Ela está experimentando um justo revival em sua carreira com o sucesso de Stranger Things. Mas essa atriz norte-americana, nascida em 29 de outubro de 1971, tem muito mais a mostrar ao grande público do que sua intensa participação na série produzida pelo Netflix. Winona Ryder começou bastante jovem sua carreira. Com apenas 15 anos, estrelava a produção adolescente A Inocência do Primeiro Amor (1986), ao lado de Corey Haim, Charlie Sheen e Kerri Green. Isso foi o trampolim para, em 1988, ela estrelar seu primeiro longa com direção de Tim Burton. Em Os Fantasmas se Divertem, ela interpretava uma adolescente gótica que servia de elo entre os mortos vividos por Geena Davis e Alec Baldwin e seus obtusos pais. Em 1990, começaram os papéis de ainda maior destaque. Em Minha Mãe é uma Sereia, foi indicada ao seu primeiro Globo de Ouro. E em Edward Mãos de Tesoura, seu segundo filme com Burton, vivia a protagonista feminina da história. Curiosamente, os dois filmes estrearam no mesmo dia nos Estados Unidos: 14 de dezembro. Os convites começaram a bater na porta da atriz, com trabalhos ao lado de grandes diretores como Francis Ford Coppola (Drácula de Bram Stoker, 1992), Martin Scorsese (A Época da Inocência, 1993 – sua primeira indicação ao Oscar) e Woody Allen (Celebridades, 1998). Sua segunda indicação ao prêmio da Academia se deu em 1995, desta vez como atriz principal, pelo seu trabalho em Adoráveis Mulheres (1994). A década de 1990 terminou com seu elogiado trabalho em Garota Interrompida (1999). A virada do século não trouxe bons momentos para a atriz. Em 2001, ela foi presa por roubo em uma loja na Califórnia e demorou para se recuperar da polêmica. Seu retorno propriamente dito se deu em 2006, ao estrelar O Homem Duplo, de Richard Linklater. No cinema, ela não conseguiu papéis relevantes como outrora, mas participou de ótimos longas-metragens como Star Trek (2009) e Cisne Negro (2010). Com o sucesso de Stranger Things na telinha, é possível que os produtores abram os olhos novamente para o talento da atriz. Afinal de contas, isso é o que não falta no DNA de Winona Ryder. Para comemorar o seu aniversário, a equipe do Papo de Cinema se reuniu para relembrar seus principais trabalhos – e mais um, que merece destaque.

 

edward-maos-de-tesoura-papo-de-cinema-01Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands, 1990)
Na segunda colaboração entre Winona Ryder e Tim Burton – e primeira entre Johnny Depp e o cineasta, o personagem-título é uma espécie de monstro de Frankenstein inacabado; seu “pai”, O Inventor (Vincent Price, em seu último papel) não teve a chance de colocar mãos em sua criatura, deixando-a inexplicavelmente com tesouras no lugar. O mundo que Edward vê é uma versão extravagante, exagerada e particularmente colorida de um subúrbio americano, onde o inocente “monstro” é acolhido por Peg (Dianne Wiest), uma gentil revendedora Avon e sua família. Apesar de atrair a atenção da vizinhança por seu ar misterioso e pela habilidade com a qual consegue cortar cabelos, tosar cães e podar arbustos em formatos ornamentais, o herói desajeitado aos poucos passa a ser visto com maus olhos, tanto por sua ingenuidade quanto pelos inevitáveis acidentes causados pelas tesouras. A única pessoa, entretanto, que parece compreender essa figura tão singular é a bela Kim Boggs (Ryder), filha adolescente de Peg. Winona Ryder aparece como uma personificação de bondade e pureza, destacando-se no universo exagerado e superficial em que está inserida e compondo com Depp um dos pares mais memoráveis do cinema moderno. Um dos melhores exemplos do estilo “burtonesco”, esta história é bela e estranha em partes iguais. – por Marina Paulista

 

minha-mae-e-uma-sereia-papo-de-cinema-11Minha Mãe é uma Sereia (Mermaids, 1990)
Apesar do título original ser apenas “Sereias”, o batismo nacional foi preciso em sua adaptação. Afinal, quem mais faria tal declaração em tom de reclamação senão é a jovem vivida por Winona Ryder, a verdadeira protagonista desta iluminada comédia romântica dirigida por Richard Benjamin a partir do romance de Patty Dann. Ela é a única que destoa de uma família completamente fora dos padrões convencionais. A mãe, interpretada com galhofa por Cher, está atenta aos filhos, ao mesmo tempo em que não descuida de si e da educação libertária em que confia. Já a caçula é uma atrevida Christina Ricci (em sua estreia no cinema), e o namorado materno (Bob Hoskins) é o ar de normalidade que aos poucos vai se contaminando com o espírito da casa. Ryder tenta ser pé no chão, com seus apegos às questões religiosas e temores espirituais, mas basta um vizinho bonitão (o desaparecido Michael Schoeffling, de Gatinhas e Gatões, 1984) se aproximar para que ela passe a rever seus conceitos de modo muito mais efetivo do que todo o esforço das mulheres ao seu redor havia conseguido até então. Atriz de forte peso dramático, aqui Winona mostrou, talvez pela primeira vez, sua capacidade de brincar consigo própria, criando um tipo marcante e divertido. – por Robledo Milani

