Nascido no dia primeiro de maior de 1969, Wesley Wales Anderson – ou apenas Wes Anderson, como se tornou internacionalmente conhecido – saiu do interior do Texas para se tornar um dos cineastas mais autorais do cinema moderno. Filho de uma arqueóloga e de um publicitário, dirigiu seu primeiro curta com apenas 25 anos, e desde então tem surpreendido a todos a cada novo trabalho, sempre com um estilo bastante próprio. A simetria de sua fotografia, o estudo das cores, os roteiros bem elaborados, os diálogos precisos e a colaboração de um mesmo grupo de atores que lhe é bastante fiel são algumas das suas características mais marcantes. Indicado seis vezes ao Oscar, já foi premiado nos festivais de Berlim e de Veneza, além de indicado e premiado em países como Inglaterra, França, Brasil, Portugal, Itália e Australia, entre tantos outros, o que só comprova a universalidade de cada um dos seus contos cinematográficos. Em homenagem a esse talento superlativo, no dia do seu aniversário a equipe do Papo de Cinema se reuniu para escolher e comentar seus cinco melhores filmes, além de apontar mais um que merece ser (re)descoberto. Confira!

 

Três é Demais (Rushmore, 1999)
Um garoto às voltas com o primeiro amor é o protagonista do segundo longa-metragem do diretor. Max, interpretado por um jovem Jason Schwartzman, entra para uma escola linha dura e, entre uma prova e outra, apaixona-se pela professora Rosemary, papel de Olivia Williams. Confuso com os assuntos do coração, ele inicia uma amizade com o pai de um de seus colegas, o milionário Herman, vivido por Bill Murray, um dos atores-fetiche de Anderson. As excentricidades de Herman combinam com a visão insólita de mundo de Max, que busca no novo amigo um conselheiro amoroso. Vai tudo muito bem na vida escolar e sentimental, até Max descobrir que Herman também está caído de amores por Rosemary. A trama flerta com produções voltadas ao público adolescente, como as dirigidas por John Hughes nas décadas de 1980, mas já possui a assinatura de Wes Anderson, com seus ângulos milimetricamente localizados, a câmera aérea e os objetos de cena organizados com um primor que beira o transtorno. A paleta de cores, mesmo um pouco mais escura do que as presentes nos trabalhos que viriam na sequência, já apresentam os tons que fariam a marca registrada do diretor, como vermelho, rosa-bebê e azul claro. – por Bianca Zasso

 

Os Excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenenbaums, 2001)
Gene Hackman, Anjelica Huston, Bill Murray, Gwyneth Paltrow, Ben Stiller, Owen Wilson, Luke Wilson e Danny Glover. Se este elenco de peso não fosse suficiente para você ficar com vontade de assistir a este longa-metragem, bastaria incluir mais um nome a esse bolo: Wes Anderson. O cineasta que havia chamado a atenção com a pequena joia Três é Demais (1998), repetia o êxito de sua empreitada passada com mais uma dose de personagens disfuncionais, capricho na direção de arte e olhar milimétrico para enquadramentos assustadoramente proporcionais. As marcas visuais que viemos a destacar e elogiar do cinema de Anderson estavam todas nesta produção. E mais: sua incontestável mão na escrita de personagens nada óbvios criou uma das famílias mais curiosas do cinema deste século. A indicação ao Oscar pelo roteiro original deste filme, dividida com o amigo e ator Owen Wilson, não foi exagerada. Infelizmente, à época, a Academia não abriu os olhos para algo que o Globo de Ouro acertou em cheio: Gene Hackman levou o prêmio de Melhor Ator (em comédia ou musical) por sua performance hilária como o picareta Royal Tenenbaum – o que, tudo indica, tenha sido o último grande personagem do veterano ator. – por Rodrigo de Oliveira

 

A Vida Marinha com Steve Zissou (The Life Aquatic with Steve Zissou, 2004)
O título que traz Bill Murray como protagonista pela primeira vez na filmografia de Wes Anderson pode até não ser uma das obras mais lembradas do diretor. Porém, ela tem uma qualidade acima da média justamente porque, aqui, o cineasta faz a maior autocrítica de sua carreira, ao mesmo tempo que responde à crítica por fazer filmes “sempre iguais” e com uma estética que pode parecer forçada, seja nos enquadramentos ou na sua direção de arte multicolorida. Pois Steve Zissou é um oceanógrafo, mas poderia ser qualquer outro tipo de aventureiro que usa a câmera para registrar seus feitos. Assim como Anderson, o personagem utiliza o mesmo formato em seus documentários, beirando a uma ficção completamente fantástica. E isso é ruim? Muito pelo contrário. Através da metalinguagem, nosso homenageado mostra toda a sua habilidade com a câmera para realizar esta obra quase biográfica, sem nunca esquecer o que é cinema de verdade. Pode ser realidade, mas é também ilusão. E quando as duas coisas se misturam de forma eficiente, o que explode na tela é uma obra singular. Pode até não ser crível, mas com certeza diverte. Melhor ainda, com uma dose de inteligência emocional pouco vista por aí. – por Matheus Bonez

