Este ano as histórias em quadrinhos tomaram conta das telas do cinema. 2011 foi um marco pela quantidade de lançamentos baseadas em gibis. Mas nem tudo são flores. Nem todos os longas foram bem de bilheteria. Ou mesmo os que arrecadaram bons números não tem bilheterias das mais fantásticas, mesmo que alguns dados digam o contrário.

Há poucos dias, o site especializado Box Office Mojo divulgou números sobre o universo cinematográfico da Marvel composto pelos filmes Homem de Ferro, O Incrível Hulk, Homem de Ferro 2, Thor e Capitão América: O Primeiro Vingador. A “franquia Vingadores”, como pode ser chamada, entrou na lista das dez mais rentáveis da história do cinema, com um total acima de 2 bilhões e 200 milhões de dólares arrecadados. Vale lembrar que os filmes que compõem as franquias de X-Men, Homem-Aranha e Quarteto Fantástico não entram na lista, pois não foram lançados pelos Estúdios Marvel, e sim pela Fox e Sony.

Ainda com essa quantia considerável, individualmente os longas lançados especificamente em 2011 não tiveram arrecadações fantásticas. Talvez devido à numerosa quantidade de ofertas em cartaz e a sensação de não terem sido feitos apenas como um bom filme. Em 2000, quando o reboot de HQs no cinema foi marcado pelo lançamento de X-Men, a impressão era outra. Ainda estavam testando o termômetro dos heróis no cinema. A resposta foi positiva, tanto pela qualidade do filme quanto pela bilheteria. Em seguida veio o primeiro Homem-Aranha, que elevou a arrecadação e a crítica. Estava selado o caminho para continuações e novos filmes baseados em gibis, que chegou ao ápice com o lançamento das segundas sequências dos mutantes e do aracnídeo, considerados os melhores das duas franquias. Mas se nesta época ainda havia um receio de como os heróis poderiam ser tratados no cinema, se continuações dariam certo, depois de mais de dez anos, parece que os filmes são feitos sob toque de caixa tendo como maior atrativo “qual vai ser a surpresa para o filme seguinte?”. Não que isto seja ruim. Principalmente para fanáticos por HQs (como eu), as pistas dadas para continuações são divertidas de serem encontradas nos filmes lançados. Mas a questão parece ter banalizado e atingido um ponto crítico.

Entre os mais esperados deste ano, Thor foi o primeiro a estrear, em junho. O filme trata da origem do deus nórdico e de sua chegada à Terra até ser considerado um herói. Bem dirigido, com ótimo elenco e muito divertido. Ponto. Da “mesma franquia”, veio Capitão América: O Primeiro Vingador. Também com boa direção, bem atuado e bem legal. Ponto. Porém, tanto um quanto o outro parecem servir apenas como prelúdio para a grande estreia de 2012, Os Vingadores, que irá reunir os dois heróis ao lado de Homem de Ferro, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro. Parece não ter havido um cuidado maior com a história e com a continuidade, como se via há dez anos.

Aliás, sobre esses dois pontos, outros dois lançamentos muito esperados neste ano também tem seus revés. X-Men: Primeira Classe, talvez tenha sido o melhor de todos em 2011. A história dos mutantes, ligada não só a heroísmo, mas também ao preconceito e como se encaixar na sociedade, tem um apelo maior com o público por essa suposta aproximação com a realidade, com problemas vividos no dia a dia de gente comum (é só trocar a palavra “mutante” por negro, homossexual ou pobre que vocês entendem do que estou falando). Mesmo assim, tendo uma ótima história e um elenco extremamente competente, a impressão que se tem é que devemos desconsiderar boa parte da trilogia original dos mutantes. Não vou entrar em detalhes e especificar cada alteração da história, mas só resta esperar (mais uma vez) pela continuação para saber como outros assuntos serão tratados.

Ainda falando sobre história e continuidade, temos o pior lançamento do ano: Lanterna Verde. E o não é que o filme poderia ter sido salvo? Temos Oa, os guardiões, Killowog, Sinestro, e uma Carol Ferris que dá vontade de ver logo transformada em Safira-Estrela, interpretada tão bem pela Gossip Girl Blake Lively. Mas, para começo de conversa, faltou um Hal Jordan de verdade. Ryan Reynolds tem o tipo físico ideal, mas uma atuação boba e inadequada para um personagem tão denso quanto o principal Lanterna Verde; Killowog virou um sargentão abestalhado que mal começa o treino com o “poozer” humano (denominação dada pelo personagem aos novos lanternas) e já perde a luta; Parallax de força do medo virou um monstro idiota que também é vencido de maneira fácil e sem emoção. Não há referências muito boas aos quadrinhos e o roteiro é um emaranhado de clichês. Não à toa, o filme naufragou nas bilheterias.

Talvez o único filme que, mesmo não sendo fantástico, tenha uma boa proposta e cumpre seu papel seja Conan, O Bárbaro. A história do selvagem cimério cumpre aquilo que todo filme sobre HQs deveria fazer: entreter. Sem esperar demais.

Por falar nisso, agora resta esperar pelos lançamentos do ano que vem: The Amazing Spider Man (mais um reboot de Homem Aranha, após o terceiro filme da trilogia com Tobey Maguire ter sido um fracasso de crítica) e os aguardadíssimos Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (fechando a trilogia do homem morcego) e o já citado Os Vingadores (que pelo pouco apresentado, promete muito, mas desconfio que vá oferecer pouco). Que esses filmes retomem a qualidade que vem se perdendo nos últimos tempos! Ou o futuro dos heróis pode não ser dos melhores nas telonas do cinema.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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