Erotismo vende e Hollywood sabe muito bem disso. Não é preciso muito. Protagonistas atraentes, uma trama bobinha (especialmente se for de investigação policial) e pronto. A encomenda chegou. Tanto que foi lançado recentemente O Garoto da Casa ao Lado, desastre crítico com Jennifer Lopez, mas que não apenas se pagou como arrecadou (até agora) quase dez vezes mais que seu orçamento de 4 milhões. Para lembrar um pouco dos thrillers eróticos do cinema, a equipe do Papo de Cinema resolveu fazer um top diferente esta semana. Não são os melhores, mas sim os dez filmes que mais arrecadaram bilheteria nos EUA, tendo como base o Box Office Mojo, a bíblia do assunto. As produções estão elencadas da menor à maior arrecadação. Confira e comente qual seu favorito. Ou melhor, qual mais lhe excita.

 

Vestida para Matar (Dressed to Kill, 1980) – US$ 31.899.000

A introdução e o encerramento de Vestida Para Matar são sequências instigantes ambientadas no chuveiro, em reformulações óbvias de Psicose (1960) que impressionam pela audácia de Brian De Palma. O cineasta, que também homenageia (ou reproduz descaradamente) o Alfred Hitchcock de filmes como Assassinato (1930), Quando Fala o Coração (1945) e Um Corpo Que Cai (1958), atinge algumas notas de genuíno suspense, porém logo degenera seu filme a uma farsa desinteressante, pontuada por momentos de pouca significação ou profundidade. No entanto, se algo funciona adequadamente em Vestida Para Matar é o erotismo, que supõe o espectador como um voyeur adolescente e não economiza numa sexualidade pulsante que permeia toda sua projeção. Há desejo explícito em Angie Dickinson, que interpreta uma mulher madura e extremamente sensual, no filho de uma das mulheres assassinadas, obcecado por uma prostituta, e também em cada outro frame e personagem do filme. É o desejo que move a trama de De Palma, num universo regido pela perversão e erotismo intensos. Ainda assim, Vestida Para Matar equivale a pouco mais que um estudo aprofundado sobre as regras de um suspense erótico, onde, assim como sua protagonista, parece extremamente bem vestido, porém sem ter para onde ir. – por Conrado Heoli

O Garoto da Casa ao Lado (The Boy Next Door, 2015) – US$ 35.423.380

Jennifer Lopez há um tempo desistiu de ser uma boa atriz, ou uma cantora de respeito. Seu melhor papel nos últimos tempos é o de ‘celebridade’, como fica claro neste filme quase inexplicável de tão ruim. A trama é bem previsível: mulher mais velha acaba se envolvendo com jovem que se muda para a casa ao lado, e assim que ela se arrepende de terem dormido juntos, ele se transforma em um maluco que passa a persegui-la. Se você abstrair todos os absurdos da história, ainda assim teremos uma J.Lo mais em forma do que nunca – quem diz que essa mulher já tem 45 anos? – e um Ryan Guzman com todos os gomos na barriga no lugar certo. Os dois funcionam bem juntos, e a cena de sexo entre eles até aumenta a temperatura. Mas é uma só, e até bem rápida. E com pouco erotismo, sobra menos ainda para o thriller, pois ela é muito fraca, enquanto que o rapaz atua tão bem quanto uma porta. E sem empolgar em nenhum aspecto, esse é um título que logo deve cair no esquecimento – de onde nunca deveria ter saído, aliás. – por Robledo Milani

Invasão de Privacidade (Sliver, 1993) – US$ 36.300.000

Logo após estourar em Instinto Selvagem (1992) – lançado um ano antes – o furacão Sharon Stone aproveitou a popularidade em alta para ver se o raio caía novamente no mesmo lugar. As semelhanças entre este filme e o sucesso anterior são muitas: ela é uma mulher de sexualidade ambígua e independente, cercada por homens suspeitos, em uma trama de muito mistério, segredos e um perigo prestes a ser descoberto. Ninguém é o que parece ser – ou ao menos essa era a intenção do diretor Phillip Noyce, que já havia explorado melhor esse tipo de tensão sexual em Terror à Bordo (1989), com Nicole Kidman. Aqui, no entanto, ele fica à mercê de um roteiro escrito por Joe Eszterhas – o mesmo de Showgirls (1995), argh! – e de um controle quase absoluto da protagonista, que errou em não querer ir além do que já havia exibido em longas anteriores. De qualquer forma, ela está mais sexy do que nunca, assim como seu William Baldwin – irmão mais novo de Alec – que estava no auge de sua beleza (na mesma época chegou a fazer par com a top model Cindy Crawford no esquecível Atração Explosiva, 1995). Enfim, enquanto thriller, há muitos melhores. Mas no quesito erotismo, não há do que reclamar! – por Robledo Milani

