Ele já foi o rei da Terra Média, par romântico de Sandra Bullock, fez parte do desnecessário remake de Psicose (1998), lutou pelado em uma sauna e até já foi Freud. Facetas não são poucas para exemplificar o talento de Viggo Mortensen e como o astro soube diversificar seus papéis em quase 30 anos de carreira. Engraçado que seu rosto só começou a ficar realmente popular na pele de Aragorn naquele filme sobre anéis e hobbits que nem precisamos dizer qual é. Foi a partir daí também que os bons papéis começaram a pipocar em sua carreira.

Desde então, foram 32 prêmios vencidos, outras 44 indicações (inclusive uma ao Oscar) e o ator parece não querer descansar enquanto mostrar mais de seu talento, com projetos em produção até 2015. No dia 20 de outubro, Viggo Mortensen comemora mais um aniversário. E é claro que a equipe do Papo de Cinema celebra com a escolha de seus cinco melhores trabalhos e mais um que não recebeu a devida atenção na época de lançamento. Confira!

 

O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (The Lord of the Rings: The Returno of the King, 2003)
Por Yuri Correa
Sempre relutantes em premiar nas principais categorias filmes de fantasia, com a trilogia O Senhor dos Anéis, concebida por Peter Jackson, a Academia foi obrigada a ceder e entregou incríveis 17 Oscars para o projeto, divididos entre os 3 filmes. Desses, onze apenas para este terceiro capítulo. De marco em marco que representou, O Retorno do Rei também foi significativo para a carreira do nosso homenageado, que interpreta ninguém menos do que o tal rei do título. Viggo Mortensen ganhou um ponto de referência como ator para ser reconhecido pelo espectador médio: “quem é esse cara?“, “ele é o Aragorn!“. Aquele do discurso épico “mas esse dia não é hoje!” do qual a Internet adora fazer paródias. É um papel daqueles cretinos, um Lawfull Good como os jogadores de RPG gostariam de chamar. Um típico herói incorruptível. Um cliché do qual Viggo salva Aragorn de se tornar através da profundidade melancólica com que preenche o guerreiro. Parte essencial da um projeto que foi ele mesmo também essencial para o desenvolvimento do cinema atual.

 

Marcas da Violência (A History of Violence, 2005)
Por Thomás Boeira
Início da parceria entre Viggo Mortensen e o diretor David Cronenberg (que depois voltariam a trabalhar juntos em Senhores do Crime e Um Método Perigoso), Marcas da Violência traz o ator vivendo Tom Stall, um homem pacato e que vive feliz com sua família na pequena cidade de Millbrook. No entanto, tudo isso muda quando ele mata os assaltantes que tentaram roubar sua lanchonete e assustar seus fregueses, o que é visto como um ato de heroísmo pela maioria das pessoas, mas que traz à tona um possível passado sombrio do personagem na figura de Carl Fogarty (Ed Harris), que demonstra conhecer Tom mais do que ele mesmo pode imaginar. Adaptação da graphic novel de John Wagner e Vince Locke, Marcas da Violência usa sua história para montar um estudo interessante da própria natureza humana, ao mesmo tempo em que retrata a violência de um jeito devidamente chocante e cru. Isso tudo se deve ao modo com Tom age ao longo da trama, ora calmamente ora surpreendente em sua explosão, algo que Mortensen mostra ter controle absoluto, criando um personagem complexo e fascinante em todas suas nuances.

 

Senhores do Crime (Eastern Promises, 2007)
Por Matheus Bonez
Trabalhar com David Cronenberg foi uma das melhores decisões que Viggo Mortensen tomou em sua carreira. Após o brilhante trabalho em Marcas da Violência), o diretor canadense lhe deu um papel ainda mais desafiador e que conseguiu surpreender a todos. Única indicação ao Oscar do astro até então, é muito pouco falar que o ator recebeu a lembrança da Academia por sua performance quase que irracional, nu e bom de briga na cena de luta da sauna. Não, não. Nikolai é personagem muito mais denso que isto. Mortensen não apenas lhe deu sotaque e encarnou a figura do machão (quase) insensível como também o encheu de camadas que não são descobertas nem após alguns de seus segredos serem revelados. É através da figura da enfermeira interpretada por Naomi Watts que o semblante de Nikolai começa a se dissolver, ao mesmo tempo em que ele precisa lidar com o ciúme e (por que não?) paixão enrustida de seu amigo e cria da máfia russa Kirill (Vincent Cassel). Trabalho excepcional de todos os envolvidos, mas Mortensen ainda se destaca pelo impacto que seu personagem traz à trama, que não é pouco.

