexualidade se faz presente e, mais que isso, um senso de comunidade de laços fortes se constrói a cada cena. A preocupação e necessidade dos personagens em ajudarem Tan a se libertar de certas amarras do passado através do choro é uma constante até o momento em que, enfim, o evento catártico acontece, emoldurado pelo som de uma belíssima canção interpretada por Cida Moreira. Vinagre entrega um filme sobre um ciclo e que expõe preocupações sociais, culturais e políticas. – por Renato Cabral

 

10° FOR RAINBOW (10 a 17 de novembro)

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Xavier, de Ricky Mastro
Quando falamos de filmes centrados em personagens homossexuais, logo nos vêm à cabeça percursos mais sisudos que risonhos. Também pudera. Embora nossa sociedade diga-se plural, persistem nela pensamentos preconceituosos, que não raro começam no âmbito doméstico. Portanto, é no mínimo interessante a abordagem de Ricky Mastro neste curta-metragem que levou para a casa o prêmio principal do For Rainbow, um dos principais festivais brasileiros voltados à diversidade sexual. O protagonista é o pré-adolescente Xavier (Gregório Musatti), que vira alvo da “preocupação” da escola por conta de sua introspecção. Sorte de Xavier ter um pai com Nicolas (André Guerreiro Lopes), que acompanha com ternura seus primeiros olhares de desejo, lançados a meninos mais velhos. Ao invés de apostar numa trama marcada pela intolerância, Ricky Mastro optou por mostrar que há luzes no fim do túnel, que as próximas gerações de pais, provavelmente, (tomara) estarão mais preparadas para lidar com sexualidade de seus filhos. A narrativa é sóbria, funda-se sobremaneira na ligação bonita entre o menino que tateia o mundo e seu pai que faz de tudo para garantir, de maneira inalienável, seu direito tanto de perseguir os sonhos profissionais (no caso, ser baterista), quanto de seguir sua orientação sexual. – por Marcelo Müller

 

5° CURTA BRASÍLIA (15 a 18 de dezembro)

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Pele de Pássaro, de Clara Peltier
Assim como os pássaros engaiolados na sua casa, cuja função principal é igualmente oferecer beleza, a passista carioca Tuane Rocha se vale das plumas, só que as do samba, para desfilar graciosidade, seja na Marquês de Sapucaí ou nos inúmeros compromissos diários. A diretora Clara Peltier acompanha a rotina dessa personagem peculiar, indo desde os afazeres domésticos mais banais, a condução da filha à escola, por exemplo, até às apresentações nos palcos, ocasiões em que inevitavelmente atrai os holofotes, por conta da beleza, mas também, e, sobretudo, em virtude do carisma estampado no sorriso. Este curta-metragem, vencedor do Curta Brasília de 2016, é um registro poético/cotidiano dessas idas e vindas, especialmente por evidenciar o indivíduo por baixo dos ornamentos, deflagrando, inclusive, a necessidade de metamorfose para agradar expectativas. A cena em que Tuane lentamente retira os fios do aplique até mostrar seu cabelo verdadeiro, não menos bonito, só perde em simbolismo à final, na qual vemos por um ângulo privilegiado a bela mulata enjaulada no topo de um carro alegórico, tal os pássaros de estimação que cantam eventualmente, sambando para a alegria da plateia quando solicitada por aqueles que comandam o show. – por Marcelo Müller

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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