Se estivesse viva, Audrey Hepburn estaria completando mais um aniversário neste 4 de maio. A eterna bonequinha de luxo é referência ainda hoje não apenas por sua carreira cinematográfica, mas também por lançar tendências na moda que servem de inspiração até hoje. Seu papel mais icônico, o da prostituta que gostava de tomar seu café da manhã em frente à Tiffany’s, está estampado em vários produtos dentro e fora da mídia, que vão de camisetas, quadros e até outros utensílios para casa, além de servir de inspiração para outros filmes, desenhos animados e até histórias em quadrinhos.

Indicada cinco vezes ao Oscar, levou o prêmio de Melhor Atriz para casa por A Princesa e o Plebeu (1954), seu primeiro papel de destaque. Em 1993, ano de sua morte, a intérprete belga recebeu postumamente o Prêmio Humanitário Jean Hersholt por sua contribuição como Embaixatriz da UNICEF. A beleza, a classe, o talento e a solidariedade de Audrey tomam conta do mundo até hoje. Por isto, nada mais justo que celebrar a diva das telas com a escolha de seus cinco melhores filmes – e mais um especial que merece ser (re)descoberto, é claro.

 

A Princesa e o Plebeu (The Roman Holiday, 1953), por Robledo Milani

E quem vem agora?” “A senhorita Hepburn.” “Quem? Katherine?” “Não, uma outra. Audrey é o nome dela.” Segundo a lenda, foi esse o diálogo que ocorreu entre o famoso estilista Hubert Givenchy e sua secretária, instantes antes dele conhecer a novata Audrey Hepburn. Desse encontro nasceu uma das mais frutíferas parcerias do mundo da moda e do cinema. E tudo começou porque a estreante em Hollywood precisava de um vestido para a festa do Oscar, premiação a qual ela havia sido indicada pela primeira vez por seu papel como protagonista de A Princesa e o Plebeu, um conto de fadas que refletia na tela o que também acontecia na vida real da atriz. Filmado em belas locações em Roma e ao lado de um dos maiores astros da época (Gregory Peck), este filme foi determinante para a consagração de Audrey como uma das divas imortais da sétima arte. Vencedora do Oscar de Melhor Atriz, Audrey ganhou ainda o Globo de Ouro, o BAFTA e o prêmio dos críticos de Nova York. Indícios que marcaram o início espetacular de uma das melhores atrizes de todos os tempos e que comprovam a força dessa encantadora história de amor em que o plebeu, ainda que malandro e cheio de segundas intenções, consegue fazer a coisa certa e, no final, é conquistado, assim como todos nós do lado de cá da tela, por uma princesa mais do que legítima. Um sonho que começava a se tornar realidade.

 

Sabrina (idem, 1954), por Pedro Henrique Gomes

Há poucas coisas, hoje consideradas clichês no vocabulário crítico, que ainda valem a pena investir em alguns casos específicos. No que diz respeito à Sabrina, filme de Billy Wilder, podemos falar em doçura. Mas vale um adendo: é doçura de uma força impugnante, que não se conforma em meramente ser uma perfomance de alguns rostos (William Holden, Humphrey Bogart) conhecidos, mas quer explorá-los e colocá-los em contradição. A partir da protagonista interpretada por Audrey, Wilder retira da fraqueza deles coisas que talvez nem tenham tentado exprimir, típico dos grandes intérpretes: quando menos eles próprios esperam revelar, expulsam de si o mistério, o desconhecido, o corpo e o gesto insondável. Audrey se divide em duas para conciliar sua paixão por dois homens. Claramente, já que falamos de um filme de Billy Wilder, ela os domina. Nem poderia ser diferente, pois tem presença, mas também tem espírito: está ali mesmo quando não aparece. Violenta doçura.

 

Cinderela em Paris (Funny Face, 1957), por Renato Cabral

Mais conhecido como o filme no qual Audrey Hepburn realmente canta ou a produção que fez a atriz desistir de estrelar o clássico Gigi (1958), Cinderela em Paris é um grandioso musical. Inicialmente rejeitado pelo seu agente, Hepburn voltou atrás depois de ler o roteiro. O resultado foi uma produção selecionada para o Festival de Cannes de 1975 e o título de um dos grandes musicais da história do cinema. Co-estrelado por Fred Astaire como Dick Avery, um famoso fotógrafo de moda e que trabalha para uma conceituada revista feminina, ele recebe uma missão da editora da publicação: achar um “novo rosto”. É quando esbarra em Jo Stockton (Audrey) uma atendente de livraria onde um ensaio fotográfico iria ocorrer. Com ótimas canções, a intérprete consegue um de seus mais lindos momentos nas telas ao interpretar em uma cena simples, mas tocante “How Long Has This Been Going On?”. Essencial para todos os fãs de musicais e de Audrey Hepburn.

