Vencedora de dois Oscars (dentre seis indicações), três Globos de Ouro (dentre 12 indicações), quatro Emmys (dentre 9 indicações) e sete Baftas (dentre 18 indicações + dois troféus honorários), Maggie Smith é, inquestionavelmente, a mais reconhecida das atrizes inglesas em atividade. Nascida no dia 28 de dezembro de 1934, a agora octogenária está, talvez, no auge de sua popularidade, numa fase da vida em que muitos já estão aposentados e sem ânimo para novos desafios. Parar, no entanto, não é com ela. Depois de estrelar como a Professora Minerva a milionária série Harry Potter e conquistar o mundo como a Condessa Viúva do seriado Downton Abbey (2010-2015), Smith vem desfrutando de um momento único em sua carreira, iniciada há mais de sessenta anos em um teleteatro da rede BBC. Desde então, já foram mais de 80 créditos diferentes no cinema e na televisão, e entre trabalhos elogiados e personagens clássicos, como Desdêmona, em Othello (1965) – que, inclusive, lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar – e a Duquesa de York, em Ricardo III (1995), ela também muito se divertiu como Miss Bowers em Morte sobre o Nilo (1978), adaptação de um suspense de Agatha Christie, como a deusa Thetis de Fúria de Titãs (1981), como a apaixonada Wendy de Hook: A Volta do Capitão Gancho (1991) ou como a Madre Superiora de Mudança de Hábito (1992). Por isso que escolher seus cinco trabalhos definitivos na tela grande não foi uma tarefa das mais fáceis, mas com tanta coisa boa incluímos ainda mais uma atuação especial, que merece estar aqui como parte dessa homenagem. Confira!

 

a-primavera-de-uma-solteirona-papo-de-cinemaA Primavera de uma Solteirona (The Prime of Miss Jean Brodie, 1969)
– por Renato Cabral
Baseado no livro de Muriel Spark, esta produção dirigida por Ronald Neame traz Maggie Smith em um de seus mais emblemáticos papéis como Jean Brodie, professora de uma escola para meninas. A problemática do filme começa com o discurso da educadora, que, acreditando estar no auge de sua vida e romances, apresenta um discurso machista, além de um alinhamento fascista, romantizando ditadores como Mussolini e Franco. Dissimulada, Brodie escandaliza a todos com seus ideais retrógrados, e Smith encara a personificação da personagem com uma seriedade ímpar, lhe concedendo um semblante por vezes frio e um olhar calculista. A construção e as nuanças que a inglesa traz são excepcionais e demonstra muito bem a influência de Brodie nas garotas da escola. A excelência em retratar essa difícil personagem rendeu à Maggie Smith diversos prêmios, entre eles o Oscar e o BAFTA de Melhor Atriz, além de uma indicação ao Globo de Ouro.

 

california_suite-papo-de-cinemaCalifornia Suite (1978)
– por Victor Hugo Furtado
A vida imita a arte, ou vice-versa, nesta produção em que Maggie Smith interpreta uma prolífica Atriz de Hollywood que está vivendo o grande período entre a indicação ao Oscar e a noite da cerimônia de entrega do aguardado troféu. Ao lado de totens dramáticos, como Michael Caine e Jane Fonda, e os comediantes Richard Pryor e Bill Cosby, Maggie se mostra à altura de uma das atrizes britânicas mais conceituadas e desenvoltas de sua geração. Na trama, que se passa entre outras três em paralelo, ela é Diana, uma estrela que busca afirmação de seu próprio trabalho, ainda que seus fãs, a imprensa, e até seu marido, Sidney, já a considerem em pleno estrelato. Maggie Smith mostra segurança e sabedoria das lacunas hollywoodianas positivas e negativas em umas das obras mais naturais de sua filmografia. Seu verdadeiro Oscar, de Melhor Atriz Coadjuvante, que esta produção lhe rendeu, foi apenas uma constatação breve de seu trabalho.

 

a-room-with-a-view-poster-papo-de-cinemaUma Janela para o Amor (A Room with a View, 1985)
– por Marcelo Müller
Neste longa-metragem dirigido por James Ivory não é somente a minuciosa reconstituição de época que se encarrega de conferir classicismo ao todo. As atuações são, em boa parte, responsáveis por esse clima tradicional que perpassa a narrativa. Num elenco recheado de nomes estelares, tais como Denholm Elliott, Julian Sands, Simon Callow, Judi Dench, Daniel Day-Lewis e Rupert Graves, Maggie Smith se destaca, roubando as cenas em que se faz presente. A atriz interpreta a prima pobre e mais experiente da personagem de Helena Bonham Carter. Smith saiu-se tão bem que obteve o reconhecimento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, sendo indicada, em 1987, ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, estatueta perdida para Dianne Wiest, pelo igualmente excepcional desempenho em Hannah e Suas Irmãs (1986). Na condição de parenta mais velha, cuja repressão advém da educação severa e da configuração comportamental de tempos avessos à liberdade, principalmente a da mulher, Maggie Smith representa, com a precisão que só um talento como o seu poderia proporcionar, o ideal feminino vigente no começo do século XX que, como bem vemos, por meio dos eventos que circundam a protagonista, já tendia a ruir.

