Nascida no interior do Pará e criada em Belém, Dira Paes teve uma infância humilde ao lado dos sete irmãos, mas sempre quis atuar. Ela teve a sorte e o talento necessários para ficar à frente de 500 candidatas quando surgiu a oportunidade de atuar em A Floresta das Esmeraldas, de John Boorman, produção norte-americana que selecionou atrizes sem experiência. Ela estrelou o filme e sua carreira só decolou desde então. Mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a fazer vários filmes até ser contratada pela Rede Globo para atuar em novelas. Desde então alterna seus papeis televisivos com o as telonas. Vencedora de 20 estatuetas e indicada a outras sete, só no cinema, a atriz é uma das intérpretes brasileiras mais premiadas em festivais do país. No dia 30 de junho ela completa mais um aniversário e é claro que a equipe do Papo de Cinema comemora com cinco de seus melhores trabalhos e mais um que merece menção honrosa. Confira!

 

O Casamento de Louise (2001)
Nesta deliciosa comédia de Betse de Paula, Dira Paes entrega uma performance divertida, tocante e não menos profunda, apesar da leveza do tema. Ela é Luiza, empregada da casa de Louise (Silvia Buarque), violonista da Orquestra Sinfônica de Brasília. Além de morarem na mesma casa, fazem aniversário no mesmo dia e estão sempre com problemas com os ex. O conflito entre as duas se estabelece quando Louise convida o maestro Helstrom (Mark Hopkins) para almoçar e, assim, conquistá-lo. Só que ele se encanta por Lúcia. Ao mesmo tempo, Bugre (Marcos Palmeira), ex-namorado de Luiza, e Flávio (Murilo Grossi), ex-marido de Louise, resolvem aparecer também. Entre os muitos troféus do longa, por este papel, Paes ganhou os prêmios de Melhor Atriz dos festivais de Cuiabá e Natal, além de ter sido indicada na mesma categoria no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Um reconhecimento justo devido à sua caracterização totalmente humana e não menos engraçada que ela confere à sua personagem. – por Matheus Bonez

 

Noite de São João (2003)
Afirmar que Dira Paes é uma das atrizes mais versáteis do atual cenário artístico nacional chega a ser redundante. Afinal, nascida no Pará, ela já atuou de norte a sul, entregando seu talento à serviço do cinema feito em São Paulo e Rio de Janeiro, em Pernambuco e Minas Gerais, na Bahia e na Amazônia. E um dos estados onde ela tem frequentado com maior desenvoltura, sem dúvida alguma, é o Rio Grande do Sul. Após de trabalhar no épico Anahy de las Misiones (1997), ela voltou a se reunir com o diretor Sergio Silva nesta versão gauchesca do romance Senhorita Júlia, do sueco August Strindberg. Ao aparecer como a cozinheira que vê seu noivo ser cortejado pela patroa da casa, Paes consegue com o pouco que lhe é oferecido uma gama de emoções bastante variada, mostrando que para os bons intérpretes tudo precisa ser resolvido antes internamente, para, enfim, atingir o exterior. Por este desempenho ela ganhou o kikito de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Gramado (o primeiro dos três que soma até o momento), além de ter sido indicada na mesma categoria no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – o Oscar nacional. – por

 

2 Filhos de Francisco (2005)
Era muito fácil torcer o nariz e não se interessar pelo que Breno Silveira tentava fazer nesta história a respeito de Zezé Di Camargo e Luciano. Afinal de contas, música sertaneja não é do gosto de todos e acompanhar a trajetória da dupla poderia ser uma experiência amarga para os não-fãs. Felizmente, o cineasta conseguiu – com muito talento – tecer aquela trama de forma bastante cativante, conseguindo alcançar até o público que tem ojeriza a canções como “É o Amor” e outras desta vertente. Além de um roteiro bem costurado, o acerto está no elenco. A dupla mirim que abre o filme está muito bem dirigida e os atores mais veteranos como Ângelo Antônio (o Francisco do título) e Dira Paes (Helena, a mãe) conquistam pela luta pela sobrevivência. Em uma das cenas mais tocantes, as crianças choram de fome em um período de dinheiro curto. Helena não vê o que fazer e pede para os filhos dormirem, pois assim a fome passaria. É um retrato pesaroso da pobreza, que conseguiu ser suplantado com o talento da futura dupla para a música sertaneja. Por sua atuação, Dira Paes recebeu diversos louros e foi indicada ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. – por Rodrigo de Oliveira