 

Moonrise Kingdom (2012)
Esta é uma história apaixonante sobre crescer e viver o primeiro amor. Talvez o mais doce entre os filmes de Wes Anderson, este longa combina a estética inconfundível e milimetricamente planejada do diretor a um excelente elenco e um olhar carinhoso sobre o amor juvenil. Ambientada numa isolada ilha norte-americana na década de 1960, a narrativa segue dois pré-adolescentes que se correspondem por carta e planejam fugir juntos: Sam (Jared Gilman), órfão e um determinado escoteiro, e Suzy (Kara Hayward), uma garota que tenta escapar de sua família excêntrica mergulhando em livros. A fuga mobiliza os adultos da pequena ilha – Bruce Willis vive um policial, Bill Murray e Frances McDormand interpretam os pais de Suzy, Tilda Swinton é uma representante dos Serviços Sociais, Edward Norton é o líder do grupo de escoteiros de Sam, a lista continua – que tentam encontrar os jovens antes que uma forte tempestade atinja o local. Anderson constrói um universo encantador; há uma atmosfera de fantasia que remete aos livros que Suzy lê avidamente, personagens tristes e engraçados ao mesmo tempo (Bill Murray está no elenco, afinal de contas), uma bela trilha sonora e ótimas performances tanto dos adultos do elenco quanto dos atores mirins. – por Marina Paulista

 

O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, 2014)
Inspirado pelos escritos do austríaco Stefan Zweig, Wes Anderson realizou aquele que talvez seja seu trabalho mais aclamado pela crítica, conquistando, por exemplo, quatro Oscars – além de outras cinco indicações, incluindo Melhor Direção e Melhor Filme. A trama acompanha as aventuras de M. Gustave (Ralph Fiennes), lendário concierge do hotel do título, localizado na fictícia República de Zubrowka, e de seu protegido, o jovem Zero (Tony Revolori). Com a narrativa mesclando diferentes esferas temporais – recontando uma história dentro de uma história dentro de outra história – Anderson cria uma encantadora fábula cômica, carregada de ironia, que eleva a um novo patamar as idiossincrasias de seu universo cinematográfico. Apresentada em um formato de janela reduzido, que dialoga com os primórdios do cinema, a obra exibe toda a sua inventividade estética, através de cenários, figurinos e da exuberante fotografia, obtendo um resultado envolvente e visualmente magnético. Somado a isso, temos ainda a bela trilha sonora de Alexandre Desplat e um dos mais numerosos, e estrelados, elencos da carreira do diretor, com: F. Murray Abraham, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Edward Norton, Jude Law, Bill Murray, Léa Seydoux, Adrien Brody, Tilda Swinton, Tom Wilkinson, Mathieu Amalric, Saoirse Ronan, Owen Wilson e Jason Schwartzman. – por Leonardo Ribeiro

 

+1

 

O Fantástico Sr. Raposo (Fantastic Mr. Fox, 2009)
O talentoso e sagaz Senhor Raposo não só deixou de ser uma fera que rouba galinhas, como também construiu uma sólida e respeitada carreira como colunista de jornal. Este trecho da trama já é suficiente para despertar nosso interesse nessa que talvez seja a mais charmosa e delicadamente obra construída por Wes Anderson. Ao lado dos vizinhos e amigos, Coelho, Texugo e Marsupial, ele é seduzido pela antiga vida de crime quando se muda para a vizinhança de três grandes fazendeiros. Com paciência de um stop-motion bem preparado, Anderson imprime bondade e significância aos seres que vivem à margem da sociedade, traçando dignidade e perspicácia àqueles que menos se espera, além é claro, de contar belos eventos familiares. Na sua visão, não é a riqueza que nivelará a capacidade do seres para sobreviver aos contratempos da vida, afinal. Não por acaso, foi indicado ao Oscar como Melhor Longa de Animação, tendo sido premiado no Festival de Annecy, na França, o mais importante do gênero em todo o mundo. – por Victor Hugo Furtado

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