 

Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961), por Marcelo Müller

Audrey Hepburn teve carreira repleta de papeis marcantes, mas nenhum a credenciou com tanta força ao panteão da imortalidade cinematográfica quanto a prostituta Holly, de Bonequinha de Luxo. Ela é bem vestida, toma café em frente à Tiffany e reluta em aceitar a afeição do novo vizinho, um escritor em permanente crise criativa que também “vende” seu corpo em busca de subsistência. Espécie de Cinderela moderna, a garota idealiza vida glamorosa em meio à alta sociedade nova-iorquina, na sua concepção algo só possível quando casar-se com homem rico. Holly prefere ser afetivamente infeliz na riqueza que amada na pobreza. O diretor Blake Edwards soube conduzir com excelência a adaptação do livro de Truman Capote, evitando enquadrar sua personagem moralmente, dotando de compreensão mesmo os anseios mais egoístas. Além disso, a versão cinematográfica de Bonequinha de Luxo guarda um olhar amargo sobre a alta sociedade da época, espécie de oásis objetivado pela protagonista. Sempre bem vestida, Holly entrou para o imaginário coletivo como ícone da moda, mas sua importância para o cinema é tão ou mais significativa.

 

Minha Bela Dama (My Fair Lady, 1964), por Conrado Heoli

Elizabeth Taylor e Julie Andrews muito desejaram, mas quem eternizou Eliza Doolittle nos cinemas foi Audrey Hepburn. Despida de seu glamour habitual para incorporar uma vendedora de flores pobre e mal educada, a bonequinha protagoniza esta adaptação do romance Pigmalião, de George Bernard Shaw, no qual uma simples mulher se torna um desafio pessoal para Henry Higgins, professor de fonética que aposta com um amigo que pode transformá-la numa distinta dama da sociedade. O musical de George Cukor, um pouco longo em suas quase três horas de duração, possui um elenco primoroso, onde Miss Hepburn contracena com Rex Harrison e Stanley Holloway. Ainda que a atriz permaneça inesquecível por seu sotaque forçado e roupas esfarrapadas, assim como pela beleza e sofisticação habituais que apresenta no segundo ato do filme, a intérprete sequer obteve uma das 12 indicações do filme ao Oscar. Em parte porque ela foi dublada pela soprano Mani Nixon, pois os produtores de Minha Bela Dama não julgaram sua voz adequada ao papel. Mesmo assim, os oito prêmios do filme ainda o destacam como um dos maiores musicais norte-americanos de todos os tempos – distinção que a American Film Institute fez questão de ratificar numa lista em 2006.

+1

Infâmia (The Children’s Hour, 1961), por Matheus Bonez

Lançado no mesmo ano que Bonequinha de Luxo, a adaptação da peça de Lillian Hellman acabou eclipsada pelo sucesso do filme baseado na obra de Truman Capote e também por seu conteúdo, como o próprio título sugere, infame para a época. Afinal, a homossexualidade nos anos 1960 estava a anos-luz de ser considerada algo normal para as plateias do mundo inteiro. A trama do polêmico longa gira em torno da acusação que uma aluna de uma escola faz sobre a suposta relação lésbica de duas professoras (Audrey Hepburn e Shirley MacLaine) e como ambas lidam com suas consequências, especialmente após entrarem com um processo por calúnia que cairia nas páginas dos jornais não só da cidade, mas de todo o país. Apesar de estarem em iguais posições em relação às suas soberbas performances, Audrey acaba por chamar mais atenção que sua colega de elenco por se despir da vaidade tão característica de seus outros filmes. Assim, sua beleza natural se alia à força de sua interpretação, garantindo um dos melhores papéis de sua carreira. Uma ousadia para a queridinha do público e que serviria como um dos alicerces para sua fama de diva entre a comunidade gay do planeta.

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