 

 

A Estrada (The Road, 2009)
Por Rodrigo de Oliveira
Baseado no romance de Cormac McCarthy, tem roteiro assinado por John Penhall e direção de John Hillcoat. Consegue captar com perfeição toda a atmosfera desoladora do livro, sendo totalmente fiel ao seu material de origem. Na trama, um evento cataclísmico eliminou animais, vegetação e boa parte da população do mundo. Neste cenário pós-apocalíptico, um homem (Viggo Mortensen) e seu filho (Kodi Smit-McPhee) viajam por uma estrada nos Estados Unidos tentando chegar ao sul. Seu principal desafio é sobreviver sem provisões, sempre com medo de outras pessoas que possam cruzar seu caminho. Desolador é a palavra certa para resumir este filme. Nunca sabemos o que aconteceu para que a Terra ficasse daquele jeito, mas observamos os terríveis impactos do evento a longo prazo. O destaque fica para Viggo Mortensen, novamente comprovando ser um ator interessante, dando ao homem (os personagens não têm nome) a gravidade esperada para enfrentar aquele momento, mas nunca esquecendo da doçura para com o filho. Ele entende que sua jornada é praticamente uma corrida por ouro de tolo, mas tenta não dividir isso com o garoto, que sempre se preocupa em manter-se no lado correto. Sabendo que está doente e que não viverá por muito tempo, o pai acaba se preocupando em deixar o garoto preparado para enfrentar o mundo sozinho. Mas nada que ele faça poderá deixar o menino pronto para o desafio sobre-humano de sobreviver numa Terra cinza e sem vida.

 

Um Método Perigoso (A Dangerous Method, 2011)
Por Marcelo Müller
Após o sucesso com a trilogia O Senhor dos Anéis, Viggo Mortensen, ao invés de trilhar uma carreira fácil, participar de blockbusters e desfrutar de seu então valor de mercado, resolveu seguir um caminho inverso, aventurando-se em papeis complexos, trabalhando com diretores mais consagrados nos circuitos alternativos que propriamente nas bilheterias. Prova desse direcionamento é seu trabalho em Um Método Perigoso, filme dirigido pelo canadense David Cronenberg, no qual interpreta Sigmund Freud, pai da psicanálise. Mortensen constrói um Freud extremamente persuasivo, confiante, mas ao mesmo tempo temeroso que sua importância evidente seja eclipsada por outros estudiosos, mentor no qual Carl Gustav Jung projeta uma espécie de figura paterna. Ainda que não seja protagonista de Um Método Perigoso (posto de Michael Fassbender, ele que interpreta Jung), Viggo Mortensen é um dos centros vitais da trama, justo em virtude dessa abrangência com a qual vive Freud, sem resvalar na caricatura ou esforçar-se demais para soar “natural”, assim, apenas reinterpretando, segundo sua própria sensibilidade somada à de Cronenberg, um dos grandes personagens da história, do time das pessoas que fizeram evoluir a humanidade.

 

+1

Um Homem Bom (Good, 2008)
Por Robledo Milani
Ainda que tenha nascido em plena Nova Iorque, Viggo Mortensen é um astro, literalmente, do mundo. Ficou famoso em uma megaprodução filmada na Nova Zelândia (você sabe do que estou falando) e frequentemente é visto em filmes feitos argentinos ou em produções europeias. É exatamente o caso deste drama baseado em uma peça de teatro e dirigido pelo brasileiro Vicente Amorim. Aqui ele interpreta um professor alemão de literatura que, nas vésperas da eclosão da Segunda Guerra Mundial, acaba se envolvendo com o Nazismo mais pela contingência das situações em que se viu envolvido do que por uma vontade própria – e essa sua inatividade terá um preço muito alto, principalmente entre aqueles que é mais próximo. Interpretado com competência pelo astro que havia sido recém indicado ao Oscar (por Senhores do Crime, 2007, exatamente um ano antes), Mortensen constrói em seu próprio rosto as marcas dessa indecisão, compartilhando com o público uma insegurança crescente e um sentimento de ausência de conhecimento sobre os fatos ao seu redor, indicando uma grande parcela da população alemã da época. Um trabalho difícil, mas ainda assim realizado com um bom efeito, num filme pequeno que merece ser (re)descoberto!

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