Infidelidade (Unfaithful, 2002) – US$ 52.775.765

Como o próprio título deixa claro, Infidelidade trata de uma traição, mais precisamente de um caso extraconjugal de consequências nefastas tanto para Connie (Diane Lane), mulher enredada por um jovem vendedor de livros, quanto para Edward (Richard Gere), marido de orgulho arranhado que perderá o habitual controle após descobrir-se enganado. Isso sem mencionar o destino do próprio amante. Mesmo que certo moralismo paire sobre a trama, afinal de contas tudo aponta à condenação da esposa que cedeu à tentação e com isso arruinou o sossego da família, o thriller de Adrian Lyne chama a atenção pela maneira habilidosa com a qual mescla tesão e tensão. Os encontros furtivos de Connie são registrados de maneira a centralizar sua excitação. Ela se vê arrastada por um turbilhão de emoções já não mais presentes no casamento seguro. A despeito da facilidade de atribuir responsabilidades sem pesar devidamente nuances e particularidades, sobressaem-se a sensualidade e o suspense, bases do filme. Infidelidade possui cenas de sexo intensas (e excitantes) que, paralelizadas à desconfiança crescente do personagem de Gere, dão à narrativa uma forte relação entre desejo e perigo, elementos em constante e alternado movimento de repulsa e atração. – por Marcelo Müller

De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999) – US$ 55.691.208

Stanley Kubrick passeou por diversos gêneros e já havia realizado uma obra com teor sexual aflorado em Lolita (1962), baseado na Obra de Vladimir Nabokov. Calhou de seu último filme, De Olhos bem Fechados, retornar a um assunto altamente sensual, apresentando um casal queridinho dos flashes daquela década, Tom Cruise e Nicole Kidman, despindo-se (literal e metaforicamente) em frente às suas câmeras. Na trama, o doutor William Harford (Cruise) mergulha em uma noite de sexo e descobertas quando sua mulher, Alice (Kidman), revela que tem fantasias com outros homens. Este é só o princípio de uma jornada interessantíssima e bastante tensa daquele homem que, dentre muitas outras coisas, acaba entrando escondido em um estranho ritual sexual. Kubrick mostra ter pudor algum ao filmar as orgias daquela seita, mas constrói um filme que vai muito além do sexo puro e simples. O clima de tensão é palpável, muito bem executado pelo diretor e transparente na performance paranoica de Tom Cruise. As repetições quase sádicas de Kubrick, que filmava inúmeras vezes o mesmo take, parecem ter feito bem ao casal principal, que tem uma de suas melhores performances neste longa-metragem. Baseado livremente na obra de Arthur Schnitlzer, De Olhos bem Fechados é um réquiem à altura da carreira do grande Stanley Kubrick. – por Rodrigo de Oliveira

Vitimas de uma Paixão (Sea of Love, 1989) – US$ 58.571.513

Longe de ser um dos melhores papeis de Al Pacino, mas também nem um pouco perto de ser uma obra totalmente esquecível, Vítimas de uma Paixão foi o retorno do ator aos cinemas após um período dedicado apenas ao teatro. Na trama, ele é Frank Keller, um policial que acabou de perder a esposa para um colega de trabalho e se embrenha numa investigação sobre homens sendo assassinados. Detalhe: todos os mortos procuravam mulher em anúncios de jornal. Para aprofundar a busca pela assassina, Keller publica também um anúncio e conhece Helen (Ellen Barkin), mãe solteira e vendedora de sapatos. Mas será que ela não pode ser a assassina? O melhor do filme, além da boa atuação de seus protagonistas, é saber desenvolver a trama em dois paralelos: a paixão do casal e a caça à serial killer . Além, é claro, de tórridas e excitantes, ainda que nada explícitas, transas de Pacino e Barkin, que a certa altura podem estar confundido sexo e carência com a paixão crescente. – por Matheus Bonez

Obsessiva (Obsessed, 2009) – US$ 68.261.644

Imagine um thriller erótico permitido para espectadores com idade a partir de 13 anos e suas possibilidades de instigar ou entreter, seja pelo suspense ou pela carga sensual que ele deve carregar para honrar seu gênero. Pense também que, com a supersexy Beyoncé Knowles como protagonista, o papel com maiores insinuações sexuais deste filme ficou com Ali Larter, a menina sem graça de Premonição (2000). Assim temos Obsessiva (2009), que se vale da trama de Atração Fatal (1987) para ser mais um filme no estilo mulher-louca-seduz-homem-casado-e-não-aceita-a-rejeição. Obviamente nenhum filme tem a necessidade de ser integralmente original, ainda mais num cenário onde Hollywood segue reciclando tramas e histórias por motivos estratégicos e restritamente financeiros. No entanto, o roteirista David Loughery e o cineasta Steve Shill, este em seu único trabalho para o cinema entre mais de 50 créditos para a televisão, abusam de um enredo que não apresenta qualquer inovação ou inspiração. Idris Elba oferece algum carisma, Larter é monocórdica e Beyoncé aparece para proferir pérolas como “É melhor você fazer alguma coisa sobre esta mulher, ou eu farei” – ameaça que antecipa o anticlimático e involuntariamente hilário desfecho da produção. – por Conrado Heoli