 

gosford-park-papo-de-cinemaAssassinato em Gosford Park (Gosford Park, 2001)
– por Conrado Heoli
Indicada ao Oscar como coadjuvante neste suspense cômico de Robert Altman, Maggie Smith entrega uma interpretação que parece precursora ao seu personagem em Downton Abbey, aqui como uma encantadora e malévola condessa. A atriz exibe sua indissociável destreza na condução das situações e diálogos afiados do roteiro oscarizado de Julian Fellowes, que percorre com humor e inteligência a literatura de Agatha Christie. Em uma casa de campo inglesa no ano de 1932, os herdeiros da família McCordle, seus parentes e amigos desfrutam de um fim de semana idílico enquanto seus empregados os servem e mantém todas as esperadas aparências e códigos sociais da aristocracia britânica. Isso até o patriarca ser assassinado e todos se tornarem suspeitos do crime. Altman tem uma habilidade inegável para conduzir tramas ágeis repletas de personagens, mas em Gosford Park a grande surpresa é sua sintonia com o roteiro sagaz e intrincado de Fellowes. Eles parecem se divertir numa sátira às crueldades casuais e afetações do sistema de classes sociais, ao ponto de que o whodunit acaba em segundo plano – ainda mais quando desfilam em cena um time de atores excepcional e respeitável, no qual Smith entrega mais uma atuação de ouro.

 

a-senhora-da-van-papo-de-cinemaA Senhora da Van (The Lady in the Van, 2015)
– por Matheus Bonez
Poderia ser só um telefilme divertido para passar uma tarde, mas este título tem a presença da grande Maggie Smith para dar maior valor à sua simples história, baseada em fatos reais. Aqui ela é a Miss Sheperd, uma senhora que não se sabe de onde surgiu e acaba estacionando “temporariamente” sua van na garagem do escritor Alan Bennett (Alex Jennings). Foram quinze anos de convivência diária, aqui narradas pelo dono da casa. É esta relação o âmago do filme, mas obviamente que a presença magnética de Smith acaba ofuscando seu companheiro de cena e narrador da história. Com o jeito rabugento, uma educação mais simplória e as intromissões paradoxais em relação à mania de privacidade, a tal senhora da van encontra uma intérprete mais do que perfeita, já que a nossa homenageada parece repetir este papel há anos em diferentes nuances, seja no cinema ou na TV (especialmente na série Downton Abbey). Porém, aqui ela consegue dar frescor ao que poderia ser uma atuação no automático, causando não apenas risadas e emoção, como também um quê de novidade que há muito não se via na atriz. Não à toa suas indicações como atriz no Bafta e no Globo de Ouro.

 

+1

 

harry-potter-e-as-reliquias-da-morte-parte-2-papo-de-cinemaHarry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2, 2011)
– por Yuri Correa
Apesar de ser uma das mais respeitadas e reconhecidas atrizes britânicas (e do mundo) na história do cinema, talvez fosse um pouco difícil apontar na cultura popular um personagem ou filme de Maggie Smith que saltasse à memória de qualquer pessoa na hora. Isso antes da saga Harry Potter. Nela, a nossa homenageada vive a ríspida, porém, justa, corajosa e leal professora Minerva McGonagall. Fruto de uma brincadeira com o estereótipo da mulher inglesa, severa e polida ao extremo, a educadora se mostra através dos filmes do menino bruxo ser muito mais do que isso, e revela um senso de compromisso materno com seus alunos, mesmo aqueles cujas ações despreza. Isso fica claro nesse último capítulo da saga, quando ao identificar um momento de fraqueza de um inimigo, não hesita em atacá-lo e defender seus estudantes. Além disso, demonstra uma energia e bom humor insuspeitos para enfrentar os desafios que a guerra com os Comensais da Morte guardam para os defensores de Hogwarts. Instrumental para o funcionamento da série, Minerva é, sem dúvidas, um destaque na carreira de Smith, mesmo que seu tempo em tela não seja tão longo quanto os de outros conterrâneos tão ilustres quanto ela, o que por si só, já denuncia seu magnetismo.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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