Estes produtores e suas maravilhosas invenções. Sério, rio sozinho cada vez que sai a informação do “produtor Fulano de Tal” que acabou de comprar os direitos de um jogo de tabuleiro para vertê-lo ao cinema. Hã? Confesso que também tenho vontade de ir a Los Angeles quebrar uma cadeira na cabeça do “produtor Beltrano” que “está tentando reunir time de notáveis profissionais para tirar do papel um filme emocionante sobre o brinquedo que fez muito sucesso na década de 80”. Sério? Mente para mim, e diz que isso não é só para que as empresas de brinquedos, jogos e outros divertimentos, vendam mais e mais, mesmo que o filme derivado seja uma bomba completa?

Não é de hoje que a crise afeta Hollywood, na verdade ela é cíclica, só muda a intensidade com o tempo. Está ainda mais difícil competir com o entretenimento caseiro, proporcionado por equipamentos cada vez mais acessíveis e de qualidade, ou mesmo pela facilidade em realizar downloads. A comodidade de não precisar sair de casa para conferir aquele filme que você tanto espera, sem entrar em filas ou passar por aborrecimentos numa “sessão comentada” por gente que não cala a boca, está fazendo as pessoas deixarem de lado o hábito de ir ao cinema. O encanto da tela grande parece atingir somente os que realmente gostam de cinema, e não apenas de filmes. E até mesmo os cinéfilos mais xiitas tem se regozijado com audiências particulares, por conta da já citada balbúrdia que viraram algumas sessões públicas de cinema.

Então, desesperados, os executivos de Hollywood estão buscando de tudo. Remakes já não satisfazem mais, agora a onda são as franquias e as adaptações de coisas que nunca imaginaríamos base de um filme, como os tais jogos e brinquedos. Alguém pensa em filmes realmente bons, que valham alguma coisa, adaptados de Batalha Naval, Candy Land, Monsterpocalypse, War, Detetive, e LEGO? E olha que esqueci alguns, até já em produção. É claro, o correto seria não criticar estas iniciativas de antemão, pois vai que por algum milagre do santo padroeiro dos produtores e executivos à beira de um ataque de nervos, destas propostas estapafúrdias resulte algum filme bom? Porém, sejamos sinceros. Confiar plenamente em tais intenções seria esperar um prodígio além da compreensão humana, que pretende trazer consigo outro, o da multiplicação dos expectadores. É, o cinema industrial caminha a passos largos para um completo vazio.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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