Ao lado de Sidney Poitier, Denzel Washington é um dos maiores e mais conhecidos atores negros da história do cinema. Filho de um pastor de uma esteticista, o astro largou a faculdade de jornalismo para se dedicar às artes cênicas, para a alegria de todos os seus fãs que comemoram quando um filme seu é lançado. Um Grito de Liberdade (1987) foi sua estreia nas seis indicações ao Oscar que recebeu até o momento. Não apenas ganhou duas estatuetas como também já levou outros 70 prêmios e 134 indicações. Currículo mais do que forte para comprovar seu talento ilimitado. Alternando filmes de ação com dramas intensos, mas nunca sem qualidade em suas atuações, Washington é um dos intérpretes mais confiáveis quando se junta retorno de  público e crítica. No dia 28 de dezembro o astro comemora mais um aniversário. Ocasião perfeita para a equipe do Papo de Cinema lembrar de seus cinco melhores trabalhos – e mais um especial. Confira!

 

 

Malcolm X (1992)
– por Robledo Milani
Logo após se consagrar com o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Tempo de Glória (1989) – sua segunda indicação, pois havia concorrido antes, na mesma categoria, por Um Grito de Liberdade (1987) – Denzel Washington decidiu assumir aquele que talvez tenha sido o maior desafio de sua carreira: encarar nas telas o líder negro Malcolm X na cinebiografia homônima. Para ficar responsável pela direção, o convocado foi um antigo parceiro, o igualmente celebrado – ao menos na época – Spike Lee, com quem havia feito Mais e Melhores Blues (1990). O resultado foi um filme com mais de 3 horas de duração e poderosíssimo, que provocou polêmicas por onde foi exibido e conseguiu cumprir seu papel ao fazer jus à personalidade conturbada do retratado. Washington se entregou de corpo e alma ao projeto, revelando um perfeccionismo impressionante. Como consequência, foi indicado ao Oscar como Melhor Ator (a obra concorreu ainda como Melhor Figurino) e ganhou o Urso de Prata como Melhor Intérprete Masculino no Festival de Berlim, reconhecimento que obteve também junto aos críticos de Kansas, Boston, Chicago e Nova York, entre outros. Surpreendeu também o bom resultado nas bilheterias: quase US$ 50 milhões arrecadados, o melhor desempenho de qualquer filme de Lee ou Washington até aquele momento. Ou seja, depois deste trabalho, a consagração não só era junto à crítica, mas também com o público.

 

Hurricane: O Furacão (The Hurricane, 1999)
– por Thomás Boeira
Rubin “Hurricane” Carter era um boxeador que veio a ser preso na década de 60 por um crime que não cometeu, ficando quase 20 anos encarcerado até seu caso ser finalmente reaberto. Com uma história como essa, é claro que ele poderia render uma cinebiografia interessante, e foi o que aconteceu sob a direção do renomado Norman Jewison. Trata-se de uma produção que, mesmo dando toques ficcionais a determinados elementos da história do lutador, consegue trazer com propriedade a força do material que tem em mãos. Boa parte disso se deve a atuação de Denzel Washington, que encarna Rubin Carter com grande intensidade, algo que ele diminui à medida em que os anos passam para seu personagem, já que aos poucos ele se vê tendo que aceitar a ideia de que ficará o resto de sua vida atrás das grades. É uma das grandes atuações da belíssima carreira de Washington, tendo lhe rendido uma indicação ao Oscar de Melhor Ator em 2000 (o ano de Beleza Americana e, claro, Kevin Spacey). É uma história e uma interpretação que não são esquecidas facilmente.

 

Dia de Treinamento (Training Day, 2001)
– por Marcelo Müller
O filme acompanha a primeira jornada nas ruas do policial da divisão de narcóticos Jake Hoyt (Ethan Hawke), ele que almeja combater a violência na convulsionada Los Angeles. Seu condutor nessa incursão prática inicial é o veterano corrupto interpretado por Denzel Washington. De cara, há choque entre o idealismo daquele que procura servir de fato a lei e a malandragem do agente totalmente integrado com os procedimentos da marginalidade, uma vez desiludido com os oficiais. Segundo ele, seguir o protocolo é estar em desvantagem, à mercê da morte. Portanto, se não pode vencê-los, junte-se a eles. Mas há outras camadas ocultas debaixo dessa dinâmica que opõe os policiais e suas visões de mundo. Washington desempenha aqui um de seus melhores papéis. Alonzo Harris está sempre no limite da explosão, pronto para matar e morrer, se for o caso. A irascibilidade dele é extrema, fruto de uma composição precisa de personagem que acaba eclipsando muitas vezes o próprio filme. Tem-se, portanto, um filme bom, com eficiente roteiro e direção, mas dificilmente seria tão lembrado sem o trabalho excepcional de Denzel Washington.

