Michelangelo Antonioni é um daqueles gênios incompreendidos no mundo da sétima arte. Se, por um lado, foi na contramão do neorrealismo italiano quando começou sua carreira, preferindo filmar histórias da classe média com uma alta dose crítica e atores conhecidos (ao contrário do movimento citado, que investia nos trabalhadores e em elencos amadores), não à toa foi, também, um dos primeiros cineastas da Itália a ter reconhecimento de público fora de seu país.

O diretor, nascido em 29 de setembro de 1912, nos seus 20 e poucos anos teve uma carreira longe das câmeras, mas perto do cinema, começando como crítico. Formado em economia pela Universidade de Bolonha, não demorou mais que cinco anos para largar a máquina de escrever para periódicos e começar seus estudos cinematográficos no Centro Sperimentale di Cinematografia, em 1940. Porém, não durou mais que três meses e teve que largar o curso para se alistar no exército.

Apenas em 1942, já com 30 anos, é que o italiano começou seus trabalhos na sétima arte coescrevendo o roteiro de Un Pilota Ritorna, de Roberto Rossellini e trabalhando como diretor assistente de Enrico Fulchignoni em Máscara de Sangue. Foram anos seguidos trabalhando em documentários sobre a classe trabalhadora até sua grande estreia nos longas de ficção com Crimes da Alma (1950), onde seu estilo com longos planos e poucas palavras já começariam a tomar forma.

O trabalho autoral seria assinado com os longas seguintes como Os Vencidos (1953), sobre jovens delinquentes, As Amigas (1955), um retrato ácido das mulheres de classe, e O Grito (1957), que beirou no neorrealismo ao narrar a história do trabalhador de uma fábrica e sua filha. Foi com a trilogia da modernidade e seus descontentamentos que inclui A Aventura (1960), A Noite (1961) e O Eclipse (1962), que Antonioni seria considerado um verdadeiro autor no cinema. Pelo primeiro filme, levou o prêmio do júri no Festival de Cannes. Os três longas eram estrelados por Mônica Vitti, sua companheira por dez anos.

A carreira internacional se consolidou com Blow-up: Depois Daquele Beijo (1966), primeiro de três filmes realizados fora da Itália e vencedor da Palma de Ouro em Cannes. O longa foi tão bem recebido por público e crítica que Antonioni seria indicado ao Oscar de Melhor Direção e Melhor Roteiro Original por este trabalho no ano seguinte. Porém, seu próximo filme,  Zabriskie Point (1970), uma crítica ao capitalismo americano, não teve a mesma sorte, naufragando nas bilheterias e causando divisão entre os especialistas da área.

O último grande sucesso do cineasta fecharia esta “trilogia americana”. Profissão: Repórter (1975), intenso drama sobre crise de identidade, fez com que Antonioni reconquistasse a carreira mundial, ainda que muitos achem (até hoje) a obra um tanto difícil de compreender, mesmo com um astro do porte de Jack Nicholson no papel principal. Incompreensão que parecia normal nos filmes intimistas do cineasta.

Em 1985, Antonioni sofreu um derrame cerebral e foi parar em uma cadeira de rodas com dificuldades para falar e parcialmente paralisado. Seu penúltimo longa, Além das Nuvens (1995) só conseguiu ser realizado com a ajuda do cineasta alemão Wim Wenders, com quem dividiu os créditos de direção. Em 2004, com a ajuda da esposa, Enrica Fico, conseguiu fazer um documentário sobre a restauração do Moisés de Michelangelo, além de um dos três segmentos do filme Eros (2004), seu último trabalho no cinema que, infelizmente, não agradou.

Após este trabalho, o cineasta se voltou para o campo das artes plásticas com a produção de colagens e móbiles chamada O Silêncio em Cores, obra exposta em Roma em outubro de 2006. Michelangelo Antonioni morreu coincidentemente no mesmo dia que o cineasta sueco Ingmar Bergman, em 30 de julho de 2007. No entanto, seu legado continua vivo e é referência em obras de mestres como Stanley Kubrick e Wim Wenders, devotos fãs do cineasta.

Filme imprescindível: Profissão: Repórter (1975)
Filme esquecível: Zabriskie Point (1970), o segundo de seus três filmes realizados fora da Itália e recebido com frieza por público e crítica.
Maior sucesso de bilheteria: Blow-Up: Depois Daquele Beijo (1966), com 20 milhões de dólares arrecadados em todo o mundo.
Primeiro filme: Crimes da Alma (1950) – ficção; Ragazze in bianco (1949) – documentário.
Último filme: Eros (2004), diretor de um dos três segmentos do filme. Os outros dois foram dirigidos por Wong Kar-Wai e Steven Soderbergh.
Guilty pleasure: O Mistério de Oberwald (1980), um dos mais estranhos de sua carreira, se assim podemos dizer.
Oscar: Foi indicado duas vezes em 1967, como Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original por seu trabalho em Blow-Up: Depois Daquele Beijo (1966). Em 1995, ganhou um Oscar honorário pelo conjunto da obra.
Frase inesquecível: “Atores são como vacas. Você tem que fazê-los atravessarem uma cerca.”

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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