Ele já encarnou heróis da literatura inglesa clássica, o detetive mais conhecido do mundo de Agatha Christie e até o advogado boa praça chefe de Julia Roberts. Nascido na Inglaterra, Albert Finney realizou até hoje 63 produções em quase 60 anos de carreira. De galã dos anos 1960, se tornou um dos mais notórios atores do Reino Unido. Já ganhou 29 prêmios e foi indicado a outros 45 (cinco deles só no Oscar).

Apesar de hoje em dia estar meio sumido ou relegado a coadjuvante de luxo, Finney merece todo o respeito de quem realmente ama cinema, pois alguns de seus personagens marcaram a história da filmografia mundial. E para celebrar seu aniversário no dia 9 de maio, a equipe do Papo de Cinema homenageia o ator e relembra alguns destes grandes papeis. Confira!

 

As Aventuras de Tom Jones (Tom Jones, 1963)
Por Matheus Bonez

Comédia sexual “de época”, As Aventuras de Tom Jones foi um dos filmes mais premiados no ano em que foi lançado. Muito se deve ao diretor Tony Richardson, que, ao invés de enquadramentos e estética convencionais para um longa do gênero, se inspirou nos franceses da nouvelle vague para levar a câmera na mão, entre outros atributos interessantes. A história não é das mais profundas, realmente. O Tom Jones do título é um bastardo que vive em meio à nobreza como um don juan. Fica com qualquer rabo de saia que apareça a sua frente. Isto até, é claro, se apaixonar por Sophie, que não pode ser desposada pelo protagonista por este não ter riquezas. Com um texto irônico e leve sobre as diferenças de classes, o longa diverte, mas especialmente por conta de Albert Finney, que compõe um Tom Jones enérgico, carismático e cheio de charme. Das dez indicações do filme ao Oscar, Finney estreava na festa como um dos candidatos a Melhor Ator. Não levou o ouro, mas o longa faturou quatro prêmios, incluindo Melhor Filme e Direção, atestando o sucesso da produção. E o nosso homenageado alçaria voos cada vez mais altos com tanto destaque.

 

Assassinato no Expresso Oriente (Murder on the Orient Express, 1974)
Por Rodrigo de Oliveira

Sidney Lumet conseguiu um feito digno de elogios em Assassinato no Expresso Oriente. Não abandonou de forma alguma suas características como diretor e, ao mesmo tempo, conseguiu ser bastante fiel ao trabalho de Agatha Christie, a grande dama da literatura de suspense. O britânico Albert Finney dá vida ao astuto detetive belga Hercule Poirot, que está a bordo do trem do título, em direção a Londres, se envolvendo em uma investigação pra lá de intrincada. Um dos passageiros foi brutalmente assassinado durante a viagem e, para descobrir quem o matou, Poirot utiliza toda a sua sapiência no interrogatório dos 12 passageiros do vagão de luxo do Orient Express. O que chama a atenção em Assassinato no Expresso Oriente é o peso do elenco. Não é qualquer diretor que consegue reunir em um mesmo filme nomes como Lauren Bacall, Martin Balsam, Ingrid Bergman, Jacqueline Bisset, Jean-Pierre Cassel, Sean Connery, John Gielgud, Wendy Hiller, Anthony Perkins, Vanessa Redgrave e, claro, Albert Finney. O tempo de tela de cada um varia, mas nenhum tem muito material para trabalhar. Desta forma, cada ator se escora apenas em seu talento para conseguir se destacar. No caso de Finney, ele se mostra inspiradíssimo na composição do personagem, caprichando nos trejeitos do detetive belga, lhe valendo sua segunda indicação ao Oscar. Melhor cena? A que divide com a vencedora do prêmio, Ingrid Bergman – um diálogo que não dura mais de cinco minutos, mas é tão naturalista que nem parece estar no roteiro. Dois monstros em ação em um filme divertido, que tende a despertar o detetive em cada espectador.

 

À Sombra do Vulcão (Under the Volcano, 1984)
Por Matheus Bonez

Um dos últimos filmes da carreira de sucessos de John Huston é também um de seus melhores, assim como do nosso homenageado da semana. Por anos o romance homônimo de Malcolm Lowry, considerado um dos grandes títulos da literatura do século XX, foi tido como infilmável. Por sorte do público e talento dos envolvidos, gerou uma grande obra do cinema. Albert Finney vive o ex-cônsul britânico que, após a traição da esposa, se refugia numa cidadezinha do México que fica, é claro, próxima a um vulcão. O tempo inteiro ele bebe tudo que tenha álcool. E a situação só piora quando a ex-mulher e o meio-irmão reaparecem. O vulcão se transforma em uma metáfora do que está escondido sob os óculos escuros do protagonista. Oportunidade perfeita para Finney alcançar a nota mais alta de sua carreira, transformando seu personagem em algo muito além de um alcóolatra magoado com a vida como estamos tão acostumados a ver em qualquer produção que trate do problema. Foi indicado ao Oscar e não levou. Provavelmente a maior injustiça de sua carreira, pois o trabalho aqui é de exemplo para qualquer ator que queira entender como tornar um personagem tão real e humano.

 

Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento (Erin Brockovich, 2000)
Por Robledo Milani

Albert Finney foi um dos grandes astros do cinema inglês por cerca de três décadas a partir do início dos anos 1960, quando recebeu sua primeira indicação ao Oscar por As Aventuras de Tom Jones (1963). No entanto, desde Ajuste Final (1990), eletrizante thriller assinado pelos irmãos Joel & Ethan Coen, sua carreira parecia estacionada em um ostracismo aparentemente sem volta. Foi preciso um chamado de Steven Soderbergh para atuar ao lado de Julia Roberts neste drama feminista que não só rendeu um esperado Oscar para a atriz, como também a quinta indicação – a primeira como Coadjuvante – ao ator. Por este trabalho, ele concorreu ainda ao Globo de Ouro e ao Bafta, além de ter ganho o prêmio do Sindicato dos Atores, um reconhecimento que tem um significado especial – afinal, é concedido pelos próprios colegas de profissão. Seu personagem neste thriller inspirado em fatos reais reflete também sua própria condição na época: desacreditado por muitos, é o advogado que surgirá ao lado da protagonista em sua busca por justiça contra os grandes, numa batalha de Davi contra Golias que arrecadou mais de US$ 250 milhões nas bilheterias de todo o mundo. Uma volta por cima e tanto!

 

Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (Big Fish, 2003)
Por Marcelo Müller

Em Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, o grande Albert Finney interpreta um contador de histórias em sua fase áurea, já que o tempo transcorrido, a vivência e sua criatividade peculiar lhe dão material suficiente para ser um orador interessante. Tim Burton, diretor cujo apuro visual é bastante característico, dá vida às narrativas de Ed, às reminiscências repletas de floreios desse homem que saiu ainda jovem de sua cidade-natal para dar uma volta ao mundo. O único que não fica extasiado com o Ed contador é seu filho, Will (Billy Crudup). Para se aproximar dele, o personagem de Finney precisará, finalmente, fazer uma separação dolorosa, distinguir realidade e ficção. Assim, Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas possui momentos que caminham paralelos. Se por um lado temos Ed na juventude, interpretado por Ewan McGregor, como protagonista de histórias fantásticas, por outro acompanhamos um drama familiar que opõe o já senhor aventureiro que exagera o passado, quem sabe, para sentir que a vida realmente valeu a pena, e seu filho que necessita da verdade. Albert Finney confere a esse Ed cheio de contradições e questões a resolver, o carisma necessário para que o tenhamos na conta de grande figura.

 

+1
Ajuste Final (Miller’s Crossing, 1990)
Por Thomás Boeira

Sem dúvida um dos melhores filmes dos irmãos Joel & Ethan Coen, Ajuste Final se passa em plena época da Lei Seca, focando os conflitos entre as máfias locais de uma cidade americana. Nisso, Leo O’Bannon (Albert Finney) decide ir contra os conselhos de seu braço-direito Tom Regan (Gabriel Byrne) e proteger o apostador Bernie Bernbaum (John Turturro), depois que seu rival, Johnny Caspar (Joe Polito), marca ele para a morte. E assim tem-se início uma guerra entre os dois grupos criminosos, com Tom tentando manter a paz de alguma forma. Os Coen apresentam em Ajuste Final um mundo de traições e desconfianças, repleto de figuras desprezíveis, onde não há espaço para ingenuidade, covardia e nem mesmo para amizades. Aqui, ninguém pode ficar por baixo, e isso rege boa parte dos atos dos personagens frios e calculistas que guiam a trama. No papel de Leo, Albert Finney brilha ao fazer dele um sujeito cuja autoridade e inteligência são inquestionáveis, sendo que a cena na qual ele escapa de um atentado em sua casa é uma das melhores do filme. É um papel até menor, mas que acaba fazendo jus ao grande talento do ator.

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