Assédio Sexual (Disclosure, 1994) – US$ 83.015.089

Michael Douglas já havia encontrado sucesso na área do thriller sexual em Atração Fatal (1987) e Instinto Selvagem (1992). Sua trilogia estaria completa dois anos depois em Assédio Sexual (1994), contracenando com uma Demi Moore em belíssima forma e com direção de Barry Levinson. Baseado no (ótimo) livro Revelação, escrito por Michael Crichton, o longa-metragem apresenta uma inversão da clássica história do assédio no trabalho. Tom Sanders (Douglas) é um funcionário de uma empresa de tecnologia à beira de uma grande fusão. Ele espera por uma promoção há anos e seu dia parecia finalmente chegar. Mas seus chefes decidem passar o cargo para uma mulher de fora. Para piorar, esta mulher, Meredith (Moore), era uma antiga namorada de Tom. Se a tensão sexual já não era o bastante, ela acaba o assediando durante uma noite de trabalho. Quando ele responde negativamente aos avanços de sua ex, ela reage furiosamente, tentando acabar com sua carreira. É quando ele resolve denunciar sua nova chefe que tudo em sua vida muda. Apesar das cenas quentes do primeiro ato, Assédio Sexual é muito mais um thriller de suspense do que um filme caliente. O título nacional, inclusive, é chamativo por demais, visto que a história original era apenas Disclosure – traduzida literalmente na versão lançada em livro aqui no Brasil, em 1993, Revelação. O elenco é competente, o suspense é bem construído por Barry Levinson, mas quem espera pelo teor sexual aflorado, pode se decepcionar. – por Rodrigo de Oliveira

Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992) – US$ 117.727.224

A cruzada de pernas de Sharon Stone em Instinto Selvagem é uma das cenas mais eróticas do cinema norte-americano. Contextualizada, então, ganha ainda mais significância, pois mostra a sedução como meio de adquirir e mostrar poder. A personagem de Stone está sendo interrogada por um bando de homens que suspeitam dela como responsável por vários assassinatos. Ao cruzar as pernas, deixando rapidamente à mostra suas partes íntimas, desestabiliza a plateia de inquisidores, tomando a dianteira da situação, demonstrando, além de calculismo, uma consciência tremenda de sua sensualidade e da arma em que isso pode se tornar. A relação entre sexo e poder vai além dessa cena pontual, pois, a bem da verdade, é a base da narrativa proposta por Paul Verhoeven. O corpo de Sharon Stone exala desejo e perigo, atributos que, uma vez unidos, são chamarizes irresistíveis para o policial interpretado por Michael Douglas, enredado na teia da femme fatale a despeito do instinto profissional que lhe diz para manter distância. A lascívia da bela loira é um dos atributos mais importantes para o êxito de Instinto Selvagem, filme no qual o sexo é antes um meio que um fim. – por Marcelo Müller

Atração Fatal (Fatal Attraction, 1987) – US$ 156.645.693

É interessante constar que um dos maiores sucessos de Glenn Close, tanto de público quanto de crítica, tenha envelhecido ao longo dos anos. O diretor Adrian Lyne apresenta muitas qualidades, como a linguagem de videoclipe (oi, MTV!), um domínio perfeito da câmera e, é claro, as cenas de sexo que tomam conta da narrativa. Por outro lado, o machismo impera na história. O Dan Gallagher de Michael Douglas (sim, sempre ele) trai a mulher uma vez com Alex (Close), a descarta como objeto e ela, obcecada e carente, começa a tomar ares de psicopatia, virando a vilã da história. Uma legítima stalker. Poderia ser a legítima loira de Alfred Hitchcock caso ele estivesse vivo para dirigir na época, mas a personagem dá pena tamanha sua loucura, enquanto o “coitadinho” Dan se torna apenas o herói por… não fazer nada além de dar fora na mulher ensandecida. Olhando hoje, dá pra se divertir ainda, até se excitar, e não se pode tirar o mérito de Close em sua entrega. Mas fica estranho lembrar que o longa concorreu a seis Oscar (inclusive Melhor Filme) com uma história tão bidimensional.  E indicar Anne Archer como a esposa sem graça e submissa de Dan é pra matar. O curioso é que hoje em dia até a protagonista se arrepende da forma como a mulher é retratada no filme. Ainda assim, vale aquela espiada numa madrugada sem sono. – por Matheus Bonez

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