 

O Voo (Flight, 2012)
– por Yuri Correa
Este filme marcou a volta de Robert Zemeckis à direção de longas live action depois de doze anos dedicados a animações – ainda que fossem animações live action. E o cineasta demonstra ainda saber lidar com as limitações de uma câmera de verdade em um espaço físico real. De seus enquadramentos que sempre privilegiam o protagonista em posicionamento e tamanho em relação aos outros personagens, ressaltando o seu egocentrismo, até a condução dramática que, mesmo colocando seu clímax de ação no início do filme, ainda consegue manter o pique nas mais de duas horas restantes, Zemeckis prova que ainda tem em si o diretor de filmes como Contato (1997) e De Volta para o Futuro (1985). Mas aqui é Denzel Washington quem personifica esta cuidadosa construção como o piloto Whip Whitaker, um alcoólatra prepotente que chega a se afirmar como um deus por ter conseguido realizar uma manobra que salvou centenas de pessoas em um incidente pelo qual é julgado durante todo o filme. Zemeckis também não deixa pra menos e reincidentemente o associa a símbolos religiosos enquanto o roteiro de John Gatins cria situações como o julgamento final onde Whip faz daquilo seu próprio AA. Merecidamente, o nosso homenageado ganhou mais uma indicação ao Oscar pelo papel.

 

Um Limite Entre Nós (Fences, 2016)
– por Robledo Milani
Este filme é importante na carreira de Denzel Washington por mais de um motivo. Primeiro, porque é o único dessa lista que o astro apareceu não apenas à frente, mas também atrás das câmeras – é o terceiro longa de sua filmografia como realizador, após Voltando a Viver (2002) e O Grande Debate (2007), e o mais bem-sucedido dos três. Depois, porque Washington tem um apreço tão grande pela história que a levou antes aos palcos, na Broadway, em 2010, lhe valendo o Tony de Melhor Ator – e ele também foi o diretor da montagem. E, por fim, porque marca o início de um ambicioso projeto do artista: adaptar para o cinema todas as dez peças escritas por August Wilson, uma das grandes vozes negras dos Estados Unidos no século XX (a segunda, A Voz Suprema do Blues, 2020, foi lançada diretamente na Netflix). Como Troy Maxson, um pai de família que sempre trabalhou duro para cuidar da esposa e dos filhos, Washington receber a sexta (e sétima) indicação ao Oscar das oito que conta até o momento (ele concorreu duplamente, como Melhor Ator e como Melhor Filme, pois é também produtor do projeto). Além disso, ganhou o prêmio de melhor intérprete masculino do ano no Sindicato dos Atores (SAG Awards) e concorreu ao Globo de Ouro e ao Critics Choice, entre outras dezenas de premiações.

 

+1

 

Tempo de Glória (Glory, 1989)
– por Matheus Bonez
Não é qualquer astro que pode se dar ao luxo de ter um filme que lhe valeu um Oscar como uma dica “extra” nessa lista, não é mesmo? Pois bem, vamos lá. Acredito que seja chover no molhado os motivos que levaram à Guerra Civil Americana, mas é interessante notar a ótica da batalha neste filme. Se durante aquela época apenas 19 dos 34 estados americanos haviam abolido a escravatura, as forças da União tinham negros em suas tropas. Algo que sucedeu, especialmente, pela falta de homens alistados e pelas muitas perdas que já tinham ocorrido. Neste contexto, é mais notável ainda que, excluindo seu ufanismo, este seja um exemplar longa do gênero que mostra todo o contexto não apenas na frente de batalha, mas também em seus bastidores. Com isso, o rebelde Trip, interpretado pelo nosso homenageado, é um divisor de águas na história, já que seu jeito desconfiado bate de frente com muitos, inclusive evocando o preconceito latente que ainda existia mesmo em quem defendia as ideias de Abraham Lincoln. E Denzel Washington rouba a cena toda vez em que aparece com uma atuação incrível que eleva o status do longa ainda mais. Não à toa foi premiado com o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Prêmio mais do que merecido e que só alavancaria ainda mais sua carreira.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar

avatar

Últimos artigos de (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *