Nicholas Kim Coppola, ou como é mais conhecido, Nicolas Cage, tem a sétima arte no sangue. Sobrinho do diretor Francis Ford Coppola e primo da cineasta Sofia Coppola, extraiu sua famosa alcunha das histórias em quadrinhos do personagem Luke Cage, da Marvel Comics. Começou a carreira como em 1982 no filme Picardias Estudantis, mas só começou a se destacar cinco anos depois em longas premiados, como Arizona Nunca Mais (1987) e Feitiço da Lua (1987). Vencedor do Oscar por sua atuação em Despedida em Las Vegas (1995), Cage tem uma carreira de altos e – muito – baixos. Porém, a intenção aqui não é falar das malfadadas tentativas de sucesso do ator nos últimos anos, e sim homenageá-lo. Afinal, o astro completa nesse dia 7 de janeiro mais um aniversário. E, para comemorar, é claro que a equipe do Papo de Cinema resolveu fazer aquela seleção de seus cinco melhores filmes – e um que merece destaque.

 

Coração Selvagem (Wild at Heart, 1990)
– por Marcelo Müller
Os que têm o coração selvagem lutam por seus sonhos e, sobretudo, não fogem do amor. Ensinamentos da “Bruxa Boa”, entidade alcançada por Sailor (Nicolas Cage) só no ocaso, após ele superar obstáculos (não poucos) para poder, finalmente, declarar sua afeição incondicional por Lula (Laura Dern). Coração Selvagem é o filme desbragadamente romântico de David Lynch, aquele no qual ele trafega com mais sinuosidade entre o bom e o mau gosto para, justamente, e de maneira genial, fazer emergir o caráter até um tanto ingênuo e pueril inerente aos amores idealizados e residentes em nosso imaginário. Coração Selvagem, é road movie, cai na estrada com a dupla perseguida por assassinos e outros vilões. Se comparados ao entorno, repleto de gente estranha como Bobby Peru, Sailor e Lula são o mais próximo da pureza que ainda sobrevive em meio à podridão. Lynch utiliza alusões ao Mágico de Oz (1939), o fogo enquanto catalisador, entre outros símbolos, para ressaltar o trajeto turbulento que o casal percorrerá para, enfim, chegar ao caminho dos tijolos amarelos e fazer triunfar seu amor. Nicolas Cage, vestido com uma icônica jaqueta de couro de cobra, tem em Coração Selvagem uma de suas melhores interpretações.

 

Despedida em Las Vegas (Leaving Las Vegas, 1995)
– por Thomás Boeira
Despedida em Las Vegas traz Nicolas Cage interpretando Ben Sanderson, um roteirista alcoólatra com uma vida miserável e que afastou todas as pessoas que estavam ao seu redor. Em Las Vegas, Ben passa a ter contato com a prostituta Sera, vivida por Elisabeth Shue, e ambos parecem encontrar um no outro uma espécie de calor humano que tanto precisavam em suas vidas solitárias. Dirigido com sensibilidade por Mike Figgis, que traz para a história um tom melancólico que combina perfeitamente com a narrativa, o filme é um romance envolvendo figuras autodestrutivas e tristes, e tanto Cage quanto Shue têm aqui algumas das melhores atuações de suas carreiras, se entregando completamente à natureza de seus personagens (Cage chegou a ficar realmente bêbado para filmar algumas cenas) e desenvolvendo uma química impecável que acaba sendo importantíssima para que o público se importe com a vulnerabilidade deles. Elogiado em seu lançamento, o filme foi indicado a quatro Oscars em 1996: Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado para Figgis, Melhor Atriz para Shue e Melhor Ator para Cage, que saiu vitorioso da premiação.

 

A Outra Face (Face Off, 1997)
– por Rodrigo de Oliveira
A Outra Face parte de uma premissa das mais estapafúrdias: agente da lei troca de rosto com um perigoso bandido em coma para se infiltrar em sua gangue na tentativa de descobrir a localização de uma bomba. O bandido em questão acorda e rouba o rosto do agente da lei, que agora precisa deter o mau caráter utilizando a face do homem que mais odeia. Como uma história dessas conseguiu render um bom filme é matéria de estudo. Mas rendeu. Boa parte da “culpa” do sucesso de A Outra Face reside na dupla principal, divertindo-se horrores com a tarefa. No início, Cage emula os trejeitos de Travolta, fazendo seu Castor Troy um sujeito asquerosamente cool. Enquanto isso, o eterno Tony Manero investe em uma atuação mais sisuda, pé no chão, como Nicolas Cage faria o personagem. No momento em que acontecem as trocas de rosto, cada um segue no seu estilo o resto do filme, num jogo de gato e rato cheio de explosões, tiros e pombos voando em câmera-lenta. Ou seja, uma produção com a marca registrada de John Woo.

 

Adaptação (Adaptation, 2002)
– por Conrado Heoli
Duas das maiores interpretações da carreira de Nicolas Cage estão em Adaptação, excelente produção que Charlie Kaufman e Spike Jonze assinaram juntos depois da magistral parceira em Quero Ser John Malkovich (1999). Cage, que hoje talvez faça mais sucesso como meme do que como ator, apresentou suas mais afiadas e intuitivas performances em Adaptação na pele do próprio Kaufman e de seu suposto irmão gêmeo, Donald. Enquanto sofria para transformar um livro sobre obsessões em roteiro, Charlie decidiu narrar justamente este processo e criou uma das obras mais criativas do cinema norte-americano recente. Ao lado de Cage, Meryl Streep, Tilda Swinton, Brian Cox e Chris Cooper brilham num excepcional elenco, que tornam a experiência com este filme ainda mais singular. Sessão obrigatória para qualquer cinéfilo, ainda mais para os apaixonados por roteiros elaborados, Adaptação vai de exercício metafórico e metalinguístico para uma obra-prima em poucos frames.

 

O Sol de Cada Manhã (The Weather Man, 2005)
– por Yuri Correa
O Sol de Cada Manhã marca um dos últimos projetos admiráveis de Nicolas Cage e que, infelizmente, já data de mais de dez anos atrás. Em sua extensa carreira, o ator já foi dirigido por cineastas de Michael Bay a Werner Herzorg, passando por Martin Scorsese, Oliver Stone, Francis Ford Coppola, David Lynch, Spike Jonze, Ridley Scott, John Woo, Brian De Palma e Joel Schumacher, todos diretores que, para o bem ou para o mal, são conhecidos pelo menos de nome, o que não é o caso deste Gore Verbinski, que não obstante, é um dos melhores realizadores com quem Cage já firmou contrato. Normalmente entregue a tramas de gêneros ecléticos, mas sempre de cunho fantasioso e aventureiro, aqui Verbinski se mostra contido, melancólico e reflexivo num drama que acompanha o jornalista meteorológico David (Cage), pai de dois filhos (o menino interpretado por um então pouco conhecido Nicholas Hoult) com quem não possui muito tato. Ao passo em que tenta criar um vínculo com estes, David recebe a notícia de que seu pai (o ótimo Michael Caine) está para morrer de câncer. É um filme tocante e constantemente amparado numa narração em off do protagonista, que nos transporta para o seu mundo solitário, frio e cinzento, uma composição que só é completa com a performance distante e reflexiva de Cage, cujo olhar quase sempre perdido define este drama intimista, um caso raro na carreira do ator que merece ser conferido.

 

+1

 

Cidade dos Anjos (City of Angels, 1998)
– por Dimas Tadeu
Nicolas Cage sempre foi uma espécie de ator de filmes de ação, um colega para Van Damme e companhia. No entanto, vira e mexe, o ator se envolve em projetos diferentes, talvez para testar seus limites de atuação, talvez para manter sua imagem em voga entre diversos públicos. O fato é que pouca coisa foi tão diferente do seu habitual quanto Cidade dos Anjos, no qual Cage é Seth, um anjo que cai do céu no meio da California e se apaixona por uma médica, vivida por Meg Ryan. É difícil dizer se a cara de embasbacado e sem expressão decorre de uma atuação desastrada ou de uma direção que esperava que o anjo realmente parecesse perdido na Terra. Fato é que, a despeito de tudo isso, o filme virou uma espécie de clássico romântico e segue sendo assistido por apaixonados em todo o mundo. Para muitos, Nicolas Cage sempre será “o cara daquele filme do anjo”. Portanto, um must see do ator.

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