 

epoca-da-inocencia-poster01A Época da Inocência (The Age of Innocence, 1993)
Relativamente pouco lembrado entre os trabalhos mais bem-sucedidos do diretor Martin Scorsese, este longa-metragem, baseado no livro de Edith Wharton, se passa no ano de 1870, em Nova York, cidade na qual o advogado interpretado por Daniel Day-Lewis cai de amores indevidamente por uma condessa recém-separada, vivida por Michelle Pfeiffer. A impertinência dessa paixão vem do fato dele estar de casamento marcado com a prima dela. A jovem prestes a perder o noivo é o oposto da rival. Winona Ryder, responsável pela construção dessa figura a um fio de sucumbir por conta da obsolescência da aristocracia que ela representa, a despeito da pouca idade, combina com muita inteligência o ar virginal e a dissimulação que convém à personagem para a obtenção de alguma vantagem nessa contenda sentimental. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não ficou indiferente diante do trabalho minucioso de composição, indicando-lhe ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, estatueta que ela acabou perdendo para Anna Paquin, por O Piano (1993). Embora pareça eclipsada pelas presenças intensas de Day-Lewis e Pfeiffer, Winona cumpre com excelência o papel que lhe cabe, o de mostrar que há muito que desvendar sob o véu da aparente elegância que recobre os homens e as mulheres da alta sociedade. – por Marcelo Müller

 

adorc3a1veismulheresAdoráveis Mulheres (Little Women, 1994)
À primeira vista, este filme de época pode parecer mais uma saga de mulheres que vivem à sombra dos homens em meio à Guerra Civil. Porém, a história é exatamente o contrário e um belo retrato feminista da época. Enquanto o marido está envolvido com o conflito norte-americano, a esposa (Susan Sarandon) cuida de tudo em casa, seja da situação financeira pesada à criação de suas quatro filhas. Todas têm personalidades bem desenvolvidas e se destacam, mas o foco principal é na mais intelectualizada de todas, Jo (Winona Ryder). Sonhando em ser escritora, chega a rejeitar um vizinho rico para viver seu sonho, onde se apaixona por um professor. Mas a questão romântica é o que menos interessa para ela, assim como para sua família. Inclusive ela precisa retornar de Nova York após receber a notícia de que uma de suas irmãs está muito doente. Sem estereótipos e com uma presença de tela incrível, Ryder eclipsa os olhares, mesmo com um elenco tão acima da média em cena. Especialmente na cena em que Jo vende seu cabelo para ajudar as outras “adoráveis mulheres” do título nacional. Emocionante na medida e uma de suas melhores atuações numa carreira tão diversificada. – por Matheus Bonez

 

garotainterrompidaGarota, Interrompida (Girl, Interrupted, 1999)
Muitos lembram deste filme de James Mangold por duas coisas: ser uma versão (bem) light de Um Estranho no Ninho (1975) e pela atuação vencedora do Oscar de Angelina Jolie. Porém, o longa é muito mais do que isso. Nos anos 1960, o Hospital Psiquiátrico Claymoore recebia qualquer um que tentasse suicídio e fosse bipolar – especialmente se tinha bastante dinheiro. É o caso de Susanna, personagem de Winona Ryder que sonha em ser escritora, mas tem uma overdose de remédios após uma intensa “dor de cabeça”. Com uma personalidade confusa, ora retraída, ora impulsiva, Ryder transmite todos os espectros da confusão mental em que sua protagonista se encontra, ganhando ainda mais camadas com a ajuda de outras fortes personagens em cena, como a sociopata sedutora – e manipuladora – Lisa (Jolie), e a viciada em laxante e frangos Daisy (Brittany Murphy). Da convivência diária com as outras meninas, os tratamentos abusivos do hospital e a fuga que leva a uma tragédia, a personagem da nossa homenageada vai experimentando mudanças físicas e psicológicas intensas muito bem retratadas por Winona Ryder. Mais um grande papel que, infelizmente, não foi tão elevado na época de lançamento do filme. – por Matheus Bonez

 

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Cisne Negro (Black Swan, 2010)
Desde a primeira cena, este filme hipnotiza o espectador. Em uma sequência onírica, belissimamente coreografada, Nina (Natalie Portman) dança o Cisne Branco e se vê totalmente possuída por um ser negro, plumado e maligno. Um presságio que funciona muito bem como um recado para o público do que está por vir. Darren Aronofsky filma um pesadelo em celuloide, uma história que conta com personagens interessantes, ótimas performances, direção de arte primorosa e música pulsante. Lógico que o longa-metragem tem sua força nas atuações de Portman, vencedora do Oscar, da surpreendente interpretação de Mila Kunis e do ótimo trabalho de Vincent Cassel. Mas Winona Ryder, com pouco tempo em tela, captura a essência de seu personagem como poucos. Ela é Beth, uma bailarina à ponto de ver sua aposentadoria forçada pelo diretor do espetáculo em que atua. Sem saída, a não ser aceitar que a idade chegou, Beth bebe demais e confronta seus adversários – no caso, a novata que pode roubar seu papel e o homem responsável pelas mudanças. O desenrolar trágico dessa trajetória conversa bem com a temática geral do longa-metragem, um lúgubre conto sobre a obsessão em atingir a perfeição. – por Rodrigo de Oliveira

 

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