Depois da indicação ao Globo de Ouro de Melhor Animação, Os Boxtrolls (2014) foi também lembrado pelo Oscar. Portanto, reconhecimento de dois dos prêmios norte-americanos mais cobiçados a essa animação inglesa do estúdio Laika (o mesmo de Coraline e o Mundo Secreto, 2009, e ParaNorman, 2012), dirigida por Graham Annable e Anthony Stacchi. Na trama, um órfão criado por estranhas criaturas catadoras de lixo precisa resgatar seus amigos presos por Archibald Snatcher, o vilão da cidade. O visual se destaca, a história contém uma série de elementos propícios tanto à fruição infantil quanto à adulta, mas será que tudo isso resulta num bom filme? Há consideráveis divergências. Aqui no Papo de Cinema isso não é problema, é solução. Para enriquecer o debate acerca de Os Boxtrolls, chamamos à arena do Confronto os críticos Rodrigo de Oliveira, defensor do filme, e Yuri Correa, que parte para o ataque. E você, de que lado está? Confira e não deixe de opinar.

A FAVOR :: “É fácil entender o porquê de terem sido lembrados em vários prêmios, entre eles o Globo de Ouro e o Oscar”, por Rodrigo de Oliveira

Não é para qualquer um realizar uma produção em stop motion. Principalmente em uma época em que as animações estão cada vez mais dependentes dos computadores, filmar quadro a quadro qualquer história que seja parece um desafio imenso. Felizmente, ainda temos cineastas que se aventuram nesta arte tão bela e difícil. É o caso de Graham Annable e Anthony Sacchi, diretores de Os Boxtrolls. O fio condutor da história é muito simples: uma cidade adoradora de queijo é assombrada por monstrinhos que se vestem com caixas de papelão e um sujeito mal encarado tenta livrar a população destas criaturas. Mal sabem eles que os boxstrolls são seres adoráveis e que há muitos anos cuidam de uma criança humana, dada como raptada. A trama, ainda que atraia a criançada pelo humor, é usada como alegoria para a segregação, uma dura crítica à sociedade que pensa apenas em seu bem estar e simplesmente fecha os olhos para figuras que vivem às margens da sociedade. Só por esta mensagem séria, a produção já teria motivos suficientes para existir. Atrelando-se a isso uma direção de arte requintada, um elenco de vozes muito bem escalado, capitaneado por Sir Ben Kingsley, e uma trama realmente cativante, fica fácil entender o porquê de Os Boxtrolls terem sido lembrados em vários prêmios, entre eles o Globo de Ouro e o Oscar.

CONTRA :: “Filme infantil não é igual a filme raso”, por Yuri Correa

Entre os bons atores que emprestaram suas vozes para os personagens de Os Boxtrolls estão Ben Kingsley, Jared Harris, Nick Frost, Toni Collette, Elle Fanning e Simon Pegg. Uma boa preparação do roteiro é feita para se discutir com doçura que todo tipo de família é válido, o que, em um filme voltado para crianças em tempos onde homens como Levy Fidelix ainda podem disseminar seus discursos de ódio em rede nacional sem serem punidos por isso, seria espantosamente admirável. Além disso, o longa é produzido pela Laika Enterteiment, responsável por tornar reais os universos visualmente brilhantes do bom ParaNorman (2012) e do excepcional Coraline e o Mundo Secreto (2009). Entretanto, Os Boxtrolls, apesar de dono de um design de produção digno do currículo da produtora, é ingênuo e, pior, bobo. Fica à margem de todos os assuntos que poderia abordar, acovardando-se, preferindo as piadas fáceis e soluções de roteiro previsíveis. O conceito dos chapéus que definem a colocação social dos cidadãos jamais é explorado, por exemplo. Sem serem óbvias, muitas outras animações já foram bem sucedidas em encantar crianças e adultos simultaneamente. Filme infantil não é igual a filme raso.

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