 

Baixio das Bestas (2006)
Este é um filme forte, repleto de visceralidade e violência. O diretor Cláudio Assis mostra as estranhezas de um Brasil agrário, no qual, por exemplo, uma jovem de 16 anos é explorada sexualmente por seu avô, para o deleite de caminhoneiros e outros voyeurs interessados na nudez casta da menina que ainda ensaia tornar-se mulher. Imersa na Zona da Mata pernambucana, onde o discurso moralista do idoso explorador não encontra ecos em suas ações desavergonhadas e moralmente reprováveis, Dira Paes interpreta Dora, uma prostituta, ou seja, outra mulher que está ali apenas para servir aos caprichos masculinos. A despeito da fama e do status adquiridos com o sucesso nas novelas em que participou, Dira se joga de cabeça nessa personagem que faz do próprio corpo um templo provisório aos outros, a fim de subsistir. Ela não aparece em mais do que quatro ou cinco cenas, mas deixa sua marca, sobretudo quando alvo da violência dos agroboys vividos por Matheus Nachtergaele e Caio Blat. Atriz de presença forte e de uma beleza brejeira essencialmente brasileira, Dira Paes personifica com brutalidade neste filme o sofrimento da mulher vilipendiada diariamente, seja física ou psicologicamente. – por Marcelo Müller

 

À Beira do Caminho (2012)
Para Dira Paes, foram necessárias nove indicações anteriores para que, enfim, a justiça fosse feita. Isso no caso do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Pois, após ter sido reconhecida com troféus e homenagens nos festivais de Gramado, Brasília, Ceará, Cuiabá e Natal, faltava-lhe ainda essa vitória na premiação máxima do cinema nacional. Isso até o lançamento deste drama de estrada dirigido por Breno Silveira, que lhe valeu a cobiçada estatueta de Melhor Atriz. No papel da mulher ideal com quem o caminhoneiro interpretado por João Miguel sonha durante suas andanças pelo país, ela não chega a ter muito tempo em cena, mas sua presença é tão marcante para o espectador quanto é na memória do protagonista. Ela representa o amor perfeito, a paixão que foi deixada para trás, o afeto que talvez só possa ser recuperado com muito esforço, a motivação que faz o personagem principal seguir seu caminho e, quem sabe, retornar assim que sua jornada termine. Por este trabalho, Dira Paes foi também premiada, mas como Atriz Coadjuvante, no Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro, em sua terceira conquista (uma das poucas intérpretes nacionais a alcançar este feito). – por

 

+1

 

Os Amigos (2012)
Entre incursões documentais, como o excelente São Silvestre (2013), a diretora Lina Chamie tem nesta ficção uma delicada obra sobre o peso da perda e, é claro, sobre a amizade. A trama gira em torno de Téo (Marco Ricca) arquiteto solitário que acaba de retornar do funeral de um amigo de infância, experiência que faz o personagem refletir sobre seu passado e sobre os rumos de sua vida. Em meio a lembranças da juventude e a tarefa de comprar um presente para o filho da amiga, Majú (Dira Paes), Chamie transforma a jornada de Téo em uma pequena Odisseia, referência apresentada literalmente pela cineasta ao intercalar a narrativa principal com cenas de uma montagem teatral infantil do texto de Homero. Todos os elementos são tratados com extrema sensibilidade, mas é mesmo na relação de Téo e Majú que o filme encontra sua força. A amiga é o porto seguro do arquiteto, com quem ele divide os momentos mais íntimos: medos, dores e alegrias. E essa interação funciona graças ao ótimo trabalho de Ricca e a presença fundamental de Dira Paes, que com a naturalidade de sua atuação é capaz de transmitir o sentimento de uma amizade verdadeira. – por Leonardo Ribeiro

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