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Se todos estavam tristes desde que foi anunciado que o longa Que Horas Ela Volta? havia sido cortado da seleção final para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o orgulho tupiniquim ressurgiu semana passada quando foram revelados os indicados ao prêmio de Melhor Animação. Afinal, O Menino e o Mundo (2014), de Alê Abreu, está entre os cinco concorrentes. O Brasil pode não ter uma extensa produção de animações em longas-metragens, mas elas existem há tempos. O primeiro desenhado à mão no país, chamado de Sinfonia Amazônica, foi produzido por Anélio Lattini Filho em 1953. Porém, o forte da produção se intensificou a partir dos anos 1980 com a Turma da Mônica e só começou a se descentralizar na década seguinte. Então, com esta indicação inédita ao Oscar, resolvemos celebrar um pouquinho da historia do gênero nos cinemas nacionais com a escolha de dez de seus melhores títulos. Será que o seu favorito está aqui? Confira!

 

 

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A Princesa e o Robô (1983)
Que a Turma da Mônica é o maior sucesso infantojuvenil do Brasil, disso não há dúvida. Dominando os quadrinhos desde os anos 1960, duas décadas depois os personagens criados por Maurício de Sousa ganharam as telas do cinema com As Aventuras da Turma da Mônica (1982), uma narrativa em quatro episódios que foi um considerável sucesso de bilheteria. Porém, o melhor desta leva é o segundo trabalho nas telonas, A Princesa e o Robô, onde Mônica e companhia demoram 30 minutos para dar as caras na história. Antes disso acontecer, acompanhamos a história do Pequeno Robô, um habitante do planeta Cenourano, que se apaixona pela princesa Mimi ao ser atingido por uma estrela pulsar. Por não ter coração, o coelho robótico perde a conquista para o Lorde Coelhão, um viajante ganancioso do espaço. Para conquistar o amor da princesa, ele precisa ir até onde a estrela pulsar foi parar e colocá-la em si. Mas uma trapaça faz com que o robô caia na Terra onde, por sorte, ganha a ajuda dos adoráveis Cebolinha, Mônica, Magali, Cascão, Anjinho e Franjinha para voltar ao seu planeta e derrubar o vilão. Com os traços literalmente iguais aos dos gibis, a turminha conquistou mais um espaço de sucesso com uma história leve, bem contada e, além de tudo, com um bom toque de emoção, garantindo diversão e até algumas lágrimas mesmo quando revista hoje em dia. – por Matheus Bonez

 

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Rocky e Hudson (1994)
Uma década antes de dois cowboys gays chegarem ao Oscar pelas mãos do taiwanês Ang Lee em O Segredo de Brokeback Mountain (2005), um brasileiro já havia explorado esse mesmo tema com muito bom humor. Inspirado no galã Rock Hudson – que foi par romântico de estrelas como Elizabeth Taylor e Doris Day e morreu de AIDS em 1985, pouco depois de se assumir homossexual – o desenhista Adão Iturrusgarai criou os dois personagens nas histórias em quadrinhos que foram adaptados para a tela grande pelo animador gaúcho Otto Guerra, um dos precursores do gênero no Brasil. Após alguns curtas bastante premiados, ele estreou no formato mais longo justamente com esse trabalho, em um exercício técnico e artístico de pouco mais de uma hora de duração. Esse tempo, no entanto, é mais do que suficiente para divertir o público com piadas nada convencionais e bastante ousadas, enquanto os heróis enfrentam um cientista louco, assaltantes de bancos ou visitam a avó punk de Rocky, que abriu um bar e está decidida a viajar com a dupla sem destino certo. O humor politicamente incorreto percorre toda a trama, deixando claro que os estereótipos aqui usados tinham um único objetivo: serem rompidos. – por Robledo Milani

 

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Cassiopéia (1996)
Este filme brasileiro só não é considerado o primeiro título de animação totalmente digital da história por uma questão de poucos meses. Na verdade, a controvérsia é ainda mais profunda, pois abrange os critérios do que seria inteiramente digital, já que em Toy Story (1995), o detentor oficial do título, pois lançado antes, os moldes para as cabeças dos personagens, por exemplo, foram primeiramente feitos em argila e depois digitalizados, enquanto a realização brazuca parte de modelos totalmente digitais. Embora seja discutível a posição nessa corrida pela inovação que foi se impondo até virar hegemônica, inegável que o filme dirigido por Clovis Pereira é tecnicamente vanguardista. O enredo gira em torno de uma invasão alienígena no planeta Ateneia, que fica dentro da constelação Cassiopeia. Quatro heróis que viajam pelo universo recebem um pedido de ajuda e partem à aventura, ou seja, para socorrer os habitantes acossados pelos indesejados visitantes hostis do espaço. A equipe contou com três diretores de animação e 11 animadores. No elenco de dubladores, nomes conhecidos do grande público, como o ator Osmar Prado, e profissionais de larga experiência na dublagem, como Hermes Barolli, Francisco Bretas e Élcio Sodré. – por Marcelo Müller

