Aproveitando a estreia neste mês do premiado Tatuagem, em que Irandhir Santos interpreta, pela primeira vez no cinema, um personagem homossexual – o rebelde e apaixonado Clécio – pensamos aqui no Papo de Cinema quais seriam as incursões em produções nacionais mais marcantes de grandes astros em papeis gays. Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Mateus Solano, Murilo Rosa e Lázaro Ramos são apenas alguns que já ousaram revelar um lado mais delicado em cena, mostrando que para ser galã independe se o público alvo é feminino ou masculino.

Irandhir Santos chamou atenção pela primeira vez do grande público ao aparecer como antagonista de Wagner Moura em Tropa de Elite 2 (2010), filme que levou mais de 11 milhões de brasileiros aos cinemas. Desde então já foi um poeta maldito em Febre do Rato (2011) e um segurança corrupto em O Som ao Redor (2012), longa escolhido para representar o Brasil no Oscar do ano que vem. Mas foi somente como protagonista de Tatuagem, em que aparece como o performático artista da noite recifense que se apaixona por um militar muito mais jovem, que o ator foi reconhecido com um kikito por sua atuação no Festival de Gramado. Uma aclamação à altura de um desempenho impressionante, que combina uma sensibilidade ímpar com muita força de vontade. Confira abaixo os dez melhores trabalhos de galãs nacionais mostrando que sabem requebrar com talento e versatilidade!

 

 

10. Marcos Palmeira, em Como Ser Solteiro (1998)
Na comédia romântica escrita e dirigida por Rosane Svartman, sobre um jornalista que pede ao melhor amigo – um conquistador nato – dicas sobre como seduzir as mulheres, Palmeira aparece como Julinho, o amigo gay que surge lá pelo meio da trama apenas para mostrar que, numa cidade grande e cosmopolita como o Rio de Janeiro, só fica sozinho quem quer, independente de sua orientação sexual. Uma participação pequena, mas divertida.

 

 

09. Marcello Antony, em Sexo, Amor e Traição (2004)
Antony desempenha nesse filme quase a mesma função de Palmeira no longa acima: a do melhor amigo gay de um dos personagens principais. Aqui ele é Nestor, que chega de viagem lá pelo meio da história apenas para ajudar Claudia (Heloisa Perisse) a conquistar seu verdadeiro amor. Com direção de Jorge Fernando, esse remake de um sucesso mexicano teve mais de dois milhões de espectadores.

 

 

08. Eduardo Moscovis, em Bendito Fruto (2004)
Nessa comédia de costumes, Edgar (Otavio Augusto) leva uma vida de aparências: cabelereiro, finge ser gay para não perder a clientela, ao mesmo tempo em que vive amasiado com Maria (Zezeh Barbosa), quem ele apresenta aos amigos e visitas como empregada pelo fato dela ser negra. Mas a maior surpresa da trama vem quando o filho deles, Anderson (Evandro Machado), volta de uma viagem pelo exterior com um convidado: o namorado Marcelo, um astro de novelas interpretado por Eduardo Moscovis. Sem afetação nem muitos trejeitos, o ator é o mais assumido em uma trama em que todos fingem ser o que não são.

 

 

07. Mateus Solano, em A Novela das Oito (2012)
Filmado em 2010 – muito antes do estrelato de Mateus Solano – mas lançado nos cinemas dois anos depois, quando o ator já era mais popular, esse drama sobre a repressão da ditadura militar no Brasil se passa em 1978, no auge da repressão. Entre personagens que precisam se esconder e outros que lutam pela liberdade, Solano aparece como João Paulo, um diplomata que se apaixona – ainda que secretamente – por Caio (Paulo Lontra), filho da revolucionária vivida por Claudia Ohana, ao mesmo tempo em que todos vivem a febre da Disco Music em tempos da telenovela Dancin’ Days.

 

 

06. Murilo Rosa, em Como Esquecer (2010)
Mais uma vez como ‘melhor amigo da protagonista’, dessa vez o personagem gay interpretado por Murilo Rosa ao menos tem uma relevância maior na trama, pois será ele o responsável por tirar Julia, vivida por Ana Paula Arósio, da depressão após o término da relação com a namorada. Este é, portanto, um filme gay, sobre personagens gays, finalmente! Rosa está muito bem, numa composição delicada no momento certo, mas também enérgico quando necessário. A partir do momento em que ele também arruma um namorado (papel de Pierre Baitelli), a história dos dois adquire contornos ainda mais verossímeis, principalmente quando presenciamos sua necessidade em se dividir entre os cuidados com a amiga e os prazeres do novo amor.

