Por Roberto Cunha*

O quarto dia no festival foi rico em gêneros e estilos, sendo a primeira atração um drama da Competição Oficial (Saint Laurent, 2014). A seguir vieram uma ficção científica pós-apocalíptica com Robert Pattinson (The Rover, 2014), um suspense “canino” (Fehér Isten, 2014), e um drama à italiana (Le Meraviglie, 2014). Veja como foram os destaques da programação!

Equipe de The Rover no tapete vermelho do Festival de Cannes

The Rover (idem, 2014)

: ( Ruim

Super premiado pelo sucesso de Reino Animal (2010), David Michôd criou, escreveu, produziu e dirigiu este projeto que alimentava desde 2007 com o ator Joel Edgerton. Exibido fora da Competição Oficial, o filme teve sua primeira sessão com sala cheia e murmurinho ao final combinando com palmas desanimadas. Isso porque existia a promessa de uma nova – e boa – trama pós-apocalíptica, mas ela sucumbiu a uma “normalidade cinematográfica”.

Ambientado na Austrália, tem como protagonista Eric (Guy Pearce), homem que tem seu carro roubado por três assaltantes. Decidido a recuperar seu automóvel, inicia uma perseguição com o carrão abandonado pelos bandidos e contará ainda com um auxílio e tanto: Henry (Robert Pattinson) o irmão mais novo de um deles, deixado ferido no local do crime. Michôd deixa para revelar o motivo de tamanha obstinação no final e o resultado, para muita gente, não tem pedigree algum.

 

Fehér Isten (2014)

:/ Regular

Filmes sobre revolta dos bichos não é novidade no cinema mundial. Mas quando o animal em questão é o melhor amigo do homem, a mordida é mais embaixo. Por essa razão, White God (título internacional) despertou o interesse da imprensa é do público, que o aplaudiu intensamente após sua primeira exibição no evento, com direito a presença do cachorro-artista e tudo. O húngaro Kornél Mundruczó já foi premiado em Cannes por Delta (2008) com o FIPRESCI (prêmio da Crítica Internacional), e agora tem sua terceira indicação, sendo a primeira na Mostra Um Certo Olhar. O filme, no entanto, começa com uma cena impressionante e termina com outra visualmente forte, mas vai perdendo a força da proposta ao longo da trama.

A jovem Lili (Zsófia Psotta) é filha de pais separados, e quando é levada para passar uma temporada com o pai, carrega consigo seu cachorro de estimação. Só que uma vizinha denuncia a existência dele no prédio, e o pai, estressado com a rebeldia da filhota, abandona o animal na rua, dando início a jornada que o levará a conhecer a falta de carinho e o gosto de sangue. White God não funcionará para um time de cinéfilos e poderá ser um prazer para outros, e, indo mais além, naqueles que verão no título em inglês ecos do cultuado Cão Branco (1982), de Samuel Fuller.

http://www.youtube.com/watch?v=c0M_P_exD1Q

 

Le Meraviglie (2014)

:( Ruim

A chegada da adolescência é um tema rico e universal, já muito explorado no cinema. Por tratar desse ser, digamos, “mutante”, nunca deixa de ser interessante. E como é não é fácil agradar essa turma, ter um deles como elemento central de uma trama com uma pegada bem diferente pode ser um grande risco. Exibido no quarto dia de competição, o drama Le Meraviglie (Itália) teve uma recepção morna em sua primeira sessão para a imprensa, com poucos aplausos ao fim dela. Na história, a jovem Gelsomina (Maria Alexandra Lungu) vive com sua família da produção artesanal de mel, numa remota região da Itália. Ela, a mãe, suas irmãs menores e uma tia vivem sob o olhar atento de um pai controlador, de origem alemã, que não tem o menor interesse no mundo moderno. Até o dia em que a garota se inscreve em um programa de TV cujo prêmio pode mudar a vida deles. Tudo isso, claro, contrariando o desejo paterno.

Escrito e dirigido por Alice Rohrwacher, do premiado Corpo Celeste (2011), Le Meraviglie não é um filme fácil de assimilar. Sua proposta de misturar realidade e fantasia, com toques fellinianos, certamente poderá causar estranheza em boa parte do público. Primeiro porque se trata de um filme pessoal, com elementos que podem fazer sentido para quem tem origem italiana (é o único de lá na competição), e depois porque se a intenção era explorar essa fase da vida com algum tipo de encantamento, isso não acontece. A emoção se perdeu no amontoado de momentos e alguns deles, como os brevemente protagonizados por Monica Bellucci, são constrangedores. Por último, vale lembrar que um outro ponto pode ser levado em consideração pelos jurados: a obra é uma das duas únicas dirigidas por mulheres na competição deste ano. Será?

http://www.youtube.com/watch?v=-AIHVBjHP_Y

*Enviado especial do Papo de Cinema ao Festival de Cannes 2014

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é publicitário, crítico de cinema e editor-executivo da revista Preview. Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, filiada a FIPRESCI - Federação Internacional da Crítica Internacional) e da ABRACCINE - Associação Brasileira dos Críticos de Cinema. Enviado especial do Papo de Cinema ao Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 2014.
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