 

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Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll (2006)
O chargista Arnaldo Angeli criou nos anos 1980 uma coleção interessante de personagens que ficaram famosos por suas características marcantes de cunho sexual ou psicológicas, senão ambas ao mesmo tempo. Pois em 2006, o cineasta Otto Guerra resolveu levar as figuras popularizadas pela revista Chiclete com Banana para o cinema. Porém, a chegada aos anos 2000 não fez nada bem a Wood, Stock e Rê Bordosa – dublada por Rita Lee, curiosamente, figura em quem Angeli tinha se inspirado para criar a personagem. Longe dos tempos flower power, o trio agora vive em uma época de consumistas e individualismo, em que seus filhos tem vergonha de tê-los como pais e onde sua música já não importa. E entre cigarros de orégano e alguma nudez explícita demais para o público a quem normalmente são voltadas as animações, eles vão tentar fazer um pouco de rock’n roll. Com direito a aparições especiais de Raul Seixas como uma alucinação bem intencionada, e ainda um porco como vocalista, os três vão tentar dar um último – e divertido – fôlego para a sua juventude, enquanto o filme explora as suas decadências bukowskianas.  – por Yuri Correa

 

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Belowars (2007)
A jornada do herói pode ser mais simples do que se imagina, mas nem por isso com poucos obstáculos – especialmente do tempo. A adaptação do romance infantil Guerra Dentro da Gente, do poeta Paulo Leminski, conta a história de Baita, rapaz que quer desde pequeno ser guerreiro. E assim vai continuar tentando ser até a velhice. A animação em sua técnica pode ser simples. Não há 3D, apenas o tradicional 2D, muito limpo, com poucos detalhes nos cenários. Porém, a beleza continua na tela e ela se expande com a metáfora da história, que questiona toda hora a necessidade (?) da guerra e o porquê do rapaz tanto querer saber como ela funciona e, ainda assim, participar disso. O seu treinamento só ajuda (ou atrapalha) neste sentido: com as lições de seu mestre, Baita abandona os pais, trabalha como escravo, trai o professor, mata o companheiro de armas e perde a amada. Tragédia após tragédia para eliminar os sentimentos de sua alma. Mas quando a jornada chega ao fim, será que o desejo se concretiza? O diretor Paulo Munhoz sabe que sua animação pode ter um público infantojuvenil ávido por batalhas, mas sabe que a reflexão pode ser muito mais madura, sabendo dosar discurso e técnica para todas as idades. Animação não muito conhecida, mas que merece segundas e terceiras chances por onde passa. – por Matheus Bonez

 

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Minhocas (2012)
Primeiro longa-metragem stop-motion do Brasil, a animação dirigida por Paolo Conti e Arthur Nunes foi registrada com mais de 600 mil fotografias, um trabalho meticuloso semelhante à ourivesaria vista na construção de personagens e cenários. O roteiro é de Thomas Lapierre, Marcos Bernstein, Melanie Dimantas e Romeu di Sessa. Foram necessários cinco anos de trabalho e um investimento de cerca de R$ 10 milhões, número ínfimo se comparado aos custos de produção de similares estrangeiros. Inspirado no curta-metragem homônimo, o filme acompanha três minhocas, Júnior (11 anos), Linda (12 anos) e Neco (9 anos), que lutam contra a tirania do tatu-bola Big Wig, cuja intenção é construir um império em que sua raça domina as demais. Atributos como coragem, lealdade, amizade e autoestima são valorizados ao longo das aventuras das três minhocas que resistem como podem a uma força aparentemente superior. O filme venceu 11 prêmios no Brasil, incluindo Animamundi e Festival de Gramado, e o prêmio de excelência JVC Tokio Video Festival. Um exemplar totalmente feito em stop-motion como este aponta para a diversidade que tem feito do Brasil um dos países em que o ramo de animação mais cresce. – por Marcelo Müller

 