 

 

05. Murilo Benício, em Amores Possíveis (2001)
Um dos filmes mais marcantes do início da retomada do cinema brasileiro, esse drama romântico mostra o desencontro de dois personagens – Murilo Benício e Carolina Ferraz – e três possíveis destinos para suas vidas a partir desse momento. Em uma trama o casal está junto, em outra estão separados e, na terceira, o mais surpreendente: o rapaz se torna gay e vê sua relação estável com o namorado, interpretado por Emilio de Mello, ser abalada quando ela ressurge em sua vida. Benício compõe um personagem muito rico, prejudicado apenas pelo enredo: afinal, ser gay é uma opção (algo que hoje sabe-se ser uma teoria equivocada) ou uma orientação natural de alguns seres humanos?

 

 

04. Cauã Reymond, em Estamos Juntos (2011)
Um dos homens mais cobiçados do cinema e da televisão brasileira, Cauã Reymond se mostrou livre de preconceitos ao assumir o papel de Murilo, o dj gay que vive uma paixão platônica pelo amigo interpretado por Nazareno Casero. Reymond chegou a ser indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro como Melhor Ator Coadjuvante por essa atuação delicada, que não está no centro da trama do filme, mas ocupa posição de destaque. O ator voltaria a interpretar um personagem bem mais afeminado – porém não assumido como esse – em Reis e Ratos (2012), comédia satírica de grande elenco que decepcionou público e crítica.

 

 

03. Daniel de Oliveira, em Cazuza: O Tempo não Para (2004)
O fato de Cazuza, um dos maiores ícones da música popular brasileira, ser gay não é o centro da discussão dessa muito bem sucedida cinebiografia, mas tal aspecto de sua personalidade também não é ignorado. Daniel de Oliveira aparece pela primeira vez como protagonista numa atuação impressionante, premiada no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro nos festivais de Miami, Nova York  e pela APCA. Oliveira também interpretou um personagem de sexualidade dúbia em A Festa da Menina Morta (2008), em que aparece como Santinho, um rapaz do interior do Amazonas que se proclama milagreiro, um desempenho reconhecido nos festivais de Gramado e do Rio de Janeiro. Por esse conjunto de excelentes trabalhos ele merece a nossa medalha de bronze!

 

 

02. Lázaro Ramos, em Madame Satã (2002)
Lázaro Ramos despontou para a fama ao assumir um papel que já havia sido defendido pelo grande Milton Gonçalves, em A Rainha Diaba (1974). Ramos se saiu extraordinariamente bem como o criminoso que atuava também como travesti na noite do Rio de Janeiro e encontrou sua perdição ao se apaixonar pelo homem errado. Por este trabalho, ganhou como Melhor Ator no Prêmio Guarani, Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, e nos festivais de Huelva, Lima, São Paulo e pela APCA, além de ficar na nossa vice-liderança!

 

 

01. Rodrigo Santoro, por Carandiru (2003)
A participação de Santoro nesse filme é até pequena – afinal, trata-se de uma trama coletiva, com várias histórias e personagens – mas o impacto foi gigantesco. Primeiro, pelo sucesso do projeto: mais de 5 milhões de espectadores. Depois, pela coragem do ator, que aparece como o travesti Lady Di – chegando inclusive a usar um vestido de casamento! Tudo para comprovar seu talento e se desvencilhar de vez da imagem de galã de telenovelas globais. O resultado foi retumbante, e gerou inclusive outras incursões suas pelo mesmo universo, como no hollywoodiano O Golpista do Ano (2009), em que aparece todo sarado como o namorado latino de Jim Carrey. E isso que nem falamos do Rei Xerxes de 300 (2006), que de tão escandaloso parece quase uma drag queen. E se alguém é capaz de tamanha ousadia, só mesmo Rodrigo Santoro, nosso verdadeiro astro internacional!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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