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Uma História de Amor e Fúria (2013)
Com um projeto original e praticamente inédito no cenário cinematográfico nacional, o diretor Luiz Bolognesi produziu um longa-metragem de animação adulto, que faz poucas – ou nenhuma – concessões ao narrar a história brasileira num espectro de mais de cinco séculos, do descobrimento e início da colonização do país nos anos 1500 até 2096, quando a saga do protagonista dá um novo salto circular, remetendo-nos ao início de tudo. Este personagem é um guerreiro imortal que sobreviveu durante todo esse tempo como um espírito de luta, porém sempre no lado do mais fraco, como ele mesmo admite a certo ponto. Uma História de Amor e Fúria é uma obra digna de uma cinematografia adulta e ambiciosa, e por isso merece ser vista com respeito e curiosidade. Se alguns pontos são assumidamente ingênuos e se a técnica destoa do perfeccionismo hollywoodiano ao qual estamos acostumados, por outro lado há muitos ganhos, principalmente por proporcionar um olhar a nós mesmos, tanto no ontem cheio de falhas quanto em relação ao amanhã que está sendo construído. É um trabalho de grande beleza estética, com um profundo cuidado artístico e, ainda que não seja desprovido de alguns deslizes, se levanta e posiciona diante sua importância. Brasileiro, como todos nós, afinal. – por Robledo Milani

 

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Até que a Sbórnia nos Separe (2013)
Duas são as atrações para os turistas desavisados que visitam Porto Alegre no verão: o pior calor do mundo e o espetáculo Tangos & Tragédias. Criado pelos gaúchos Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, em 1984, o musical enraizou-se de forma definitiva na cultura e no itinerário do Estado. A história trata da epopeia de Kraunus e Plestkaya, músicos refugiados da fictícia Sbórnia, pequeno país ligado ao continente por um istmo. Sem deixar de ser uma bem-vinda homenagem a um ícone cultural do Rio Grande do Sul, a animação de Otto Guerra e Ennio Torresan Jr. tem como proposta recriar a genealogia dos acontecimentos anteriores ao encenado anualmente, conservando a essência artística. O qualificado trabalho de direção de arte de Eloar Guazzelli e Pilar Prado foi fundamental para que Até que a Sbórnia nos Separe sincronizasse habilmente o humor dos personagens originais com a transposição em tela. O ritmo acelerado e o estilo espalhafatoso das ações são escolhas acertadas para o andamento dos traços. O desenho não tem limites, assim como ilimitada é a criatividade dos irrepreensíveis Kraunus e Plestkaya. – por Willian Silveira

 

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O Menino e o Mundo (2014)
Partindo da simplicidade do traço do personagem principal e de uma singela história – sobre um garoto que abandona a fazenda da família e parte para a cidade à procura do pai – o cineasta Alê Abreu cria um universo fascinante para ambientar a poética fábula de seu segundo longa. Ao optar por uma narrativa fantasiosa, espelhando-se na criatividade e no imaginário infantil, Abreu torna seu trabalho atemporal e ainda abre brechas para fazer críticas sociais incisivas sobre o consumismo e a desigualdade de classes. Aliado ao incrível trabalho de composição visual, que faz uso de diversas técnicas de animação (aquarela, giz de cera, lápis pastel e recortes), o cineasta conta também com um cuidadoso estudo sonoro, que inclui uma belíssima trilha musical a cargo de artistas como Naná Vasconcelos, Emicida, Os Barbatuques e GEM – Grupo Experimental de Música, além da utilização do “português ao contrário” como idioma dos raros diálogos da trama. Um artifício que não só torna a experiência ainda mais lúdica, como também sintetiza o resultado final desta animação, que apresenta características e elementos tipicamente brasileiros, mas consegue atingir a todos os tipos de público através da linguagem mais universal que existe: a dos sentimentos. – por Leonardo Ribeiro

 

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As Aventuras do Avião Vermelho (2014)
Inspirado no clássico escrito por Erico Verissimo (autor de O Tempo e o Vento, 2013), As Aventuras do Avião Vermelho completou uma jornada tão ou mais tortuosa para chegar às telas do que a que percorreu há quase um século para ganhar as livrarias. Nascido no interior do Rio Grande do Sul, mais precisamente na cidade de Cruz Alta, em 1905, Erico era um escritor em formação quando escreveu essa pequena história a respeito de um garoto, filho de um pai ausente e viúvo, que usa o poder da imaginação para conhecer mundos possíveis de serem visitados somente através do pensamento. Com uma história enxuta – o roteiro foi escrito a seis mãos, em parceria do co-diretor Frederico Pinto com a produtora Camila Gonzatto e o jornalista Emiliano Urbim – e sem sobras ou deslizes, As Aventuras do Avião Vermelho tem como maior mérito saber exatamente a quem se direciona – às crianças – e assumir essa opção sem ressalvas. Algumas piadas – poucas – até podem ter um duplo sentido, e a dublagem de alguns atores mais conhecidos oferecem um charme a mais ao conjunto, mas em sua essência o que importa é a fantasia e o prazer da descoberta – algo típico das melhores infâncias. – por Robledo Milani

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